Chuvas insuficientes mantêm agropecuária catarinense em alerta

Publicado em 28/10/2020 16:19
Estiagem atrasa plantio de milho e soja e prejudica pastagens, informa FAESC

A chuva que caiu nesta semana em Santa Catarina não teve o efeito esperado pelo setor agropecuário no Estado. Nas regiões oeste, meio oeste e extremo oeste, as mais prejudicadas, o acumulado dos últimos dias não alcançou 15 milímetros na maior parte dos municípios e no mês de outubro somou apenas 40 milímetros, bem abaixo do normal para o período – entre 180mm a 200mm, de acordo com dados da Epagri/Ciram. O déficit hídrico, segundo o órgão oficial do Estado, já ultrapassa 700 milímetros neste ano.

Segundo a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina (FAESC), a pouca umidade gerada no solo ajudou na germinação das sementes de milho e soja já plantadas e contribuiu para a aplicação de herbicidas e fertilizantes, porém foi insuficiente para assegurar a produção de grãos e melhorar as pastagens para alimentar o gado leiteiro. A água não chegou a penetrar dois centímetros no solo, o que mantém o atraso no plantio do milho e da soja e a preocupação dos produtores.

 “Novamente a estiagem castiga os produtores e a falta de previsão de chuva regular para os próximos meses impactará na redução da produção de milho, de soja e do volume produzido de silagem. Quem já plantou, está com problemas na germinação das sementes e os demais esperam a chuva para poder iniciar o plantio, feito entre setembro e novembro. O maior problema, porém, ainda é o desabastecimento das propriedades rurais. Muitos produtores estão tendo que investir na contratação de caminhões pipa para levar água para os animais e para o consumo humano”, detalha o presidente da FAESC José Zeferino Pedrozo.

Nesta semana, a Secretaria de Estado da Agricultura anunciou a destinação de R$ 3 milhões para apoiar projetos de perfuração de poços, armazenagem e distribuição de água para atividades essenciais das propriedades rurais. Por meio do projeto Água Para Todos, os produtores rurais têm acesso a financiamentos sem juros para perfuração de poços, além da construção de estruturas de armazenagem e distribuição de água. Os recursos são de até R$ 25 mil por pessoa ou até R$ 50 mil para projetos coletivos, que poderão ser restituídos em até 36 meses, com seis meses de carência e sem juros.

“Os recursos são importantes e ajudam, porém não resolvem o grave problema”, alerta o dirigente da FAESC.

EFEITO LA NIÑA

A preocupação do setor é respaldada pelas previsões da Epagri/Ciram. De acordo com o órgão, não há chuvas intensas previstas para novembro e dezembro e o fenômeno La Niña pode se intensificar até maio do ano que vem no Estado, alterando a distribuição de calor, concentração de chuvas e a formação de secas.

“Se isso se confirmar, teremos grandes prejuízos na safra”, grifa Pedrozo.

PRODUÇÃO DE LEITE

Além do atraso no plantio de grãos, a falta de chuva preocupa a produção de leite no Estado. O produtor de Chapecó, José Carlos Araújo, ressalta que a estiagem está secando as pastagens e comprometendo a alimentação dos animais. “Já não tem mais feno, nem grama e o pasto está secando. Tenho duas fontes de água na minha granja, porém uma já secou e a outra está com pouca água. Precisei pedir abastecimento da Prefeitura. A situação está difícil”, afirma Araújo ao contar que está construindo um poço artesiano na propriedade. “O custo gira em torno de R$ 30 mil e o processo de licença ambiental é lento e burocrático”, critica.

O temor do produtor é com os reflexos da estiagem para os próximos meses. “Vai faltar comida para as vacas, porque o milho não está crescendo e, sem previsão de chuva, o volume de silagem será pequeno na colheita em janeiro. Com isso, haverá queda imediata na produção de leite”.

Em Chapecó, a Prefeitura decretou situação de emergência. Em outubro choveu apenas 7,48% do esperado do dia 1º ao dia 20, que era de 168mm. Cerca de 100 famílias do interior estão recebendo água por meio dos caminhões pipa semanalmente. Por dia, são distribuídos aproximadamente 300 mil litros de água no município.

A situação também é crítica para as agroindústrias que estão captando água diretamente do Rio Uruguai. São 69 caminhões pipa e 350 viagens por dia para garantir o abastecimento das unidades produtivas em Chapecó.

Fonte: Faesc

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