Mercado de café, ESCORREGANDO PARA AS MÍNIMAS
ESCORREGANDO PARA AS MÍNIMAS
O maior banco de investimento de Wall Street, que melhor performou durante o período de recessão, é acusado de fraude pela SEC (Securities and Exchange Commission versão americana da CVM). A acusação diz que enquanto a área de vendas do banco oferecia produtos para que seus clientes apostassem na continuação da alta do mercado imobiliário, o banco tomava posição vendida com seu capital, e com a derrocada dos imóveis nos Estados Unidos todos sabem qual foi o resultado.
Do outro lado do mundo, a China diz que vai conter especulações no seu mercado imobiliário e tomará medidas de restrição ao crédito. Isto aconteceu um dia depois que o país reportou crescimento de 11.9% do PIB no primeiro trimestre 2010 comparado com o mesmo período de 2009.
As duas notícias minaram a alta dos mercados acionários, e levaram junto as commodities, que com a queda da sexta-feira fizeram com que os principais índices fechassem a semana inalterados.
O café bem que tentou se desvencilhar das notícias ruins, mas não conseguiu e acabou a semana perdendo US$ 4.76 por saca em Nova Iorque. Em São Paulo a perda foi menor, US$ 1.65 por saca e em Londres conseguiu se segurar bem, encerrando com ganho de US$ 0.30 por saca.
A queda do terminal entretanto não alterou os preços que os produtores querem vender seus cafés nas principais origens.
A aparente falta de disponibilidade do arábica de qualidade manteve os fazendeiros que ainda tem alguma coisa do produto firmes nas suas idéias de preços e portanto nominalmente os diferenciais se firmaram. Aparente porquê café fino ainda há, não em volume é verdade, mas há. E nominal porquê o comprador não paga os preços dos diferenciais que o vendedor quer receber.
A reposição firmou ainda mais com a queda da bolsa, pois quem precisa comprar café para honrar seus compromissos não vê outra alternativa a não ser ajoelhar no milho e pagar os preços que os produtores pedem. No Brasil, por exemplo, quem quer comprar café fino tem que pagar no mínimo R$ 280.00 por saca, e mesmo assim não compra tudo o que quer.
Não há paralelo de tamanha escassez de cafés finos em um período em que ainda deveria ter café de América Central, e mesmo a entrada da safra brasileira não parece que vai conseguir satisfazer a necessidade do comprador, pelo menos não nos preços e volume que gostariam.
A bolsa teve o pior fechamento em mais de um mês, com os fundos liquidando suas posições compradas e adicionando posições vendidas, tudo indica que os preços vão cair ainda mais. O contrato de julho precisa se manter acima de 130.00 centavos para evitar mais uma nova onda de vendas.
E quem precisa comprar café? Um leitor assíduo disse que vendeu a bolsa quando estava perto de 138.00, e como não estava conseguindo comprar tudo o que precisava no físico, teve que comprar BM&F, e ele não deve ser o único fazendo isto, dado a queda menor do contrato de São Paulo.
A manutenção dos diferenciais firmes e das vendas a conta-gotas dos produtores vão ajudar o mercado tão logo os especuladores reduzam suas posições e/ou fiquem vendidos. Os baixistas de plantão no entanto dizem que isto não pode demorar muito já que a safra brasileira está chegando.
Apenas para deixar registrado: nunca vimos volatilidade-implícita tão baixa para opções de setembro (principalmente nesta época do ano), 28%. Ninguém está com medo de chuva e nem tão pouco do frio. Impressionante, não?
Uma ótima semana e muito bons negócios para todos.
Rodrigo Costa*
*Rodrigo Corrêa da Costa escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting