Os extremos do clima afetam a região agrícola chave da Argentina
As duas caras do clima, a seca e as inundações, se mostram na zona agrícola central da Argentina e com poucos quilômetros de distância.
"No sul de Córdoba, as complicações por conta dos excessos hídricos se deram no plantio dos cultivos de inverno e, agora, nos cultivos de verão", conta Lucas Andreoni, assessor técnico do grupo CREA Melo-Serrano, ao jornal argentino Clarín.
De acordo com o técnico, a região que forma essas localidade está muito afetada. Nesta zona, que produz soja, milho e também mandioca, onde normalmente choviam 800mm por ano, os anos de 2015 e 2016 trouxeram 1.200mm anuais.
Ele aponta que há 20% de lotes já perdidos e sem chance de replantio devido à época do ano. A má notícia para a zona compensa o bom ano para o trigo que a região havia tido, com rendimentos que estiveram acima da média.
"Entre 21 e 26 de dezembro, choveram mais de 200mm e há algumas regiões onde este volume alcançou 300mm. Se não segue chovendo, há que esperar que se recuperem os caminhos rurais e, depois disso, esperar que se drene a água dos campos. Para isso, serão necessários quinze dias e pensar em plantar algo neste momento é muito arriscado por conta das possíveis geadas antecipadas", lamenta.
Mas os problemas não vêm apenas de cima. O solo também pode ser um problema. O técnico aponta que, por mais que o nível de água baixe, o lençol freático está alto e isso mantém o risco para os cultivos que estão plantados.
Pronto para realizar o replantio, Juan Pablo Rossi, produtor e assessor técnico de Arrecifes, no noroeste de Buenos Aires, planeja uma outra estratégia de manejo quando a água de seu campo abaixar. O produtor diz que este tipo de acontecimento climático aparece com frequência na zona e lembra que a última grande inundação em seu campo foi em setembro de 2015.
O produtor perdeu cerca de 120 hectares de soja e de milho de uma propriedade de 220 hectares produtivos. Muito preocupado, depois que choveu 200mm em três dias na zona, Rossi sabe porque os rios da regõa ficam inundados - as ruínas de velhas represas provocam transborde do rio Arrrecifes.
Rossi acredita que agora, na primeira quinzena de janeiro, será possível realizar o replantio. "Mesmo que tarde e depois de avaliar como ficarão os solos depois das inundações, devo plantar soja e um pouco de milho tardio", disse o produtor que, antes dessa situação, estava bastante entusiasmado porque tinha conseguido repor as rotações em seu campo.
A outra face da moeda é o sudeste de Buenos Aires. Nesta parte, há falta de água, o que vem afetando o potencial de rendimento dos cultivos de verão. Por conta da seca, o plantio de soja está paralisado no momento.
"É preocupante a situação atual dos cultivos", disse o produtor Humberto Re, de Tres Arroyos. Segundo ele, os cultivos de verão que foram plantados antecipadamente, com boa umidade, são os que estão mais sofrendo no momento. "O milho é o mais complicado. A soja pode aguentar mais uns dias sem chuva", explica.
Esteban Copati, chefe do departamento de Estimativas Agrícolas da Bolsa de Cereais de Buenos Aires (BCBA), destacou que no sudeste de Buenos Aires a colheita de trigo também apresenta problemas, pois os resultados são díspares. O rendimento médio é de 61 sacas por hectare, mas, até o momento, a colheita não chegou a 20% do total na região.
A janela de plantio para a soja se estende até os dias 5 a 10 de janeiro. Faltam 600.000 hectares a serem plantados, mas o plantio, até o momento, está freado.
Tradução: Izadora Pimenta