Produtores relatam situação de seca pior que a registrada por monitoramento de março

Publicado em 20/04/2021 11:48 e atualizado em 20/04/2021 14:00
Aprosojas regionais relatam agravamento de déficit hídrico em regiões chave de produção de milho safrinha

A Agência Nacional das Águas (Ana) divulgou no início desta semana o relatório do Monitor de Secas referente ao mês de março. O mapa divulgado chama atenção para importantes áreas produtoras do país, que com a irregularidade das estação chuvosa apontou condições para seca entre fraca até moderada, como em São Paulo, Minas Gerais e Goiás.

Apesar dos dados referentes ao mês de março, pouca coisa mudou nos últimos 20 dias e as condições de seca e previsões climáticas seguem levantando muita preocupação para o milho safrinha. Os dados comprovam que a estação chuvosa foi irregular na maior parte do centro-sul do Brasil. 

De acordo com o mapa, o estado de São Paulo apresenta a condição mais crítica, com seca de intensidade grava ou extrema em todo o estado. No Noroeste de São Paulo, a Ana aponta para seca excepcional. "Isso acabou refletindo em diversos campos, como por exemplo no volume dos reservatórios da capital paulista que estão com índices inferiores ao mesmo período do ano passado", acrescenta a Climatempo. 

Veja o mapa de divulgado pela Ana: 


Fonte: Ana

SÃO PAULO 

Gustavo Chavaglia, presidente da Aprosoja SP, confirma que o cenário segue sendo de muita preocupação, considerando que as últimas chuvas foram registradas entre os dias 15 e 17 no estado, mas de forma muito irregular, sem levar alívio ao produtor. Os modelos meteorológicos apontavam para chuvas neste início de semana, mas que até o momento também não se concretizaram. 

"Previsões não são precisões e acabou que o produtor ficou aguardando chuvas e elas não vieram. Ainda é preocuante sim, São Paulo torce por chuva. Algumas áreas mais adiantadas podem estar já estar salvas, produções plantadas depois da janela depois da janela ideal estão sofrendo muito. Alguns produtores tiveram contemplação de chuvas e outras não, então neste momento é difícil mensurar tudo", afirma. 

Veja fotos de lavouras na região de Franca/SP, que registraram chuvas de 15mm no último final de semana:

O presidente destaca ainda que no centro-norte paulista é importante que chova o mais rápido possível, justamente para levar alívio às lavouras em estágio mais adiantado. "Algumas que foram plantadas mais tarde sofrem, mas se vierem chuvas mais adiante quem sabe poderá responder, mas é díficil, está muito crítica a situação de São Paulo", acrescenta. 

Veja fotos de lavouras em Cândio Mota, mostrando deficiência hídrica e milhos pendoando sem emissão de espiga:

 

Já no sul de São Paulo, o produtor Guilherme Lamb confirma a pausa nas chuvas, mas destaca que o cenário é mais confortável para o produtor que conseguiu fazer o plantio dentro da janela ideal. De acordo com Guilherme, a última chuva na região de Rancharia foi registrada no dia 29 de março. Apesar do período de estiagem, no mês passado, a propriedade chegou chuvas acima da média esperada, com acumulados de 354mm, o que foi suficiente para manter a reserva hídrica do solo em boas condições. 

Alerta, no entanto, que algumas produtoras da região podem estar registrando algum tipo de sofrimento neste momento, mas por plantio fora da janela ideal. "Ainda tem muito produtor que apresenta problema de manejo,e é claro que essa lavoura vai apresentar muito mais problema. O milho está apresentando estresse sim, todo ano ocorre e esse ano deve ter algumas regiões mais afetadas. Existe o estresse e existe a perda de potencial produtivo também. A gente só não sabe é ter certeza o tamanho dos danos exatos", comenta. 

Confira fotos enviadas por Guilherme Lamb:

 

MINAS GERAIS 

Em Minas Gerais, apesar da Ana destacar apenas uma área com condição mais grave, Fábio Salles Meirelles Filho, presidente da Aprosoja MG, afirma que a situação é crítica em todo o estado. "Secou praticamente todo o estado, as últimas chuvas - pontuais - ajudaram, mas não foram suficientes", afirma ao Notícias Agrícolas

O presidente acrescenta que se comparado com a média de chuva dos últimos anos, os volumes não ficaram tão abaixo da média, mas o problema é justamente na distribuição das chuvas, que segue apresentando muita irregularidade. "Tem o volume de chuva, mas muito irregular. Os modelos mostram condição de precipitação para a segunda quinzena de maio, esperamos que se confirmem para aliviar a situação", comenta. 

Em relação aos prejuízos, Fábio comenta que o recuo na produtividade na safrinha 21, mas que ainda é muito cedo para conseguir contabilizar o tamanho da baixa. "Nós temos lavouras em todo tipo de estágio. Há lavouras pendoando, que sentiram mais ainda, tivemos o atraso no plantio e podemos colocar que apenas 10% das lavouras devem apresentar bons resultados", acrescenta. 

GOIÁS 

No estado de Goiás, já previsto pela Aprosoja GO uma queda de 20% na produtividade da safrinha. De acordo com  Adriano Barzotto, presidente da Aprosoja Goiás, 65% do estado fez o plantio muito fora da janela, já começando a safra esperando lavouras apresentando bastante problemas. Todas as regiões enfrentaram uma estiagem de 15 dias no mês de abril e no final de semana foram registrados acumulados entre 10mm e 30mm, volume que alívia a condição, mas ainda não resolve o problema. 

O presidente explica ainda que as lavouras atuais apresentam um desenvolvimento antes do pendoamento, confirmando o um atraso muito significativo. "A partir do dia 26 os modelos começam a indicar uma nova chuva aqui para nós, se ela se confirmar vamos ver se conseguimos chegar a uma produção entre 60 e 70 sacas por hectare, contra as 100 sacas que sempre tivemos na safrinha", comenta. 

Caso as chuvas não se confirmem, já é esperado uma quebra ainda maior na produção do estado. Levando em consideração que a planta nesta fase utiliza cerca de 8mm por dia, o produtor de Goiás precisa entre quatro e cinco dias de chuvas, com precipitação entre 15mm e 20mm para aliviar a situação. 

Veja fotos enviadas pela Aprosoja GO: 

 

RIO GRANDE DO SUL 

No Rio Grande do Sul, estado em que o modelo da Ana aponta para condição de seca entre fraca e moderada, Décio Teixeira, presidente da Aprosoja RS, comenta que o estado recebeu bons volumes para época do ano, mas que micro-regiões ainda apresentam certo déficit hídrico. Apesar do produtor ainda estar finalizando a colheita da soja com uma condição climática favorável, os níveis de abastacimento já levantam certa preocupação. 

"Temos observado que os níveis das barragens estão muito baixos, assim como os níveis dos rios e dos poços artesianos. O perfil de umidade do solo em abril reduziram muito. Estamos aproveitando a boa safra e o bom cenário de preços neste momento, mas claro que já ficamos em alerta para eventual falta de chuvas", comenta. 

Para as culturas de inverno, Décio acrescenta que preocupa se a estação for mais seca do que habitual. "Nós precisamos de um inverno bom, com pouca chuva, mas não sem precipitação. Já tivemos há muito tempo, em outros períodos, trigo que demorou mais de 30 dias para crescer e por isso temos a preocupação. Além, é claro, de torcer para uma seca não voltar com intensidade na primavera", finaliza. 

PREVISÃO PARA OS PRÓXIMOS DIAS 

A atualização mais recente do modelo Cosmo, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), indicam que o retorno das chuvas no centro-sul do Brasil deve acontecer no próximo final de semana. 

De acordo com o modelo, a partir do dia 24, próximo sábado, um novo sistema deve entrar pelo Mato Grosso do Sul, devolvendo a umidade para o estado. A rodada do modelo mostra chuvas entre 20mm e 40mm no sul do Mato Grosso do Sul e também o retorno das chuvas para a faixa oeste da região sul do Brasil.  

Segundo o modelo, a tendência é que o sistema evolua de forma rápida, mantendo a condição de chuva para o Mato Grosso e o avanço de chuvas para o Sudeste do Brasil, incluindo São Paulo, porém com volumes mais baixos. 

Em Minas Gerais, as chuvas devem chegar com mais intensidade apenas no dia 27, próxima terça-feira, com acumulados entre 20mm e 40mm no centro-leste do estado. O Cosmo, no entanto, segue apresentando irregularidade no regime de chuva, condição já esperada para o outono. 

Veja a previsão de precipitação para as próximas 174 horas: 


Fonte: Inmet 
Por: Virgínia Alves
Fonte: Notícias Agrícolas

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