Previsões mostram mais chuvas fortes nos EUA e grãos podem subir em Chicago
A primavera continua sendo um grande desafio para a safra 2019/20 dos Estados Unidos. O plantio dos grãos passa por um dos atrasos mais severos dos últimos 30 anos e nos próximos dias ainda são esperadas muitas chuvas, principalmente neste final de semana. Confirmadas essas condições, a reação dos preços na Bolsa de Chicago deve continuar expressivamente.
"Fundamentalmente, o clima vai continuar ditando as regras no curto prazo. Caso a previsão climática a ser atualizada neste fim de semana traga excesso de chuva para os próximos 10 dias, nós poderemos ver uma alta de 20-30 centavos no milho e 30-50 centavos na soja na CBOT", acredita o analista e diretor da ARC Mercosul, Tarso Veloso. Na soja, as questões da guerra comercial e as últimas declarações da China de que não se interessa mais em negociar com Donald Trump no curto prazo pesam e podem limitar o avanço dos futuros no mercado norte-americano.
Com isso, o boletim semanal de acompanhamento de safra que o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) traz na próxima segunda-feira, 20, pode trazer números ainda bem distantes do normal para esta época do ano, abaixo dos registros de 2018 e da média dos últimos cinco anos.
As últimas previsões mostram que as próximas duas semanas poderão ser bastante úmidas para quase todo o país. Algumas áreas mais ao norte do Meio-Oeste poderiam receber mais de 75 mm de chuvas. Em alguns outros estados, os acumulados podem chegar aos 100 mm.
As condições são bastante irregulares neste momento no Corn Belt. "O estado de Iowa registrou um calor de mais de 30ºC nesta semana, enquanto um produtor de Fargo - na Dakota do Norte - ainda relata algumas geadas em sua propriedade nesta quinta-feira, prejudicando seus trabalhos de campo. No leste do cinturão, produtores ainda sofrem com os solos muitos úmidos. Do Colorado, um produtor relata que o leste do estado está muito seco", explica o analista sênior do portal internacional Farm Futures, Bryce Knorr.
Ele explica ainda que os produtores nos EUA têm afirmado, diferentemente de alguns outros anos, que os números do USDA sobre o progresso do plantio no país têm sido bastante fieis nesta temporada ao que está acontecendo efetivamente nos campos.
Até o último domingo (12), os EUA tinham somente 30% da área plantada, contra a média plurianual para esse período de 66%. Em 2018, nesse mesmo intervalo, a semeadura já havia sido concluída em 59%. No caso da soja, o último número foi de9% da área no país. No ano passado, a área plantada já era de 32% e a média dos últimos cinco anos é de 29%.
O Drought Monitor, um serviço da agência oficial de clima do governo norte-americano, indica que a seca é praticamente inexistente nos EUA este ano, com apenas 2,53% do território americano com solos secos neste momento. "Temos um recorde de 'baixa' dos últimos 20 anos no Drought Monitor, que foi de 2,285 do território há três semanas", disse à Bloomberg Brad Rippey, meteorologista do USDA, direto de Washington.
DATA LIMITE
Enquanto as chuvas continuam chegando ao Corn Belt, os produtores americanos correm contra o tempo para avançar como podem com o plantio e lutam, principalmente, com as datas limite para o cultivo da soja e do milho. E assim, o que o mercado espera para entender agora é como ficará a área efetivamente plantada nos EUA.
Para o milho, os problemas são mais graves neste momento, já que este final de semana é um "prazo final" para a semeadura. Em alguns locais, inclusive, essa janela já se encerrou há alguns dias.
Para a soja, esse prazo se estende para o intervalo de 10 a 15 de junho nas principais regiões produtoras.
"O plantio aqui nos Estados Unidos segue atrasado. Os impactos já são visíveis, principalmente na qualidade de germinação. Além do mais, produtores estadunidenses agora se veem pressionados pelas datas limites de plantio, seguindo a adesão no seguro de safra", explica o diretor da ARC Mercosul, Tarso Veloso, direto de Chicago.
PREVENT PLANT
Com o tempo ruim, as previsões desanimadoras e o tempo curto, a adesão do produtor americano ao programa do Prevent Plant pode ser uma das mais altas dos últimos anos. "Se não a maior delas", disse Veloso. E esta poderia ser, segundo explicam especialistas internacionais, a opção mais viável para muitos agricultores nos EUA este ano.
E para aderirem ao seguro, os produtores precisam respeitar as datas de plantio do milho e da soja.
O prazo para aderir ao programa do Prevent Plant, é de 28 de junho para o milho e 13 de julho para a soja.
"Os produtores este ano estão muito mais dispostos a optar pelo seguro do Prevent Plant. Recebo ligações de produtores de todo o país e isso está, definitivamente, mais forte do que no ano passado. As próximas três semanas serão decisivas para o produtor fazer sua estratégia. Se os preços continuarem como estão veremos muitos evitando o plantio do milho", diz Jamie Wasemiller, analista de mercado do Gulke Group e especialista em seguro agrícola.
E são essas decisões que ajudarão a direcionar o andamento das cotações na Bolsa de Chicago, uma vez que deixarão claro para os traders as opções dos produtores americanos sobre optar pelo Prevent Plant ou migrar parte de sua área para soja. Ou, deixar até mesmo uma área da oleaginosa sem ser semeada.