Mar vermelho, estoques baixos, crise na produção da Ásia: Os fatores que podem colocar o Brasil como protagonista no mercado de conilon
Oferta restrita da Ásia, estoques certificados mais baixos, logística comprometida: Todos esses fatores vêm influenciando para o café robusta atingir o preço mais alto da história na Bolsa de Londres. Desde o ano passado o mercado precifica com base nas preocupações com a oferta global do produto e há alguns dias rompeu o nível técnico de US$ 3000 a tonelada.
Diferente do que se observa no mercado de café arábica, no caso do robusta os fundamentos são firmes e de acordo com Haroldo Bonfá, analista da Pharos Consultoria, a tendência é que os preços continuem avançando ao menos no médio prazo.
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O mercado trabalha com quebra signicativa na produção do Vietnã e da Indonésia, justamente os dois maiores produtores de robusta do mundo. No Vietnã, a quebra é estimada em mais de três milhões de sacas e na Indonésia em mais de dois milhões.
Além desses fatores, no extracampo os problemas globais com a logística aumentam as preocupações. Os conflitos no Mar Vermelho trazem ao mercado a incerteza com relação às entregas do Vietnã. Segundo o analista, a alta no frete marítimo e o tempo de viagem colaboram, por exemplo, para a queda nos estoques certificados na ICE.
Só no mês de janeiro o mercado observou uma baixa de 66 mil sacas de robusta certificados na ICE. Fazendo um movimento muito parecido do que foi observado no auge da crise do arábica, fica mais barato para o comprador assumir esses cafés do que realizar novas compras diante dos preços atuais, apesar da idade do grão.
"Já estamos vendo relatos de problemas com espaço em navios e atraso na logística, muito parecido com o que aconteceu durante a Covid-19. Os preços devem continuar subindo porque o Vietnã fica de fora do mercado durante o Ano Novo Chinês, colocando mais um problema na entrega", afirma.
O cenário, apesar de desafior, traz oportunidades ao Brasil. O país que desde o ano passado aumenta sua participação no mercado, abastecendo importantes países com o café conilon, deve continuar exportando muito esse tipo de café.
Os dados oficiais do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) mostram que em 2023 o país embarcou 4,7 milhões de sacas de cafés canéforas. O volume representa uma alta de 212% em comparação com 2022, ficando atrás apenas de 2020 quando o Brasil colheu uma safra recorde.
"São oportunidades para o Brasil não só de manter nesse mercado, mas principalmente de abrir novas parcerias comerciais. O mundo gostou desse café do Brasil que também vem apresentando muita qualidade", afirma o analista.
Outro fator importante para os próximos meses, de acordo com o Haroldo, são os números de safra do Brasil. Os números oficiais da Conab indicam uma safra com 17,1 milhões de sacas em 2024, mas o mercado ainda trabalha com a projeção de números entre 21 e 22 milhões. "Se não ficar dentro do que o mercado está prevendo, teremos outro fator de alta neste momento que as demais origens estão com problemas e o Brasil vem aparecendo bastante no mercado, podemos ver um problema de abastecimento", finaliza o analista.