Manga Coffee Corporation: Empresa sugere deságio de até 80% e pelo menos mais 2 anos para início dos pagamentos

Publicado em 25/03/2024 17:11
Estimado em mais de 500 milhões de reais, prejuízo pode ser o maior da história na cafeicultura brasileira

Conforme estabelecido pela Justiça, a Manga Coffee Corporation (MCC) publicou na última semana o plano estratégico de pagamento de mais de 500 milhões de reais destinados a produtores de café que entregaram os cafés, mas não receberam o pagamento total da mercadoria. A crise financeira da empresa começou em 2023. 

No documento, a empresa dividiu os produtores por níveis e apresentou propostas diferentes para cada um deles, mas em todas elas, o cafeicultor terá que aceitar um deságio em cima do valor total e aguardar por, pelo menos, mais dois anos para começar a receber. A Manga Coffee também sugere que o pagamento seja feito de forma parcelada em todos os planos. 

Os produtores que optarem por entregar acima de 75% da média de sacas entregues em safras anteriores terão deságio de 30% e carência de duas safras para início dos pagamentos. 

Os que se comprometerem a entregar entre 55% e 74,99% da média terão deságio de 50%. Enquanto os que optarem entre 35% a 54,99%, terão deságio de 60%. Já aqueles produtores que optarem por não entregarem mais os cafés, terão deságio de 80% sobre o valor dos créditos. O valor será pago em cinco parcelas anuais e terão carência de cinco anos. 

A partir de agora, os produtores têm 30 dias para aceitar ou não o acordo. Caso a empresa não cumpra com as datas e pagamentos, a justiça pode declarar a falência da empresa. 

Para o advogado Vinicius Souza Barquette, especialista em agronegócio café e que representa alguns produtores, a empresa ainda não respondeu muitas das perguntas que têm sido feitas pelos produtores.

"Eles mencionam muito as questões climáticas e de preço como justificativa, mas não havia proteção? O agronegócio inteiro sentiu os impactos, até que ponto os fundamentos se aplicam de fato? Quais são as outras empresas que têm um grau de impacto de mais 500 milhões de reais?", afirma. 

ENTENDA O CASO

Com mais de dez anos de atuação no sul de Minas Gerais, a empresa operava no mercado futuro, garantindo aos produtores o diferencial da contratação futura com a opção de alteração do preço da saca de café, caso as cotações apresentassem alta na Bolsa de Nova York (ICE Futures US). 

O que de fato aconteceu. Desde a safra 20 - a última recorde para o Brasil em termos de volume e qualidade, o produtor de café vivencia uma verdadeira montanha-russa nos preços. A seca intensa, seguida de geada nas principais áreas de produção de arábica elevaram os preços da saca de café a patamares históricos e diminuíram os estoques mundo afora. 

Em julho de 2023, começaram os problemas para os produtores de café. As sacas foram entregues à MCC, mas os pagamentos não foram realizados desde então. De acordo com dados divulgados durante a audência em Brasília, os contratos superam os 500 milhões de reais. 

Notícias Agrícolas conversou com alguns desses produtores, que alegam, inclusive, que além de não receber pelos cafés já entregues, também não conseguiram a devolução do produto. Com a alta nos preços, muitos produtores travaram vendas para 2024 e 2025, o que traz um novo agravante já que eles estariam sendo cobrados à fazer a entrega dos cafés. O banco de dados do portal mostra que neste período, Nova York ainda estava sendo negociada a 162,50 cents/lbp, o que na cotação da época se aproxima de R$ 1.031,00. Você pode conferir o histórico de cotações aqui

Os impasses para recebimento atingem produtores com participação em todo parque cafeeiro de Minas Gerais. Zona da Mata de Minas e Mantiqueira foram as primeiras regiões a terem produtores cobrando por respostas.  

O QUE DIZ A EXPORTADORA

Representada por seu corpo jurídico, a Manga Coffee Corporation (MCC) reconhece os problemas e afirma que está trabalhando em plano de ação para regularização das pendências juntos aos produtores. Em outubro do ano passado, a empresa entrou com uma tutela para antecipar os efeitos em recuperação judicial e obteve um prazo para elaboração de pagamento. 

Boa parte dos produtores já acionou a justiça em busca de soluções, mas de acordo com a porta-voz, a empresa está aberta para negociação e avalia cada caso de forma particulada. Questionada sobre o paradeiro das sacas que já foram entregues pelos produtores sem a totalidade dos pagamentos, a empresa alegou que continua em contato com os importadores de café para negociação. 

Por: Virgínia Alves | Instagram: @imvirginiaalves
Fonte: Notícias Agrícolas

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