Comerciantes de café depositam esperanças no Brasil para grãos robusta com alta nos preços
Por Maytaal Angel
LONDRES (Reuters) - Os comerciantes de café que lutam para fornecer aos torrefadores grãos robusta estão depositando suas esperanças no Brasil, já que os preços do grão amargo normalmente usado para fazer café instantâneo atingiram máximas de 12 anos depois que as exportações do principal produtor, Vietnã, caíram.
Os agricultores vietnamitas quase não têm mais estoque para vender depois de terem reduzido sua área de cultivo de café para cultivar maracujá e durião, mais lucrativos, deixando o mercado extremamente apertado.
Os traders esperam que as exportações brasileiras aumentem para preencher a lacuna, à medida que o segundo maior produtor mundial de robusta começa a colher a safra desta temporada, que deve atingir um novo recorde de cerca de 23,15 milhões de sacas.
Embora o país também tenha colhido uma safra recorde de cerca de 22,92 milhões de sacas na temporada passada, suas exportações caíram 53% nos dez meses encerrados em abril, graças ao aumento da demanda local, segundo dados do grupo exportador Cecafé.
Mas especialistas do setor dizem que os embarques de robusta devem crescer este ano em grande parte devido a uma recuperação na produção brasileira de arábica que, sendo mais frágil do que o robusta, foi prejudicada pela seca e geada nas duas últimas temporadas.
"Suspeitamos que a indústria doméstica (do Brasil) ficará com grande parte do arábica de qualidade inferior, o que significa que deve haver mais robusta disponível para exportação", disse à Reuters um especialista veterano da indústria do café.
O presidente do Cecafé, Marcio Ferreira, disse que espera que os embarques de robusta do Brasil melhorem nos próximos meses, à medida que os preços locais diminuem. O veterano especialista do setor espera que os preços globais recuem quando isso acontecer.
As exportações de robusta do Brasil normalmente aumentam entre junho e setembro.
O Vietnã, disseram traders, antecipou as exportações na temporada atual, que vai de outubro a setembro. Dados alfandegários mostram que os embarques dispararam quase 14% no ano passado, mas caíram 5,5% nos primeiros quatro meses deste ano.
"É um ambiente muito complicado (no momento) porque a atual safra do Vietnã está cerca de 90% vendida. De onde virá o café (do Vietnã) nos próximos meses, não sei", disse um trader europeu.
As coisas não melhoraram muito na Indonésia, o terceiro maior produtor mundial de robusta, onde os traders veem a produção na safra de maio a julho cair de 20 a 30%.
Um trader da Ásia disse à Reuters que é quase impossível comprar grãos robusta no Vietnã no momento, e está muito caro garanti-los na Indonésia.
(Reportagem de Maytaal Angel em Londres; reportagem adicional de Marcelo Teixeira em Nova York e Phuong Nguyen em Hanói)