Corrida para comprovar origem: Indonésia abre protocolo para 54 indicações geográficas de café

Publicado em 24/07/2024 16:24 e atualizado em 24/07/2024 17:16
Busca por certificação chama atenção, mas não comprova sustentabilidade e nem que país atende novas regras da UE

Com um mercado cada vez mais exigente, as origens produtoras de café também se empenham em comprovar sua origem com certificações. Além do Brasil, outras importantes origens produtoras estão se movimentando para apresentar dados consolidados e manter o mercado aquecido.

Na reta final da colheita, na última semana, dados divulgados por um portal da Indonésia chamaram atenção. De acordo com a publicação, o quarto maior produtor de café do mundo deu início ao processo de 54 indicações geográficas no país. A expectativa é que novos mercados sejam abertos para o robusta da Indonésia.

“Isso é algo que esperávamos, onde podemos apresentar produtos de indicação geográfica nacional para o mundo ver”, disse Kurniaman Telaumbanua, diretor de Marcas e Indicações Geográficas.

Agora a Indonésia aguarda para saber se todas as indicações serão aprovadas de acordo com o Padrão Nacional da Indonésia (SNI). "Todo o processo desde o plantio, processamento, ferramentas utilizadas, adesão, grupos de agricultores, combinação de grupos de agricultores, tamanho da área e informações detalhadas sobre o café Lahat devem ser indicados no documento descritivo", afirma a publicação.

A produção da Indonésia está estimada em 10,9 milhões de sacas para o ciclo atual, de acordo com dados do USDA. Se confirmada, o número representa um aumento substancial em comparação com o ciclo anterior, quando a produção foi de 8 milhões de sacas.

Muito forte na produção de robusta, para Haroldo Bonfá, o expressivo número de indicações geográficas (IG) chama atenção e pode ser considerado positivo diante de um mercado tão exigente. "A colheita está na reta final, teve início em abril, e esse é um indicador positivo, já que cada vez mais vemos os consumidores buscando pelas origens nos supermercados", afirma o analista.

BRASIL NA VANGUARDA E NOVAS REGRAS DA UE

A busca pela originação, certificação e rastreabilidade já é uma realidade do mercado de café. Com as novas regras de importação da União Europeia, os termos passaram a ser ainda mais frequentes em todas as origens.

A confirmação de Indicação Geográfica (IG), apesar de bem vista pelo mercado e de comprovar que determinado produto só se encontra naquele terroir, não é suficiente para, por exemplo, comprovar as boas práticas agrícolas e a sustentabilidade aplicada.

As principais origens produtoras de café do mundo estão há dois anos em uma "corrida contra o tempo" para entender as demandas da Europa. E quando o assunto é sustentabilidade e rastreabilidade, o Brasil tem sido o grande destaque.

"A União Europeia trouxe a demanda, houve uma preocupação muito grande com como todos iriam se adaptar, mas o Brasil está à frente para atender aos requisitos ambientais, seja pelas novas regras ou pelo Código Florestal. A Indicação Geográfica é importante, mas não necessariamente mostra que atende aos requisitos ambientais; ela serve para proteger as características e o marketing de um produto daquela região", explica Fernando Maximiliano.

De acordo com o analista da StoneX Brasil, as boas práticas aplicadas pelo produtor brasileiro e as ferramentas desenvolvidas para comprovação e rastreabilidade são os grandes diferenciais que colocam o país em outro patamar.

"Há ainda a incerteza no mercado sobre quem pagará pela documentação, mas esse prêmio acabará sendo definido pelo próprio mercado de café naturalmente", afirma.

Recentemente, Giuseppe Lavazza, presidente do Lavazza Group, dono do café Lavazza, comentou sobre a oscilação constante nos preços do café, apostando em preços firmes já que as principais regiões produtoras enfrentaram ou enfrentam algum impasse climático afetando a produção.

“As mudanças climáticas afetaram a produção nos países mais importantes do mundo para o cultivo de robusta, principalmente no Vietnã e na Indonésia, reduzindo bastante a quantidade disponível dessas variedades", disse ao Financial Times.

Sobre as novas regras, ele acredita que elas devem forçar novas altas nos preços. “No negócio do café, apenas 20% dos agricultores estão prontos para atender à regulamentação”, disse.

Ainda segundo Lavazza, o Brasil é o único país preparado para atender à implementação das novas regulamentações, mostrando ainda mais o protagonismo brasileiro no mercado, não só em termos de volume, mas também em sustentabilidade.

Por: Virgínia Alves | @imvirginiaalves
Fonte: Notícias Agrícolas

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