Modelos europeu e americano divergem sobre chuvas nos EUA. Quanto chega do que está previsto?

Publicado em 15/06/2021 15:22 e atualizado em 15/06/2021 17:09

O mercado internacional está extremamente sensível ao clima nos Estados Unidos neste momento, como já era esperado. Nesta semana, o foco dos traders está sobre os modelos norte-americanos, mesmo que estes não tenham sido os mais precisos nas últimas semanas, e a pressão sobre os preços vem se intensificando.  No entanto, o ponto-chave das questões climáticas agora será se essas condições irão ou não se confirmar. 

Os mapas abaixo mostram a divergência entre os modelos climáticos norte-americano e europeu para a segunda quinzena de junho, onde é possível notar que o europeu segue mostrando bem menos chuvas para o Corn Belt entre 15 e 30 de junho. 

Os mapas atualizados na tarde desta terça-feira (15) confirmam a chegada e estabelecimento de um padrão de chuvas generalizadas por todo o Cinturão Agrícola, como mostram as imagens abaixo. "Apesar de haver a permanência da seca até o dia 20 de junho, o mercado já entende que as estiagens que duram de 10 a 12 dias em pouco afetam o teto produtivo das culturas em germinação. Em linhas gerais, as atualizações mostram um clima favorável ao desenvolvimento da soja e do milho nos Estados Unidos", explica Matheus Pereira, diretor da Pátria Agronegócios, ao Notícias Agrícolas.

"Temos visto os modelos oficiais do governo norte-americano apontarem para temperaturas mais amenas e boas chuvas, e isso importa e conta muito porque temos registrado dias muito secos, principalmente em Iowa, o principal estado produto de milho dos EUA. Então, temos o mercado bastante sensível, diante deste período crítico de desenvolvimento, a mudanças nos modelos como esta desta semana", explica o chair para o mercado agrícola da Universidade de Illinois, Scott Irwin, em entrevista à agência internacional de notícias Bloomberg. 

Os mapas que mais chamaram a atenção do mercado nos últimos dias são os que prevêem volumes melhores de precipitações, inclusive em Iowa e outros estados que também sofrem com a seca como as Dakotas e Minnesota, entre os dias 22 e 28 de junho. Do mesmo modo, apontam ainda para temperaturas não só mais baixas, como abaixo da média para boa parte do cinturão de produção norte-americano. 

 

Previsão de Chuvas para 22 a 28 de junho nos EUA - Fonte: NOAA

 

Previsão de Temperaturas para 22 a 28 de junho nos EUA - Fonte: NOAA

Em contrapartida, outros modelos, como o europeu, trazem chuvas menos intensas e não tão bem distribuídas para a segunda metade de junho. Os mapas abaixo são do Commodity Weather Group e apontam, na terceira imagem - previsão para o período de 25 a 29 de junho - chuvas dentro da normalidade ou abaixo da média em quase todo Corn Belt, à exceção de uma pequena região entre os estados de Missouri, Illinois e Indiana. 

No mesmo período, as temperaturas devem ficar dentro da normalidade, ainda de acordo com o CWG, como mostram as imagens da sequência. Para o intervalo de 20 a 24 de junho - na segunda imagem - são esperadas temperaturas abaixo da média para partes de Minnesota, Wisconsin e uma pequena parte das Dakotas. 

"Nós realmente dependemos (para entender o caminho a ser trilhado pelos preços) dessas chuvas chegarem ou não. Se recebermos as chuvas como estão previstas em uma semana ou pouco mais do que isso, não vejo o mercado voltando muito rapidamente. E assim, o grande evento, na sequência, será no final do mês quando o USDA traz seus dados de revisão de área", explica Irwin. 

Em uma previsão ainda mais alongada, no período de 30 de junho a 14 de julho, é possível ver pelo mapa da Commodity Weather Group, que as previsões indicam temperaturas dentro da normalidade para a maior parte das regiões, salvo os estados mais a oeste dos Estados Unidos - aqueles destacados em amarelo - e chuvas dentro da média, com exceção das Dakotas. 

"O noroeste do Meio-Oeste americano deverá ser ameaçado pelo tempo seco e as áreas de soja e milho podem sofrer, mas o calor deverá ser mais limitado", explicam os meteorologistas do CWG. 

Os relatos de preocupações com a seca têm sido registrados em todos os estados na região oeste dos Estados Unidos, com uma das piores condições em décadas, como informa uma reportagem da revista Forbes. "Na verdade, eles podem estar enfrentando a pior seca prolongada dos últimos 1.000 anos", informa a publicação internacional.

O mapa atualizado do Drought Monitor - ou o Monitor da Seca - mostra que mais de 90% do oeste norte-americano continua sofrendo com um seca bastante severa. 

"Os agricultores e pecuaristas estão sendo muito afetados pelas condições extremas de seca este ano. A ração para o gado será escassa, por isso será ainda mais pertinente termos o máximo possível de pastagens. Os incêndios florestais seriam gravemente prejudiciais para os agricultores e pecuaristas de Utah", afirma à Forbes o comissão do Departamento de Agricultura e Alimentos do estado, Craig Buttars.

"O USDA anunciou quase 400 condados na parte ocidental do país como áreas de desastre natural devido à seca persistente, incluindo a maioria, senão todos os condados do Arizona, Colorado, Califórnia, Novo México, Nevada e Wyoming. As designações de desastres naturais tornam os produtores e pecuaristas elegíveis para empréstimos de emergência do USDA, que podem permitir que eles substituam equipamentos e gado, se necessário, ou assistência para reorganização financeira", informa Jordan Strickler, articulista da revista internacional, graduado pelo Colégio de Agricultura da Universidade de Kentucky.

CLIMA X VOLATILIDADE

Essa jornada intensamente volátil que o mercado de grãos registra na Bolsa de Chicago tende a continuar e o estabelecimento de um equilíbrio ainda é incerto. "Vai acontecer, sempre acontece. O mercado não fica para sempre em níveis como estes. Os players estão agora tentando entender quando isso vai acontecer. As baixas recentes mostram o quanto é volátil lidar com estas variáveis, embora isso seja 'apenas' uma mudança na previsão climática", afirma o professor da Universidade de Illinois. 

Irwin complementa dizendo que no atual cenário, onde a relação entre oferta e demanda segue muito apertada, e mais a intensa participação dos especuladores nos mercados de commodities agrícolas, "qualquer pequena mudança tem um impacto enorme sobre os preços". 

E mesmo diante das previsões atualizados do modelo norte-americano mostrarem essas chuvas para a segunda metade de junho, há ainda um sentimento no mercado de que essa seca - que ainda é bastante severa no oeste dos Estados Unidos - pode manter alto os preços dos grãos. 

"As condições de seca afetaram uma grande parte dos EUA, especialmente no oeste, onde a seca está firmemente arraigada e não se espera um alívio expressivo no curto prazo. Diante de estoques excepcionalmente apertados e da demanda crescente, cada hectare será fundamental para ajudar a evitar preços de grãos ainda mais altos... (e) a seca de uma estação recente não é um bom presságio para um ano de produção no cinturão. O clima em junho, julho e agosto, o momento crítico para as safras de milho e soja dos EUA, determinará se os agricultores terão uma vitória ou não nesta temporada", afirma um artigo da Farmer Business Network, uma rede independente de agricultores.

Da mesma forma, o diretor da Pátria complementa a análise sobre essa "irracionalidade" que o mercado apresenta naturalmente em momentos como este. "A especulação vai aonde os mapas climáticos para os Estados Unidos estiverem indo, independente da balança em total desequilíbrio entre a oferta e a demanda. Nestes próximos três meses, teremos um mercado em Chicago totalmente direcionado pela percepção de qualidade das lavouras em solo norte-americano", diz Matheus Pereira.

Assim, ele complementa dizendo que "o mercado se torna irracional quando pensamos que mesmo com safras cheias de soja e milho nos Estados Unidos os estoques mundiais de ambos os grãos continuarão apertados? Sim! Entretanto, não há briga contra a especulação, precisamos navegar o mercado, não lutar contra a maré!", conclui. 

SECA X POTENCIAL PRODUTIVO

Os efeitos da seca já começam a ser sentidos em alguns estados, como mostra o recuo do índice das lavouras em boas ou excelentes condições pelo USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) apresentado em seu último boletim semanal de acompanhamento de safras nesta segunda-feira (14). 

No caso do milho, o índice caiu de 72% para 68% na semana, contra 69% de expectativa do mercado. Em 2020, neste período, eram 71%. Em situação regular são 27% das lavouras, contra 23% da semana anterior, e 5% em condições ruins ou muito ruins, mesmo número do boletim passado.

O estado de Iowa foi o que registrou o maior recuo no índice de bom/excelente, o qual caiu de 77% para 63%. Iowa é o maior estado produtor de milho dos EUA, e a baixa é seguida por Minnesota - com 11% - Illinois - com 6% e Wisconsin - com baixa de 5%. 

Condições das lavouras de milho nos EUA - Fonte: StoneX

Sobre a soja, o USDA mostra que o percentual de lavouras em boas ou excelentes condições passou de 67% para 62%, contra 65% das expectativas do mercdo. No ano passado, o total era de 72%. O boletim traz ainda 30% dos campos da oleaginosa em condições regulares, contra 27% da semana anterior e 8% em condições ruins ou muito ruins, contra 6% da semana passada. 

Assim como no milho, Iowa também lidera a baixa no índice de lavouras de soja em boas ou excelentes condições com uma baixa de 12 pontos percentuais, bem como o Mississippi. Arkansas perdeu 11 pontos percentuais e Illinois, 10. 

Condições das lavouras de soja nos EUA - Fonte: StoneX

O phD em agronomia Dr. Michael Cordonnier explica que, na semana passada, algumas áreas que "tiveram a sorte de receber chuvas" sentiram certo alívio depois dias secos e quentes. No entanto, alerta: "estamos somente no meio de junho e os períodos mais críticos de desenvolvimento ainda estão por vir". Para o milho, esse intervalo está mais próximo, e para a soja as atenções devem se reservar para julho e agosto. 

"A camada superficial do solo ficou mais seca na semana passada, com sete estados indicando condições mais úmidas e 10 indicando condições mais secas. Apenas um estado seguiu inalterado. As regiões sul e leste foram as que mais registraram incremento  nos índices de umidade, enquanto a maioria das condições de seca foram encontradas nos estados centrais. Os cinco estados com os solos mais secos são: Dakota do Sul, Iowa, Michigan, Dakota do Norte e Minnesota", epxlica Cordonnier. 

Assim, apertem os cintos senhoras e senhores, porque o mercado climático norte-americano está só começando e as emoções prometidas não devem ser das mais amenas!

Campo em Madera, no estado da Califórnia, mostra os impactos da seca a oeste dos Estados Unidos
Foto: Justin Sullivan/Getty Images

Com informações da Bloomberg, Forbes, Drought Monitor, Commodity Weather Group

Por: Carla Mendes | Instagram @jornalistadasoja
Fonte: Notícias Agrícolas

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