Em ano de El Niño, verão no Brasil mantém padrão de chuvas irregulares no Centro-Oeste

Publicado em 30/10/2015 10:59

O verão está se aproximando e, em ano de El Niño, as atenções às previsões climáticas estão redobradas. Segundo o meteorologista Eric Leister, do site internacional especializado AccuWeather, o fênomeno - que é um dos mais fortes de todos os tempos - é o principal fator de clima observado na América do Sul, uma vez que poderia trazer chuvas frequentes e causar cheias em partes do Brasil, Argentina e Uruguai neste verão.

"Frequentes sistemas de tempestades têm resultado em vários episódios de enchentes em regiões importantes da Argentina, Uruguai e sul do Brasil durante os meses da primavera e este deve ser o padrão predominante durante todo o verão. O volume acumulado de chuvas superaram em 100 a 250% o volume normal para o período de agosto ao meio de outubro e número similares são esperados para os próximos meses", diz Leister.  

Por outro lado, em outras áreas, as chuvas menos frequentes e mais irregulares - como já se mostram as precipitações na região Central do Brasil nesta primavera - deve trazer pouco ou nenhum alívio para áreas já atingidas pela seca no país e também no Chile. 

Características

A principal característica climática deverá ser, ainda segundo o meteorologista, o movimento mais lento de frentes frias do Uruguai ao norte da Argentina, Sudeste do Brasil e do Paraguai, promovendo episódios de chuvas fortes e fortes tempestades ocasionais, além de ventos severos e chuvas de granizo em alguns momentos. 

"Muitas vezes, essa frente irá estacionar sobre esta região, resultando em em muitos dias de fortes e localizadas chuvas. E o ar quente irá fornecer combustível para que tempestades fortes e tempestades sigam para o norte", explica. 

E embora essas boas chuvas sejam importantes para as culturas durante os meses de primavera e verão, esse excesso de umidade e as precipitações muito frequentes poderiam provocar o atraso do plantio de alguns produtos, além de prejudicar a qualidade das lavouras, explicou o especialista.

No Nordeste do Brasil, a seca pode piorar

Em um país continental como o Brasil, enquanto o Sul sofre com chuvas constantes e enchentes, o Nordeste pode ver a seca se tornar cada vez mais severa na região, como noticiou o Accuweather. Como explicou o meteorologista, de dezembro a fevereiro, novamente o Nordeste passará por prolongados períodos de tempo seco. 

Assim, outra estação de chuvas abaixo da média vai piorar a situação no país, o que poderá ser observado ainda na Colômbia e na Venezuela. Desde agosto, o Nordeste brasileiro recebeu apenas 50% ou menos do normal de chuvas para o período e as porcentagens esperadas para os meses seguintes são semelhantes. 

A estiagem que vem se intensificando e castigando a região já por muitos anos tem trazido resultados bastante severos, como a redução drástica dos reservatórios de água, do potencial das hidroelétricas, além de afetar o potencial produtivo de culturas importantes. 

No Piauí, um dos estados da nova fronteira agrícola do Brasil - o MATOPIBA, os produtores ainda esperam por uma regularidade um pouco melhor das chuvas para iniciarem o plantio da safra 2015/16 de soja. Até este momento, como explica Marco Antônio dos Santos, agrometeorologista da Somar Meteorologia, "o plantio da soja e do milho nessa região e no Pará ainda continua sendo uma prática pouco arriscada, já que um novo período de estiagem ou chuvas muito irregulares está sendo previsto para o mês de novembro".

Assim, o alerta do especialista é de que para regiões onde o clima segue essa padrão, a semeadura seja feita em solos que possam dar suporte às plantas durante esse novo período de escassez que está sendo esperado. 

"Vamos torcer para que neste ano a distribuição de chuvas seja melhor do que no ano passado. Porque a quantidade de chuva é relativa, podemos tirar boas médias com 400 a 500 mm de precipitações, mas precisamos que ela venha bem distribuída, ao contrário do que aconteceu em 2014", explica Altair Fianco, do Sindicato Rural do município piauiense de Uruçuí.

Conclusão da Primavera: Novembro 2015 x Novembro 2014

A consultoria internacional Weather Trends 360ºC trouxe alguns mapas que comparam as projeções esperadas para novembro deste ano e o que foi registrado no mesmo mês de 2014. 

Temperaturas - Para a maior parte do Brasil são projetadas temperaturas mais elevadas, principalmente na região Central, destacado em amarelo no mapa a seguir. No Sul, por outro lado, as temperaturadas poderiam ficar ligeiramente mais baixas, bem como na Argentina. 

Novembro14 x Novembro/15 - Previsão de Chuvas - Fonte: Weather Trends 360º

Chuvas - Além disso, as chuvas esperadas pro Centro-Oeste, Nordeste e Sudeste do Brasil devem ficar de 50% a 75% menores do que os registrados em novembro de 2014. Veja:

Novembro14 x Novembro/15 - Previsão de Chuvas - Fonte: Weather Trends 360º

Com informações dos sites internacionais Accuweather e AgWeb.

 

Clima: Novos estudos indicam que El Niño é semelhante ao de 1997/98 e pode reduzir em até 20% as chuvas no início de 2016 no Centro-Oeste

Por: Fernanda Custódio e Larissa Albuquerque

Com o avanço das temperaturas no Oceano Pacifico novos estudos de previsão de similaridade apontam que o El Niño neste ano é semelhante ao registrado nos anos de 1997/1998.

Tomando como base os estudos de similaridade, o pico de temperatura deve ocorrer nos meses de dezembro e janeiro, causando uma redução de 10% a 20% nas chuvas no Centro-Oeste e Sudeste entre janeiro a fevereiro/16.

"No inicio da evolução deste El Niño a expectativa era de que ele fosse semelhante ao de 1957/58, mas com o passar do tempo à medida que os dados de temperatura do Oceano Pacifico foram avançando, percebemos que há uma tendência maior deste El Niño ser similar ao de 1997/98", explica o climatologista Luiz Carlos Molion.

Com isso, os estados do Norte e Nordeste como Ceará, Pará, Maceió e Piauí devem presenciar uma redução severa de até 50% no volume de precipitações durante praticamente todo o verão. Regiões que são produtoras de soja e que iniciam o plantam a partir de janeiro, devem sofrer com a estiagem.

Já no Sul do país a previsão por similaridade indica um excesso de chuvas até dezembro, como vem ocorrendo no segundo semestre deste ano. O período de diminuição das precipitações deve ocorrer somente a partir de janeiro, mas não serão reduções significativas.

No Sudeste, estiagem pode ter início a partir de dezembro e se alongar até fevereiro de 2016, principalmente no sul de Minas Gerais e São Paulo.

"Os veranicos ocorrendo em janeiro e fevereiro, quando recebemos o máximo do fluxo solar, indica que as plantas sofreram com uma ausência da cobertura de nuvens e uma carga excessiva de radiação solar. Com isso, culturas perenes como frutas e café, terão quer ser irrigadas para não ter perda de produtividade", avalia Molion.

Os mapas mostram que as principais diferenças entre as previsões de similaridade dos El Niño de 1957/58 e 1997/98, foi uma redução na intensidade do veranico na costa norte, além de um maior volume de chuvas na região Sul, ao contrário do que ocorreu em 1957.

Confira os mapas de previsão de similaridade de dezembro a julho/16:

 
 

Vídeo do NOAA mostra que El Niño deste ano pode ser pior que o de 1997; cafeicultura terá reflexos

Por Jhonatas Simião

Em março, os satélites da Nasa detectarem um aquecimento anormal das águas do Oceano Pacífico, indicando a ocorrência de El Niño neste ano, que altera o clima em várias partes do mundo. Inicialmente, os meteorologistas acreditavam que o evento não representava grandes riscos, mas logo percebeu-se que o El Niño de 2015 pode ser tão forte quanto o maior já registrado, em 1997, ou até pior. É o que mostra um vídeo elaborado pelo Centro Nacional de Pesquisa Atmosférica dos Estados Unidos (NCAR), com base nos dados mais recentes do NOAA (Administração Atmosférica e Oceânica Nacional dos EUA).

A animação realizada Matt Rehme mostra claramente o aquecimento das águas do Pacífico nos dois anos, conforme o vídeo abaixo. "Fiquei chocado o quão parecidos visualmente são os fenômenos de 1997 e 2015", disse Rehme em entrevista ao site internacional Daily Mail.

No vídeo, quanto mais vermelho ou amarelo, mais quente estava o mar naquele dia. Em alguns momentos, as imagens de 1997 e 2015 são praticamente idênticas. Em outros, percebe-se claramente que neste ano há áreas maiores aquecidas.

Sabe-se que o El Niño traz reflexos para o clima em todo o mundo, mas mesmo os especialistas não conseguem precisar a intensidade do evento. "Não estamos completamente certos ainda de que será um fenômeno forte, mas os sinais estão indicando isso. Saberemos até outubro", disse o climatologista Bill Patzert da Nasa, em nota.

Segundo o climatologista Luiz Carlos Molion, no Brasil, os estados do Norte e Nordeste como Ceará, Pará, Maceió e Piauí devem presenciar uma redução severa de até 50% no volume de precipitações na estação.

Já no Sul do país pode haver um excesso de chuvas até dezembro, como vem ocorrendo no segundo semestre deste ano. O período de diminuição das precipitações deve ocorrer somente a partir de janeiro, mas não serão reduções significativas.

E no Sudeste, a estiagem pode ter início a partir de dezembro e permanecer até fevereiro de 2016, principalmente no sul de Minas Gerais e São Paulo, que são importantes áreas produtoras de café do Brasil, e que enfrentaram fortes secas em 2014 e início deste ano. Com isso, a produção do País tem caído forte nos últimos anos.

A Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) estima que a colheita de café do Brasil da safra 2015/16 seja de 42,15 milhões de sacas de 60 kg. O número, em período de baixa bienalidade da cultura, representa redução de 7% em relação à produção de 45,34 milhões de sacas obtidas em 2014.

Reflexos para a cafeicultura de outros países

Recentemente, conforme reportado pelo Notícias Agrícolas, o El Niño de 2015 deve levar chuvas torrenciais à partes do leste da África, o que resultaria em 'graves' inundações em partes do Quênia, Uganda, Tanzânia, Ruanda e Burundi, e fatalmente resultaria em perdas na produção de café.

De acordo com informações reportadas pelo site Agrimoney, o fenômeno também pode interferir na produção de café da Indonésia, terceiro maior produtor global de café robusta, no Sudeste Asiático.

» Maior El Niño da história pode provocar perdas nos países produtores de café, afirmam meteorologistas
 

Confira as entrevistas mais recentes realizadas pelo NA com o climatologista Luiz Carlos Molion sobre El Niño:

» Clima: Novos estudos indicam que El Niño é semelhante ao de 1997/98 e pode reduzir em até 20% as chuvas no início de 2016 no Centro-Oeste

» El Niño é similar ao de 1957/58 e deve ocasionar redução de chuvas para a região Centro-Oeste

» Similaridade com El Niño de 1957 pode provocar ainda mais chuvas no Sul e redução das chuvas de primavera no Centro-Oeste, alerta o prof. Molion

Produtores de soja do Matopiba se preparam para safra impactada por El Niño

Por Gustavo Bonato

SÃO PAULO (Reuters) - Produtores de soja da região conhecida como Matopiba --formada por novas áreas agricolas do Maranhão, Tocantins, Piauí e oeste da Bahia-- começam a plantar nas próximas semanas a nova safra de soja de olho nos efeitos do fenômeno climático El Niño, que pode afetar duramente as produtividades, marcando a quinta temporada consecutiva com algum tipo de prejuízo por falta de chuvas.

Juntos, os quatro Estados, três deles do Nordeste brasileiro, representaram 11 por cento da safra nacional de soja em 2014/15.

A previsão do tempo indica que as primeiras chuvas estáveis, que permitem o plantio, deverão atrasar para meados de novembro, ante um início habitual em meados de outubro. Os modelos apontam boas chuvas em dezembro e uma escassez de precipitações depois disso, em janeiro, fevereiro e março.

"Nesta temporada, a chuva vai terminar mais cedo (no Matopiba). O produtor vai plantar, vai investir, mas pode ter problemas", disse a meteorologista Desirée Brandt, da Somar Meteorologia.

Segundo ela, o El Niño --que ocorre com força este ano-- afetará a zona de convergência intertropical, uma faixa de nuvens que habitualmente provoca chuvas no litoral do Nordeste nos primeiros meses do ano.

"Esse sistema, em alguns anos, avança mais e a chuva chega até o sul do Maranhão, ao Piauí, Tocantins e até o oeste da Bahia. Quando tem El Niño, esse sistema fica mais fraco", afirmou a meteorologista.

O oeste da Bahia, principal região produtora de soja do Matopiba, teve a última safra sem adversidades climáticas em 2010/11. Depois disso, todos os anos houve episódios de "veranicos", que é como os produtores chamam períodos prolongados de seca, de cerca de 20 dias ou mais, que podem afetar produtividades.

"Claro que a previsão é motivo de apreensão, mas os produtores aqui têm mais de 20 anos de experiência, já sabem como lidar com a falta de chuvas", disse o diretor de projetos e pesquisa da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba), Ernani Sabai.

Segundo ele, mesmo as piores produtividades já registradas em uma temporada com veranico forte, que foi o caso de 2012/13 (com 35 sacas por hectare em média na Bahia, segundo a Conab), seriam suficientes para pagar os custos de produção.

A meteorologista da Somar alerta, no entanto, que o problema da temporada 2015/16 "não é uma questão de veranico", mas sim de encerramento antecipado das chuvas, o que pode tornar esta a pior das últimas cinco safras no Nordeste em termos de clima.

Estimulados por preços ainda competitivos para a soja, os produtores do Matopiba dão mostras de que o clima não será motivo para frear a expansão do plantio de soja na região.

A consultoria INTL FCStone projetou na quarta-feira que a área plantada nos quatro Estados combinados irá subir 8,5 por cento em 2015/16, bem acima da média nacional de 4,3 por cento de crescimento.

Segundo a consultoria Impar, que presta assistência agronômica para produtores de grãos do Matopiba, a nova temporada exigirá ainda mais eficiência no manejo das lavouras, a começar pela segurança no plantio, plantando apenas com a chegada de chuvas regulares.

"É um ano em que não se pode admitir perder um plantio", disse o diretor da Impar, Rafael Abe, lembrando os maiores custos com insumos precificados em dólar.

Na avaliação de Abe, haverá uma moderação no uso de fertilizantes, com produtores aproveitando os estoques de nutrientes depositados no solo em safras passadas.

Mesmo assim, técnicas avançadas de manejo de solo adquiridas ao longo dos últimos anos e a escolha de sementes mais resistentes à seca deverão dar alento aos produtores nos momentos de escassez de chuvas, afirmou Abe.

 

EDITORIAL da folha de s. paulo

Tempo quente

Este 2015 caminha para se tornar o ano mais quente da era industrial, superando 2014, 2013, 2010, 2005 e 1998 (os cinco campeões). Dos seus nove meses transcorridos, o ano em curso cravou seis na lista dos que mais ultrapassaram a média do século 20.

Não é possível dizer se os recordes resultam do aquecimento global, do fenômeno El Niño –águas anormalmente quentes no oceano Pacífico– ou da combinação explosiva de ambas as coisas. Mas isso interessa ao Brasil, e muito.

A última ocorrência de El Niño tão forte quanto esta se afigura materializou-se em 1997 e 1998. O calor da superfície oceânica aquece a atmosfera e embaralha os padrões do clima mundial. Prevê-se que a anomalia se agrave e adentre o primeiro semestre de 2016.

A perturbação climática estaria por trás da onda de calor que matou milhares na Índia em maio, dos atuais incêndios florestais na Indonésia e das últimas chuvas no Sul do Brasil. É para o semiárido brasileiro, porém, que a atenção nacional deve se voltar.

Há muito se conhece a relação estreita entre El Niño e estiagens graves no Nordeste. Para ensombrecer as previsões, a presente edição se abate sobre a região com mais pobres no país num período muito seco iniciado já em 2012.

Os 12 meses encerrados em setembro tiveram precipitação 22% a 30% abaixo do esperado na maioria dos Estados do semiárido (em especial Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Pernambuco, Bahia e Minas Gerais). Aí se concentram 891 municípios cuja agricultura foi prejudicada pela falta de chuvas. No norte de Minas já são quatro anos seguidos abaixo da média.

Na seca de 2012/13, a pior em oito décadas, morreram –sem El Niño– 4 milhões de reses, prejuízo de R$ 3,2 bilhões para a pecuária. A safra agrícola teve quebra de 21,5%. O governo federal gastou R$ 9,1 bilhões para mitigar o flagelo.

Não só o Nordeste sofre os impactos de um El Niño. A diminuição da pluviosidade afeta ainda a Amazônia, em particular a porção norte. Em 1997-98, a floresta ressequida se incendiou em Roraima e 11 mil km² de matas queimaram.

O prognóstico piora porque os cofres municipais e estaduais, não só os federais, estão vazios. É de esperar que diminua sua capacidade de reagir à emergência.

Com desemprego em alta e renda em queda, a população mais pobre tampouco terá meios de se proteger em caso de estiagem mais intensa, alta nos preços de alimentos e piora da crise no abastecimento.

Uma conjuntura sombria que a classe política, consumida na polarização, parece pouco inclinada a encarar com o devido cuidado.

2015, o ano em que o planeta ardeu? (por MARCELO LEITE, na FOLHA)

Depois de 40 dias de combate, 300 bombeiros conseguiram pôr fim a um incêndio florestal no município maranhense de Arame. O fogo destruiu 2.200 km2 de matas na Terra Indígena Arariboia.

A área queimada representa mais da metade do território onde vivem 12 mil índios guajajaras. Também equivale a uma vez e meia o município de São Paulo, onde vivem 12 milhões de pessoas.

Há um mês a cidade de Manaus está coberta de fumaça. O Estado do Amazonas, um dos menos desmatados da Amazônia e em geral muito úmido, vive uma temporada recorde de queimadas, que já fez muita gente baixar ao hospital com problemas respiratórios.

Até a sexta-feira (30), 13.484 focos já haviam sido registrados pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), que os identifica por meio de satélites. A dois meses de terminar o ano, já se superaram todos os totais anuais desde 1998 (o maior deles, 9.322 focos, ocorreu no ano passado).

O rio Negro está com nível muito baixo. Tão baixo que foi fechado o acesso à praia de Ponta Negra, popular entre os manauaras. Com a vazante, a entrada de banhistas na água fica muito próxima de buracos de mais de cinco metros de profundidade, o que aumenta o risco de afogamento.

Há poucas semanas, decolando do aeroporto de Confins (MG), o céu matutino estava enevoado pela fumaça. Mesmo sem bater recordes, o Estado tem quantidade acima da média de queimadas.

Cerca de 100 km2 arderam por cinco dias na serra do Cipó. Minas passa pelo quarto ano seguido de seca, que castiga sobretudo sua região norte, a mais pobre do Estado. O rio Doce não consegue mais chegar ao mar na foz tradicional, conformando-se com um filete através da areia a 1 km dali.

O São Francisco nasce em Minas Gerais. Indiferente aos bilhões enterrados pelo governo federal no megalômano projeto de transposição para irrigar o semiárido nordestino, o rio está minguando. Sua represa de Sobradinho tem apenas 4,6% da capacidade normal preenchida.

Em contraste, o Rio Grande do Sul tem sofrido com temporais. Depois de uma trégua, a chuva forte recomeçou. Mas a temperatura tem ficado acima dos 30°C.

A cidade gaúcha de Alvorada, por exemplo, vive sua terceira enchente do ano. Ela já dura mais de um mês e alagou 60 ruas, forçando 2.556 pessoas a deixar suas casas.

Do outro lado do mundo, a Indonésia está em chamas. O país queima há mais de dois meses e produz uma névoa tóxica que se espalha para nações vizinhas, como Cingapura, onde fecha aeroportos e força as pessoas a usarem máscaras.

As florestas tropicais indonésias são ricas em turfa, uma camada espessa de matéria vegetal que se acumula e decompõe no solo encharcado. Esses terrenos são desmatados e drenados para dar lugar a plantações e produzir óleo de palma.

O fogo é a ferramenta preferida dessa empreitada do agronegócio. Só que a turfa pode queimar lentamente, produzindo mais fumaça do que chamas, e de forma contínua.

Amazonas, semiárido nordestino, Rio Grande do Sul, Indonésia - o que esses desastres de falta e excesso de água têm em comum? El Niño.

O fenômeno climático que aquece as águas orientais do oceano Pacífico e tira a meteorologia dos eixos mundo afora, veio com força total neste 2015, que quase certamente será o mais quente já registrado.

 

Por: Carla Mendes
Fonte: Notícias Agrícolas + FOLHA

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