Clima atrasa plantio nos EUA, mas ainda não ameaça potencial da nova safra
As influências do clima no Meio-Oeste americano deverão começar a ganhar mais espaço no andamento dos preços dos grãos no mercado internacional a partir de agora e trazer mais volatilidade ao mercado. É importante lembrar,no entanto, que a nova safra dos Estados Unidos começa em um cenário de oferta e demanda completamente diferente dos últimos anos, principalmente no caso da soja.
Neste momento, os trabalhos de campo estão atrasados no Corn Belt diante das adversidades climáticas registradas nas últimas semanas, principalmente no final de março. O excesso de umidade ainda é um problema para muitos produtores em regiões que receberam elevados acumulados de chuvas ou que sofreram com as inundações causadas pelas cheias dos rios, além das grandes camadas de neve derrentendo nas proximidades.
"Atrasos são reais hoje, indiscutivelmente, mas não trazem grande preocupação agora", explica Matheus Pereira, diretor da ARC Mercosul.
E essa "pouca preocupação" se dá diante de previsões que mostram um quadro consideravelmente melhor para os períodos determinantes tanto da oleaginosa, como também do milho. "Este é só o início de uma longa jornada ainda. Temos 40 dias de janela ideal para o milho e de 60 dias para a soja. E há projeções de céu aberto e temperaturas mais quentes no começo de maio no cinturão", completa Pereira.
Ainda assim, esse pequeno intervalo será momento de atenção. "Até o próximo fim de semana o tempo deve permanecer mais estável, com temperaturas amenas e poucas chuvas projetadas para os próximos dias. Porém, já no início de maio as chuvas intensas devem retornar ao Cinturão Agrícola norte-americano, reintroduzindo condições de saturação hídrica em alguns pontos e diminuindo o ritmo de plantio nestas localidades", diz a previsão da ARC.
Fonte: ARC Mercosul
Do NOAA, o serviço oficial de clima dos EUA, partem informações de que uma nova frente se move pelo centro dos EUA nesta quarta-feira, levando chuvas do meio do Texas ao meio de Indiana. E na próxima semana, mais alguns sistemas que também estão previstos deverão manter o Corn Belt e o Delta ainda bastante úmidos, como ilustra o mapa a seguir.
São esperados, para os próximos sete dias, elevados volumes para estados como Iowa, Missouri, Wisconsin, Minnesota e partes do Kansas.
Chuvas nos próximos 7 dias nos EUA - Fonte: NOAA
Nas previsões para o intervalo dos próximos 6 a 10 dias, também do NOAA, o que mais anima os produtores são as temperaturas um pouco mais altas, podendo até mesmo ficar ligeiramente acima da média para o período.
Neste período, porém, ainda há chances de chuvas acima da média para as regiões produtoras norte-americanas.
E a situação é semelhante no intervalo seguinte das previsões do NOAA, de 8 a 14 dias.
Temperaturas previstas para os EUA nos próximos 8 a 14 dias
Chuvas previstas para os EUA nos próximos 8 a 14 dias
Ao se observar um pouco mais adiante, as previsões divergem em alguns pontos quando se trata de clima nos EUA. Entretanto, ainda segundo Matheus Pereira, no presente momento as perspectivas ainda são favoráveis para o período de desenvolvimento da soja e dos grãos.
"O chefe meteorológico da AgResource, Scott Yuknis é bem específico ao dizer que as leituras mostram um verão saudável para a safra dos Estados Unidos", diz.
Impactos reais
Como as lavouras norte-americanas sentirão efetivamente essas condições ainda é bastante cedo para se definir, uma vez que como explicou a ARC Mercosul, o caminho é longo ainda tanto para o milho, quanto para a soja. Ainda assim, o mercado especula sobre problemas e usa modelos comparativos para entender qual será o caminho feito pela safra 2019/20 dos EUA.
Para a soja, por exemplo, o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) trabalha com uma produtividade conservadora - de 55 sacas por hectare, na opinião do analista de mercado Marcos Araújo, da Agrinvest Commodities. Afinal, a média dos últimos anos é de 57,12 e o recorde foi de 58,3 sacas por hectare.
E como se sabe, todas essas confirmações se darão em um outro cenário de oferta e demanda. "Mesmo com uma redução de 7% na produtividade americnaa e se a demanda aumentar em 4 milhões de toneladas, os estoques americanos caíriam de 22 para algo como 14 milhões de toneladas, que ainda é um estoque/uso confortável de 12%", explica Araújo.
Do mesmo modo, a consultoria internacional Allendale, Inc. fez comparativos sobre os impactos do atraso no plantio do milho com as perdas potenciais de rendimento. O relatório mensal de oferta e demanda de maio foi utilizado como base, bem como o semanal de acompanhamento de safras que o antecede.
Quando nesta data o USDA vê o plantio do milho concluído em 50% ou algo acima disso, poucos ajustes são feitos nas estimativas de produtividade do cereal no reporte mensal. Caso feitos, são para menos Da mesma forma, quando os trabalhos de campo estão concluídos em 65% ou acima disso, as projeções para o rendimento podem ser maiores.
Fonte: Allendale, Inc.
A atual estimativa do USDA é de 184,11 sacas por hectare. E o novo relatório mensal de oferta e demanda será divulgado no próximo 10 de maio pelo departamento.
Como explicam os especialistas da Allendale, mesmo que haja alguma perda de produtividade, os estoques finais de milho da nova temporada ainda são esperados maiores do que os da safra atual, devido a perspectivas de uma demanda também limitada. "E assim, não se espera uma mudança na situação atual do mercado do milho no curto e médio prazo. Pelo menos por maio e começo de junho ainda teremos um mercado baixista", diz a consultoria internacional.