RS: Depois da soja, estiagem começa afetar outros setores como leite e produção do trigo

Publicado em 20/04/2020 11:28 e atualizado em 20/04/2020 15:33

Apesar de anteriormente as previsões indicarem que a regularidade das chuvas deveria acontecer com a chegada do Outono e a partir da segunda quinzena de abril, os mapas atualizados mostram outra realidade e as previsões indicam que não apenas o Rio Grande do Sul, mas também Santa Catarina e Paraná devem passar por um novo período de estiagem de, pelo menos, mais dez dias. 

A irregularidade das chuvas ou a falta dela em alguns pontos do Rio Grande do Sul trouxe grandes prejuízos para o produtor de soja do estado, com quebras expressivas na produção e consequentemente também grandes impactos para o caixa do produtor. A falta de chuva de agora em diante também deve acarretar em prejuízos para a produção de leite, desenvolvimento das lavouras de milho, indústria de carnes, prejuízos na palhada de soja e até mesmo para o trigo. 

Segundo José Domingos Lemos Teixeira, coordenador do núcleo da Aprosoja-RS, a seca enfrentada esse ano pelo produtor do RS pode ser considerada a mais creuel da década. Neste momento, segundo Teixeira, o produtor de leite já começa a encontrar dificuldades e já trabalha com cerca de 40% de prejuízo, sem remuneração suficiente para ter lucros com a produção. 

De acordo com a Aprosoja, o estado já começa a desenhar uma baixa na produtividade do leite, tendo em vista que o custo de produção está elevado. "Com o valor do litro de leite hoje, o produtor não consegue nem pagar pelo operacional, a remuneração não está sendo suficiente", destaca. O impacto da falta de chuvas no estado acontece diretamente na vegetação dos pastos e que acaba resultando também em uma acidez maior no leite. 

Falando em pastagem, o cenário também começa a ficar delicado para os produtores de carne bovina que neste período do ano já estariam se programando para fazer a pastagem. Segundo a Aprosoja, a falta de chuva compromete diretamente a qualidade da pastagem, o que também pode resultar em impactos negativos para o bolso desse produtor. 

Depois de enfrentar prejuízos de mais de R$ 2 mil por hectare na safra de soja deste ano, caso a irregularidade de chuvas se confirmem, o produtor também começará a encontrar problemas para a produção de palhada, ou seja, na preparação para a próxima safra. "Precisa de umidade no solo e não tem, está bem abaixo historicamente falando. Ninguém vai jogar uma semente lá correndo o risco de perder", afirma. 

Já para a produção do trigo que deve começar a ser semeado no próximo mês, a Aprosoja destaca que se as previsões se confirmarem, o estado poderá ter um atraso no plantio do grão. De acordo com José a data prevista para iniciar os trabalhos é 25 de maio e isso só acontecerá se as chuvas ficarem mais regulares na região. Ainda de acordo com a Aprosoja, a produção de milho será direcionada este ano com base nos preços e necessidade do mercado. 

Previsão

As previsões da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA) seguem apontando que no período entre o dia 20 e 28 de abril, as chuvas mais expressivas devem continuar sendo registradas no Centro-Norte do país. Segundo o mapa, durante todo o período o Maranhão poderá ter chuvas acima de 125 milímetros de chuvas. No Centro-Oeste continuam previstos grandes acumulados, entre 100 e 125 mm de precipitação. 

Já no período entre 28 de abril e 6 maio, as condições começam a mudar e os volumes podem ficar mais expressivos nos três estados na região sul do país. O NOAA aponta que neste período, podem ser registrados acumulados entre 70 e 90 mm de precipitação. Os modelos apontam ainda que neste período os volumes tendem a serem mais baixos também no Norte do país.  


Fonte: NOAA

Armazenamento hídrico

Os dados de armazenamento hídrico do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) apontam que o volume além de estar abaixo da média conforme explicou a Aprosoja, também é expressivamente mais baixo quando comparado com a região Centro-Norte do Brasil.  "Na maior parte da Região Sul ocorreram volumes de chuvas inferiores a 100 mm, entretanto em algumas localidades do RS apresentaram baixos totais de chuva entre 20 e 40 mm, como foi o caso da parte centro-sul do estado", afirma o Inmet. 

O Instituto destaca ainda que a escassez das chuvas no estado gaúcho está ocorrendo desde dezembro de 2019, e consequentemente, o armazenamento hídrico do solo está abaixo do ideal para o desenvolvimento das lavouras, com valores inferiores a 30%. 

Confira o mapa de Armazenamento hídrico no solo em março de 2020:


Fonte: Inmet 

Dados coletados também pelo Inmet nos últimos 30 dias também mostram que quase não choveu não só no Rio Grande do Sul, mas nos três estados da região do sul país. 

Conforme mostram os mapas, o Rio Grande do Sul registrou apenas 50 milímetros de precipitação no Centro-Norte do estado, sendo a parte oeste ainda mais prejudicada e tendo apenas 30 mm de chuvas acumuladas. Os estados do Paraná e Santa Catarina, não registraram acumulados superior a 70 mm.

Veja o mapa de precipitação acumulada nos últimos 30 dias em todo o Brasil: 


Fonte: Inmet 

 

Por: Virgínia Alves
Fonte: Notícias Agrícolas

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