Operação Carne Fraca não reflete qualidade da produção dentro da porteira, diz ABCZ
Desde que a Polícia Federal deflagrou a operação Carne Fraca, na sexta (17), relatando frigoríficos que operavam em desconformidade as normas sanitárias, a pecuária nacional está no centro das discussões e por muitas vezes associada às más práticas de produção de alimentos. Enquanto estouravam as denúncias de indústrias que recebiam propina para burlar fiscalizações, o elo mais fraco da cadeia - os pecuaristas - seguiam suas rotinas na buscam incessante pela qualidade da carne nacional.
O mercado de carnes, - seja bovina, de frango ou aves -, cresceu significativamente nos últimos anos, também pautado pela confiança sanitária. A receita com a exportação das três proteínas saiu de aproximadamente US$ 2 bilhões em 2000, para US$ 14 bi no ano passado. Mas, após a operação, alguns importadores já notificaram que irão suspender temporariamente as compras até que as irregularidades sejam explicadas.
Durante a edição 2017 do Road Show para jornalistas do agronegócio, que ocorreu entre os dias 13 a 17 de março, foi possível conhecer propriedades e projetos - que através de tecnologia - estão comprometidos em oferecer uma carne cada vez melhor, tanto ao mercado interno, quanto externo.
As melhorias vão desde a aplicação de fenótipo e genótipo em reprodutores, até equipamentos de contenção que reduzem o estresse e hematomas nos animais durante atividades de manejo. Todas essas iniciativas demonstram que a pecuária nacional está em plena transição da produção tradicional para grandes inovações que elevaram o padrão dos nossos produtos.
Dentro da porteira, seja por meio dos melhores animais, rígidos controles de produção e acabamento primoroso das carcaças, o setor vê estourar - de forma questionável - operação que poderá trazer consequências de curto e médio prazo em todas essas evoluções da nossa pecuária.
Como ressaltou a ABCZ (Associação Brasileira dos Criadores de Zebu) as "acusações contrariam todo o esforço da nossa classe de produtores rurais que segue rígidas normas de segurança para a produção de carne bovina" diz.
Para ABCZ, será de fundamental importância os desdobramentos dessa operação nesta semana, no que diz respeito ao esclarecimento das irregularidades. "O volume de unidades irregulares foi relativamente baixo, é claro que isso não deveria acontecer, mas não corresponde a imensa cadeia produtiva da carne", diz Arnaldo Prata, diretor da entidade.
Uma credibilidade construída há décadas e reconhecida internacionalmente, não pode ser generalizada. Segundo Prata, já há uma movimentação do governo e das mídias no sentido mostrar que os problemas foram pontuais e que, "portanto, não devem influenciar a demanda de carnes brasileira".
"Somos a favor da investigação e acreditamos que esse fato poderá, inclusive, aumentar a exigência do nosso público consumidor à carne de qualidade", acrescenta o diretor da ABCZ.
Em nota a Associação Brasileira de Angus, também afirmou que "a apuração dos fatos ocorridos e a punição dos responsáveis devem ser prioridades de forma a extirpar do segmento produtivo aqueles que não estejam dispostos a atender às exigências da legislação sanitária nem demonstrem preocupação com a saúde e bem-estar dos consumidores".
É importante ressaltar que a recessão econômica desde 2014 reduziu drasticamente o consumo per capita, especialmente de carne bovina, no mercado interno. Esse fator vem colaborando - aliado a outras conjunturas de mercado - para baixa na cotação do boi gordo, frango e suíno.
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