Chuvas estancam perdas na soja no Brasil e favorecem safras de milho e algodão
Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) - Chuvas recentes e previsões de continuidade de boas precipitações até pelo menos o início de março, em importantes regiões produtoras, servirão para ao menos estabilizar as perdas registradas na safra de soja do Brasil em 2018/19, segundo especialistas.
Uma pesquisa da Reuters nesta semana apontou uma redução na safra deste ano para 114,6 milhões de toneladas, na média de 12 especialistas, uma redução de quase 5 milhões de toneladas na comparação com o recorde da temporada passada.
Mas a safra tinha potencial para superar 120 milhões de toneladas, com um crescimento de área, não fosse o tempo seco e quente em dezembro e janeiro.
Os volumes de chuva serão relevantes no Rio Grande do Sul, Paraná e Estados da região do Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) nos próximos dez dias, e muitas partes dessas áreas com safra ainda precisando de água terão precipitações acima da média, de acordo com dados do Refinitiv Eikon, da Thomson Reuters.
"Essas chuvas dão uma estancada (nas perdas)", disse o analista Fernando Muraro, da Agência Rural, lembrando que algumas áreas do oeste da Bahia foram muito prejudicadas com a estiagem em janeiro.
"Muito irregular, a irregularidade é a marca dessa safra", acrescentou, referindo-se às produtividades, que têm variado muito em áreas relativamente próximas, em função da falta de homogeneidade das precipitações.
No Paraná, Estado que talvez tenha sido aquele com maiores perdas, as chuvas esperadas não farão diferença para as regiões ao norte, mas ao sul podem ajudar a melhorar um pouco a média do Estado.
"Ela beneficia o sul do Estado... podemos ter uma produtividade melhor do que divulgamos este mês, talvez esses resultados da região sul venham diluir um pouco a perda", afirmou o analista do Departamento de Economia Rural (Deral), Marcelo Garrido.
"Realmente o clima melhorou em fevereiro, em janeiro foi bem seco em grande parte do país. Ainda tem uma certa indefinição...", disse a analista da INTL FCStone, Ana Luiza Lodi, acrescentando que a consultoria deverá ter um novo número ao final da próxima semana.
SAFRINHA
Para o Mato Grosso, maior produtor de soja do Brasil, as chuvas chegaram tarde demais para alterar o cenário, após o tempo seco e quente reduzir as produtividades, disse o superintendente do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), Daniel Latorraca.
A colheita de soja em Mato Grosso avançou para 80,3 por cento da área, e está mais de 20 pontos percentuais adiantada ante o mesmo período da safra passada, segundo o Imea.
Mas ele destacou que o tempo úmido está favorecendo o desenvolvimento da segunda safra, de milho e algodão --o Estado é o maior produtor brasileiro também das duas commodities.
"Para a safrinha está bom, bem mais chuvoso que janeiro", concordou Muraro, da Agência Rural.
O plantio de milho em Mato Grosso avançou para 86,56 por cento da área prevista, alta de quase 20 pontos ante o mesmo período da safra passada, segundo o Imea.
O sol, intercalado de chuvas, tem beneficiado os trabalhos e o desenvolvimento das lavouras de milho, destacou em análise o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP.
Pesquisa da Reuters no início da semana apontou que a produção de milho na segunda safra 2018/19 do Brasil deve crescer cerca de 21 por cento ante a passada, puxada tanto por um aumento de área quanto por perspectivas de melhores produtividades.