Commodity Weather Group traz previsões para verão da América do Sul ainda sem sobressaltos
O mercado de commodities agrícolas tem uma relação bastante próxima com as condições climáticas nos principais países produtores e quando o assunto são os grãos, aos poucos, o mercado passa a dividir suas atenções do cenário para a conclusão da safra norte-americana com o plantio na América do Sul.
No Brasil, as condições se mostram um pouco melhores desde o último final de semana, porém, ainda causando problemas pontuais no plantio da safra de soja e preocupando os produtores em relação a uma já ajustada janela para a semeadura do milho safrinha em importantes regiões.
Além disso, como explicou o consultor de mercado Vlamir Brandalizze, da Brandalizze Consulting, o mercado também se atenta à possibilidade de um ligeiro atraso na chegada da nova oferta de soja do Brasil ao mercado, o que traz algum suporte às cotações, mesmo que de forma ainda tímida.
"O plantio deste ano vem um pouco mais lento este ano se comparado ao ano passado (que foi um ano atipicamente rápido para os trabalhos de campo, mas ainda não podemos dizer que é uma safra atrasada, porque tudo ainda está dentro do período recomendado. Então, não terá aquele grande volume de soja chegando entre o fim de janeiro e começo de fevereiro como tivemos no último ano", diz.
Mais do que isso, Brandalizze salienta que a continentalidade de um país como o Brasil impede que uma regularidade de cenários climáticos e, consequentemente, de trabalhos de campo também. E volta a reforçar que os problemas, ao menos por hora, são pontuais e espera que a safra de soja do Brasil fique entre 120 milhões e 130 milhões de toneladas.
"Caminhamos para um ritmo de entrada de chuvas mais lento, um plantio mais lento, ofertando os maiores volumes de soja no final de fevereiro e começo de março. E por isso que a comercialização também acontece de maneira escalonada", diz.
Dessa forma, embora os impactos dessas preocupações no Brasil - e que se estende para algumas outras áreas da América do Sul - ainda não cheguem ao mercado internacional, a evolução das condições de clima chama a atenção dos traders. E não só a América do Sul, mas também as condições esperadas na China e Europa são observadas.
AMÉRICA DO SUL
Um levantamento feito pelo instituto internacional Commodity Weather Group (CWG) com previsões mais alongadas mostram que a seca esperada para o início e meio do verão na América do Sul tem foco no Nordeste do Brasil em áreas de milho e café, bem como destaca ainda um padrão de chuvas de verão podendo agir e contribuir com regiões de milho e soja da Argentina.
Para o período de dezembro a fevereiro, o mapa abaixo do CWG mostra as áreas coloridas de marrom com chuvas abaixo da média e as de verde, com precipitações acima. Há 55% de chances de um período mais úmido no Nordeste do Brasil e 45% de chance de um tempo mais seco neste intervalo.
Já para novembro, o instituto mostra previsões com temperaturas ligeiramente abaixo da média para estados como Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina, partes de Goiás e de Santa Catarina. Para o mesmo mês, são esperadas ainda chuvas abaixo da média para para o norte de Minas, regiões sul de São Paulo, extremo nordeste do Paraná, leste de Santa Catarina, nordeste do Paraná e regiões de Mato Grosso.
Os mapas abaixo ilustram essas condições.
"O extremo oeste da Argentina e o nordeste do Brasil podem ficar ligeiramente mais secos, mas a maior parte das áreas se mostram um pouco mais úmidas se comparadas às previsões anteriores (também como ilustram as imagens acima). Os riscos são de tempo mais seco ao sul do Brasil e mais úmido ao norte", diz o boletim do CWG.
Ainda de acordo com seus especialistas, os pontos mais secos do Brasil pode alcançar até um quarto das áreas de café, mas menos de um quarto das área de milho, soja, e cana-de-açúcar, o que pode permitir um melhor desenvolvimento das plantas durante a primavera no caso dos grãos e da cana.
"Já um padrão de chuvas mais intenso e ativo na Argentina poderia contribuir para o crescimento de lavouras preoces de soja e milho, além de amenizar as perdas sentidas pelo trigo de inverno", afirmam os meteorologistas do CWG.
VERÃO
O Commodity Weather Group espera que o verão na América do Sul se dê sob condições de uma neutralidade climática, sem esperar grandes sobressaltos nas previsões e condições para o período de dezembro a fevereiro.
E assim, o CWG lista alguns pontos de atenção em seu periódico para o verão sul-americano:
- Padrão quente e seco em pelo menos um quarto do nordeste em áreas de soja e milho;
- Cerca de dois terços das áreas de café entre dezembro e janeiro podem inspirar preocupações maiores para o final do verão, com as chuvas-chave de fevereiro podendo impactar o potencial produtivo;
- Tempo um pouco mais quente e seco no norte do Brasil deve favorecer o andamento da colheita, mas também reduz a umidade para o milho safrinha - que já terá uma janela mais estreita de plantio;
- Extremo sul da Argentina pode registrar a maior parte dos problemas climáticos, com chuvas limitadas no verão, principalmente, no nordeste do país
Os mapas abaixo mostram as previsões de chuvas e temperaturas para os meses de dezembro, janeiro, fevereiro e março:
Como explica o diretor da consultoria Cogo Inteligência em Agronegócio, Carlos Cogo, neste momento o mercado de grão ainda reage muito timidamente a todas estas informações, uma vez que nenhuma grande ameaça à nova safra sul-americana aparece no horizonte ainda.
"Temos um cenário de, apesar de todos os atrasos e dos problemas localizados, um cenário de clima favorável no Brasil, e isso pode funcionar ainda como um fator baixista, no médio e longo prazo. Ainda há um risco de estiagem localizado, mas a maior parte das empresas de meteorologia descarta a possibilidade de seca extrema", diz.
Cogo explica ainda que há algum risco ainda para Argentina, Uruguai, Paraguai, estados do Centro-Sul do Brasil, mas ainda assim, reforça, "ninguém projeta seca severa e temos que contar com o clima positivo".
A DIANTE
O analista, porém, fala ainda sobre situações que devem ser observadas mais a frente e que já começam a marcar presença nas análises mais alongadas dos participantes do mercado.
"Estamos em uma fase de neutralidade, saímos de um El Niño, e não temos confirmação de que virá um novo El Niño e um La Niña e assim há duas coisas que temos pela frente que, apesar de ainda não serem concretas, serão instrumento de trabalho: a primeira é que está pintando uma safra recorde no Brasil e, provavelmente na América do Sul - que colabora com 55% da oferta global e isso é baixista para o mercado. Em segundo, mas não menos importante, para 2020, ao contrário de 2019, está pintando um clima normal para o plantio da nova safra americana (...) e se o plantio americano sai dentro do período correto, isso é baixista para o mercado no segundo trimestre de 2020", analisa Carlos Cogo.