Climatempo: Que calor é esse?
Fazer calor no fim do ano é normal em todo o Brasil. Mas o que é calor acima do normal varia muito de um lugar para outro. O calor normal de dezembro no Rio de Janeiro é diferente do calor do Piauí, que não é o mesmo do Amazonas, que não é igual ao calor que se sente em São Paulo, nem em Curitiba e nem em Porto Alegre.
Uma temperatura mínima de quase 24°C num amanhecer de dezembro é muito comum em qualquer lugar do Norte, no Nordeste e em Vitória, capital do Espírito Santo, mas é muito alta e fora do normal para a cidade de São Paulo.
Fazer 38°C numa tarde de dezembro é muito comum em muitas áreas do interior do Nordeste, mas já não é tão comum assim no Norte e muito menos no Sudeste ou no Sul do Brasil. Uma temperatura de 38°C é bastante elevada para a maioria dos lugares no Brasil, mesmo no verão. Uns dias com de 40°C acontecem em quase todos os verões no Rio de Janeiro, mas é uma temperatura muito alta e fora do comum também para o Rio. Mas 40°C é comum no Piauí e no Maranhão em outubro ou novembro.
O calor observado no dia 27 de dezembro de 2016 na faixa litorânea e nas áreas próximas ao mar, entre a região de Florianópolis e o sul do Espírito Santo foi foram do comum, foi um calor muito acima do normal.
Confira algumas temperaturas registradas pelo Instituto Nacional de Meteorologia e pela Aeronáutica
Rio de Janeiro/(Santa Cruz) (RJ): 40°C
Morretes (PR): 39,9°C
Rio de Janeiro/Marambaia (RJ): 39,8°C
Rio de Janeiro/Vila Militar (RJ): 39,7°C
Indaial (SC): 39,6°C
Duque de Caxias/Xerém (RJ): 39,3°C
Seropédica (RJ): 39,3°C
Iguape (SP): 39,0°C
Itajaí (SC): 38,5°C
Guarujá/base aérea (SP): 38°C
Paraty (RJ): 37,8°C
Florianópolis (SC): 37,3°C
Rio de Janeiro/Forte de Copacabana(RJ) 36,8°C
Taubaté (SP): 36,8°C
Saquarema/Sampaio Correia (RJ): 36,8°C
Alfredo Chaves (ES): 36,4°C
Por que fez tanto calor?
A explicação para o calor excepcional do dia 27 de dezembro está numa combinação de fatores: muitas horas de sol forte e num dia relativamente próximo do solstício de verão (21 de dezembro), vento quente, influência de alta pressão e influência de relevo local.
1 - Influência de alta pressão
Um grande sistema de alta pressão atmosférica ganhou força sobre o Brasil nos primeiros dias do verão 2016/2017. A alta pressão causa o que se chama em meteorologia de subsidência, que é um forte movimento do ar de cima para baixo.
Entenda mais sobre a subsidência do ar
2 - Muitas horas com sol forte
A subsidência dificulta a formação e o crescimento das grandes nuvens que podem provocar chuva. A redução da nebulosidade permite um maior número de horas de sol forte. Mas é especialmente nesta época, em dias muito próximos do solstício de verão, que ocorreu em 21 de dezembro, que o Hemisfério Sul está recebendo sua maior "dose de sol" no ano. É nesta época que os raios solares chegam mais a pino sobre o Hemisfério Sul e isto faz com que o ar esquente mais e mais rápido.
Um dia com poucas nuvens em dezembro é um dia naturalmente quente, a não ser que haja a influência de ar polar forte.
A chuva e a nebulosidade são importantes reguladores da temperatura. A chuva esfria o ar. Se no começo da tarde um lugar tem chuva e muitas nuvens, a temperatura não sobe tanto.
3 - Falta de ar polar
As massas polares estão chegando muito fracas sobre a Argentina e assim o ar frio polar não está tendo força para chegar ao Brasil. O ar polar é um dos principais reguladores da temperatura. Um lugar que fica muitos dias sem ar polar naturalmente esquenta.
4 - Vento quente
Ventos quentes do quadrante norte predominaram sobre o Sudeste e o Sul do Brasil no dia 27 de dezembro de 2016. O vento vindo da direção norte e de noroeste trouxe o ar quente do interior do país para o litoral. Este ar quente adicional fez com que o ar no litoral entre Florianópolis e o sul do Espírito Santo esquentasse ainda mais.
5 - Aquecimento adiabático
O efeito de aquecimento adiabático ocorre em regiões próximas a montanhas. Isto ocorre quando a circulação dos ventos predominante é do interior do continente para o mar (vento terral). O ar que está na parte elevada do continente é empurrado para o litoral e desce as encostas de uma montanha. No processo de aquecimento adiabático, a medida que o ar desce a encosta da montanha, ocorre um aumento de temperatura de quase 1°C a cada 100 metros.
Entre a região da cidade de São Paulo e de Santos, por exemplo, existe uma diferença de quase 800 metros, em média. O ar que sai da capital paulista com 32°C chega ao Guarujá quase 8°C graus mais quente, ou seja, com aproximadamente 40°C.
Todos estes fatores, e a combinação de alguns ou de todos eles, aquecem o ar e podem ocorrer em qualquer época do ano fazendo a temperatura ficar acima do normal. Mas justamente por estarmos no fim do ano, quando o ar já é naturalmente quente, o calor foi ainda maior.
A meteorologista Josélia Pegorim dá mais informações sobre o calor fora do comum do dia 27/12/2016 no litoral do Sul e do Sudeste.