Clima: De enchente a tornado, fenômenos extremos devem se intensificar em SC, diz meteorologista
Tornados, enchentes, calor excessivo, temperaturas negativas, neve. Santa Catarina é um estado de extremos, com uma grande variedade de eventos climáticos que, em muitos casos, resultam em desastres naturais. O G1 foi em busca de respostas sobre a recorrência desses fenômenos e o que se pode esperar do futuro. Segundo especialistas, a tendência é que nos próximos anos os fenômenos surjam com mais frequência e intensidade.
De acordo com o meteorologista Mário Quadro, doutor pela Universidade de São Paulo (USP) e professor do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC), com a elevação da temperatura na Terra, os modelos meteorológicos apontam que deve haver mais fenômenos extremos no estado.
Conforme Quadro, nos últimos anos já foi possível sentir alguns desses fenômenos. Em 2009, 147 municípios tiveram estiagem e 140 sofreram com enchentes e alagamentos. Ou seja, 94% do estado foi impactado pelo clima. Em 2013, depois de mais de 50 anos, nevou na Grande Florianópolis, região litorânea. Em 2014, houve uma onda de calor forte que durou 18 dias consecutivos, com temperaturas acima de 30ºC e sensação térmica de até 45ºC. Em Xanxerê, no Oeste a passagem de um tornado em abril deste ano provocou quatro mortes.
"Tanto o fator natural das mudanças climáticas, quanto a contribuição humana no aumento da emissão de CO2 [dióxido de carbono] devem fazer com que a temperatura do planeta se eleve e isso provoca uma reação no ambiente. Esses fenômenos sempre existiram e vão continuar, com aumento dessa frequência", diz Quadro.
Para o meteorologista, no entanto, não é possível afirmar quais fenômenos têm maior probabilidade de acontecer em Santa Catarina. "Não quer dizer que vai ter mais tornados, especificamente. Entretanto, eventos que são registrados praticamente anualmente, como enchentes, podem vir com mais força", explica o meteorologista.
Localização geográfica
A localização geográfica é um dos fatores que favorecem a variedade de eventos climáticos. Santa Catarina é o ponto onde se chocam as massas de ar quente, que vem da região tropical, e o ar frio, que vem da região polar. "É o início para vários eventos extremos. A proximidade com o mar, por exemplo, faz com que a umidade que vem do oceano provoque excesso de chuvas", complementa Quadro.
"No Vale temos os rios, quando tem chuva as cabeceiras se elevam, com enchentes. Na Serra temos eventos de frio e neve. No Oeste temos opostos: estiagens extremas e chuvas e tornados, que acabam ocasionando desastres", disse o professor.
Conforme o meteorologista Leandro Puchalski, da Central RBS de Meteorologia, o aquecimento global evidencia os fenômenos, mas é preciso ter cautela ao definir se caracteriza uma mudança climática e ou se o fenômeno faz parte de um ciclo do clima. "Para entender o comportamento do clima é preciso analisar um período mais amplo, de cerca de 50 anos. Tem fenômenos que voltam a ocorrer depois de muito tempo, que não configuram uma mudança", explica.
De acordo com Puchalski, outros fenômenos, como o El Niño e La Niña, também interferem no curto prazo na climatologia da região. Eles, entretanto, são sazonais, e podem ficar até três anos sem acontecer. “Com isso, não dá pra prever como estará uma região em longo prazo, como 10 anos. Não dá pra dizer que uma área vai ficar alagada ou completamente seca. Isso seria subestimar a capacidade do homem a se adaptar nessas situações”, reforça Puchalski.
Furacão Catarina foi fruto de mudança climática
Os meteorologistas concordam que o Catarina, que afetou o Sul de Santa Catarina em 2004, é efeito claro de uma mudança climática. De magnitude F1, primeiro nível da escala internacional de furacões, ele foi o primeiro furacão registrado no Atlântico Sul.
Na época, ocorreu uma tempestade que veio do mar, fazendo o caminho oposto das tempestades, que saem da terra em direção ao oceano. A massa era giratória, com um 'olho' no meio.
"O Catarina foi um evento excepcional principalmente porque nunca tinha ocorrido, nem era previsto", explica o meteorologista Michel Nobre Imuza, coordenador no Brasil de um projeto internacional sobre mudanças climáticas chamado Vacea (Vulnerabilidade e Adaptação a Mudaças Climáticas Extremas nas Américas). Até 2016, os pesquisadores levantarão dados para sugerir ações governamentais, ambientais e sociais para que populções convivam com as mudanças climáticas.
Leia a notícia na íntegra no site G1 - SC.