Dia Mundial do Café: Safra se aproxima com leve recuperação e pautada na agenda ESG pelo mercado internacional

Publicado em 14/04/2023 10:38 e atualizado em 14/04/2023 11:23
Principais setores de café do Brasil falam ao Notícias Agrícolas as expectativas de produção e mercado para novo ciclo que começa em maio

Presente em pelo menos 98% dos lares no Brasil, chegando a mais de 120 países por ano, o café tem um dia mundial para chamar só de seu. Neste 14 de abril é comemorado o Dia Mundial do Café e o que chama atenção na data é que ela antecede um dos momentos mais emblemáticos para o setor a nível mundial: A colheita da safra no Brasil. 

Os olhos do mercado estão voltados para a produção brasileira, na expectativa de uma recuperação após anos tão desafiadores com as condições climáticas tão adversas. Ao mesmo tempo, sabendo a potência que só a cafeicultura brasileira tem, que há mais de 150 anos se mantém líder em pesquisa e produção, o mercado também exige cada vez mais qualidade e sustentabilidade da origem produtora que abastece o mundo. 

Sustentabilidade e qualidade têm sido palavras de ordens e que abrem portas para o produtor brasileiro no mercado internacional.  Mas e aqui no Brasil? Quais são as expectativas do setor para a safra que se aproxima? 

Na maior região produtora de café do mundo, no sul de Minas Gerais, apesar das lavouras ainda não apresentarem potencial máximo de produção, as expectativas são positivas para o ciclo que deve se iniciar na reta final de maio. 

"Tivemos pandemia, crise econômica mundial, guerra na Ucrânia, instabilidades climáticas (seca, geada, granizo), mas nada disso tirou o ânimo dos cafeicultores. Nossas expectativas são boas para este ano e a safra deve começar no período estimado.   Acreditamos que o consumo de café não diminuirá. O Brasil tem vantagens sobre outros players para atender o mercado, considerando produtividade, qualidade e até mesmo o clima", destaca ao Notícias Agrícolas o Carlos Augusto Rodrigues de Melo, presidente da Cooxupé, maior cooperativa de café do mundo. 

Em termos de volume, a cooperativa destaca o desempenho mais positivo esperado para a safra de 2023, com expectativa de produção de cerca de 8 milhões de sacas na área de atuação da Cooxupé. "Este ano, como dito, teremos novamente uma produção baixa e nesse sentido o produtor deve trazer os seus custos de produção na ponta do lápis. Conhecer o seu custo de produção, permite que ele faça uma boa gestão de sua propriedade e também participar do mercado quando este oferecer boas oportunidades", afirma o presidente. 

O produtor na região do Sul de Minas Gerais já virou a chave quando o assunto é qualidade da bebida. O presidente ressalta que é de extrema importância que o Brasil continue traçando os objetivos da cafeicultura em prol de uma produção de qualidade. "O mundo hoje busca por esses cafés. Temos convicção de que o produtor não abrirá mais mão de buscar essa esta qualidade", afirma. 

Ainda no Sul de Minas Gerais, a cooperativa Minasul também aposta em uma safra mais positiva em termos de volumes para este ano. Em relação à colheita, José Marcos Rafael Magalhães - presidente da cooperativa, afirma que algumas variedades na região da Furnas já apresentam condições para início da safra. 

"Ali a maturação é realmente a frente das demais, então já começou a aparecer alguns cafés. Mas de modo geral esperamos a colheita dentro do esperado, a partir de maio. Será bem melhor que nos últimos anos, mas não chegará aos números de 2020. O que estamos vendo é que pelo enchimento dos grãos teremos um rendimento melhor do que se esperava", afirma. 

Entre as dificuldades para o produtor, Magalhães destaca a dificuldade em contratação de mão de obra - um dos principais gargalos da cafeicultura. O setor trabalha junto ao Ministério do Trabalho para garantir a contratação de safristas, mas ainda não há nenhuma resolução oficial para a safra prestes a começar. As ações em Brasília estão sendo direcionadas pelo Conselho Nacional do Café (CNC).

ESG: Mercado do café mais do que nunca é pautado pela agenda ESG

As demandas internacionais pelo café do Brasil são cada vez mais exigentes. As práticas ESG são uma realidade para o setor e as ações junto ao comércio exterior têm sido pautadas em comprovar as boas práticas adotadas pelo cafeicultor do Brasil. 

Acompanhando de perto essas demandas, o Conselho dos Exportadores do Café do Brasil (Cecafé) destaca que é  primordial que com as novas regras de importação, o país se posicione ao mercado internacional para comprovar os bons indíces que só a cafeicultura brasileira apresenta. 

"No Dia Mundial do Café, o Cecafé reforça o papel da sustentabilidade todos os segmentos do café brasileiro, o trabalho primoso que é feito pelo produtor rural e a eficiência e organização do segmentos, em especial de exportação, que tem o principal e mais alto repasse de preço FOB ao produtor, isso é renda", comenta Marcos Matos, CEO do Cecafé. 

Neste sentido, destaca que a entidade tem focado os trabalhos na promoção de imagem do produto nacional no exterior. "Com diálogo, com nossos parceiros internacionais, com a regulação internacional, nós estamos nesse trabalho contínuo de defesa dos interesses do Brasil", complementa. 

No próximo mês de maio, o Cecafé promoverá a 9ª edição do Coffee Dinner & Summit com principal foco em debater as demandas internacionais e as oportunidades para o produtor do Brasil. 

"O mundo demanda cada vez mais produtos que respeitem a sustentabilidade, os critérios da governança socioambiental, e entendemos como crucial o Cecafé, como representante dos exportadores dos cafés do Brasil, proporcionar debates e troca de experiências a respeito desse tema", explica. 


 

Para o presidente da Cooxupé, o cooperativismo é um dos caminhos para se comprovar as ações tomadas pelo Brasil. "Os princípios: Ambiental, Social e Governança são praticados diariamente em nossas atividades. Sempre cuidamos do ambiente, onde está a fonte primeira das nossas atividades; sempre cuidamos do desenvolvimento econômico e social das nossas pessoas e comunidades e sempre tivemos uma governança participativa", afirma o presidente. 

Além disso, destaca que a mentalidade do consumidor de café mundo afora mudou nos últimos anos. "O mercado e os consumidores globais estão cada vez mais exigentes em consumir um café de qualidade e, sobretudo, com procedência, respeitando os pilares sustentáveis (social, ambiental e econômico).  Produzimos café para o mundo e para um novo consumidor cada vez mais exigente e que vem apresentando uma nova mentalidade. Um consumidor engajado com boas práticas perante o mercado e que tem suas decisões pautadas na sustentabilidade", afirma. 

No mesmo sentido, José Marcos destaca que o produtor brasileiro também é líder absoluto nessas práticas, mas reconhece a necessidade de evidenciar tudo isso para o mercado interncional. "O produtor brasileiro já é o que mais prática a conservação, mas precisamos colocar isso de forma mais clara, mostrar para o mundo. E o social também, nossas leis também são rígidas e temos uma condição de atuar nesse campo do social de maneira brilhante", afirma. 

Reduzir taxas pode ajudar o país a avançar com exportação do solúvel 

Já para Aguinaldo José de Lima, Diretor de Relações Institucionaisda Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel (Abics), o caminho para manter o Brasil nos níveis atuais vai além do campo, destacando a importância do fortalecimento da cadeia como um todo. "Assim mais demanda  a gente cria para o produtor brasileiro. Os acordos internacionais são fundamentais para o Brasil, os acordos são que eliminam tarifas são importantes porque o Brasil é muito tarifado lá fora", comenta. 

Ressalta ainda que o setor está otimista para o acordo entre União Europeia e Mercosul, que deve reduzir em 9% as tarifas do café solúvel brasileiro. "Nós temos países com bastante importância em termos de consumo, mas que acabam ficando com bastante dificuldade, pouca competitividade por conta desses acordos. O trabalho que nós estamos fazendo é nesse sentido de criar janelas de oportunidades de negociações que as vezes nem precisam envolver o Mercosul, negociações de criação de cotas e que podem ocorrer possibilidade de exportação", afirma. 

Já no mercado nacional, onde o consumo está em constante evolução, a ABICS vem trabalhando para apresentar as diversas possibilidades que esse café apresenta. Ressaltou ainda que neste momento a Associação trabalha na criação de um selo de qualidade, que será apresentado ao mercado logo após a criação da nova metodologia para avaliação sensorial do solúvel, apresentada ao mercado internacional no ano passado.

"Por fim, a grande mensagem que nosso setor deixa para o Dia Mundial do Café, é que o café é um patrimônio legítimo princiapalmente do Brasil. E nós temos o dever de lutar por ele, de propagá-lo, cada vez mais criar mercados e nada melhor do que comermorarmos todos juntos o dia que representa a atividade da nossa vida, das nossas áreas profissionais que estamos envolvidos e o café solúvel faz parte desta grande família", finaliza. 

BSCA: Ações de promoção de imagem continuam em 2023

Segundo Vinicius Estrela, diretor executivo da Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA), a retomada da agenda internacional colocou o país em patamares elevados no exterior. A entidade representou o país em cerca de 20 ações no exterior.  "Dentre elas destacamos o retorno presencial da participação brasileira em feiras na Asia, notadamente, Japão, Coreia do Sul e Australia, bem como em mercados tradicionais como dos EUA e Europa. Em 2023 planejamos ainda mais ações e parcerias para impulsionar o crescimento da cadeia de valor em torno dos cafés especiais", afirma. 

 

Por: Virgínia Alves
Fonte: Notícias Agrícolas

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