Cafeicultura regenerativa é tema de encontro da cadeia produtiva
O Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) participou do segundo encontro da Comunidade de Prática (CdP), da fase lll do Projeto Coffee&Climate, promovido pela Fundação Neumann do Brasil, nos dias 13 e 14 de abril, em Paraguaçu (MG). O evento foi sediado pela Cooperativa Mista Agropecuária de Paraguaçu (Coomap) e teve o objetivo de discutir as práticas em desenvolvimento no país relacionadas à cafeicultura regenerativa.
“O tema é de grande importância para o setor cafeeiro e está conectado aos principais desafios da economia global, que são a necessidade de equilibrar a mitigação das mudanças climáticas e a preservação dos ecossistemas e da biodiversidade, com a garantia de segurança alimentar e regularidade de oferta de energia e de matérias-primas sustentáveis para a manutenção dos processos produtivos”, comenta Silvia Pizzol, gestora de Responsabilidade Social e Sustentabilidade do Cecafé.
Ela comenta, ainda, que essa é uma tendência de mercado, visto que as grandes multinacionais do setor agroalimentar, atentas à crescente demanda dos consumidores por alimentos e bebidas saudáveis e sustentáveis e aos riscos ao abastecimento de matérias-primas, devido às irregularidades climáticas, estão aderindo à agricultura regenerativa como estratégia de sustentabilidade. “Nestlé, PepsiCo e Unilever, por exemplo, priorizam esse modelo produtivo, estabelecendo metas de fornecimento ou sinalizando investimentos para conversão dos sistemas adotados pelas fazendas fornecedoras”, expõe.
No primeiro dia do evento, os atores da cadeia café, incluindo lideranças jovens, mulheres e organizações de representação dos diferentes segmentos, participaram de uma discussão técnica com especialistas e acadêmicos. Ministrando a palestra “Combinando ciência e prática para o fortalecimento da vida do solo através da cafeicultura regenerativa”, o professor da Universidade Federal de Lavras, Teotônio Soares de Carvalho, abordou a importância de práticas que potencializam o efeito “rizosférico”, ou seja o aumento da atividade e da diversidade microbiana, gerando impactos positivos nas propriedades físicas, químicas e biológicas do solo. Entre essas práticas, está a manutenção de cobertura vegetal mais extensa e diversa na entrelinha do café.
O consultor César Candiano (Experimental Agrícola do Brasil/illycaffè) ministrou a palestra “Boas Práticas Agrícolas: Rumo à Cafeicultura Regenerativa”, abordando a importância do uso de resíduos orgânicos (compostagem); adubação organomineral e adubos de liberação lenta; plantio na entrelinha do café e a diminuição do uso de defensivos agrícolas via um eficiente manejo integrado de pragas (MIP), com introdução de controle biológico. “Esta é uma boa prática de grande importância para o acesso a mercados, devido à tendência de redução dos limites máximos de resíduos (LMRs) de agroquímicos em importantes destinos de exportação do café brasileiro”, explica Silvia.
A gestora anota que, durante as discussões, apontou-se que as práticas regenerativas devem ser baseadas em comprovação técnica e estudos científicos, além de haver a necessidade de se respeitar um período de transição da produção convencional. “Para apoiar essa transição, é fundamental integrar diferentes áreas de conhecimentos, inclusive acadêmicos e empíricos, para que, de fato, sejam alcançados os manejos regenerativos”, reforça.
No dia 14, os participantes da CdP visitaram propriedades cafeeiras que estão implementando as práticas de agricultura regenerativa, em especial produção “on farm” de insumos biológicos e a manutenção de cobertura vegetal na entrelinha do café. “As boas práticas apreciadas e discutidas ao longo dos dois dias da CdP impactam positivamente o sequestro de carbono no solo e reduzem as emissões de gases de efeito estufa das lavouras, contribuindo para a mitigação das mudanças climáticas”, revela Silvia.
Esse benefício, completa, foi quantificado em pesquisa promovida pelo Cecafé, com condução científica do professor da Esalq/USP, Carlos Cerri, e do Imaflora, que avaliou o impacto da transição de práticas convencionais em fazendas de café para aquelas que aportam mais matéria orgânica no solo e mantém este sob cobertura vegetal. “O resultado destaca a magnitude do serviço ambiental associado aos cafés do Brasil, pois foi obtido um balanço negativo de carbono da ordem de 10,5 t CO2eq/ha de café cultivado”, conclui a gestora do Cecafé.