"Área desmatada não deveria ser um problema para os cafés do Brasil", afirma presidente da illy
"Sobre a área desmatada não acho que deveria ser um problema para os cafés do Brasil", afirmou Andrea Illy - presidente da illy café, sobre as novas regras de importação da União Europeia, em coletiva realizada na manhã desta quinta-feira (2) em São Paulo.
Há mais de 30 anos a illy é uma das principais compradoras de café do Brasil. Em uma agenda recente pautada em mais do que qualidade, mas também em sustentabilidade, a empresa está atenta às práticas adotadas pelos produtores brasileiros e também as novas regras de importação da UE.
Andrea destacou que as novas leis fazem parte de uma estratégia adotada pela Europa para acompanhar a fase de transição da ecológica que naturalmente está acontecendo com a economia global.
"É o caminho do não sustentável, para o sustentável. Já aconteceu com alguns herbicidas e tudo mais. Sobre as áreas desmatadas não acho que deveria ser um problema para o Brasil. Aqui se tem 2 milhões de hectares de café e ainda tem muitas terras que ainda podem ter café sem desmatar, o Brasil tem reserva para aumentar a sua produtividade", disse.
O porta-voz ressaltou ainda que todas as pontas da cadeia cafeeira podem ajudar a resolver os futuros impasses. "Há áreas desmatadas nas origens, mas não é claro onde estão essas áreas. A Organização Internacional do Café (OIC) pode ajudar a resolver esses problemas. É um processo legislativo um pouco complexo, típico da União Europeia", disse.
Nos últimos anos a illy vem focando os trabalhos em avançar com a agricultura regenerativa em áreas de café. Neste sentido, o foco é fazer a transição da cafeicultura tradicional para a regenerativa, contemplando vegetação e solo. A prática já tem sido adotada por produtores de café nas principais regiões do país.
"O Brasil é um ponto muito importante e no ponto de vista da biosfera, é país mais importante do mundo", afirmou. O empresário comentou ainda que a illy segue investindo em muita pesquisa para que a transição entre os modelos de produção seja eficaz. "Nada disse é linear, tudo isso precisa ser estudado e é isso que estamos fazendo", disse.
Qualidade dos cafés do Brasil
Pelo menos 50% dos cafés comprados pela illy no mundo são provenientes das lavouras brasileira. Responsável por um dos prêmios mais tradicionais da cafeicultura, a torrefadora também reconhece que o cafeicultor do Brasil cada vez mais se empenha em entregar qualidade, sobretudo após anos de desafios climáticos.
Prova disso, é que os números atuais da illy mostraram que mais de 70% dos cafés recebidos pela torrefadora atendem a demanda de café de alta qualidade, deixando o concurso cada vez mais acirrado.
"Nós sentimos muito positivamente e tivemos dificuldades em selecionar os 40 finalistas e depois os primeiros colocados, está muito difícil. Temos um de análise muito qualificado que dá conta dessa dificuldade de selecionar a qualidade de café. A cada ano, temos mais dificuldade, felizmente", finaliza a illy.
Histórico
O acordo que impede a importação de commodities ligadas ao desmatamento foi assinado em dezembro. No dia 13 de setembro de 2022, o Parlamento Europeu já havia aprovado as novas regras, que agora também foram aceitas pelo executivo. Segundo informações publicadas pela Comissão Europeia, uma vez adotada e aplicada, a nova lei garantirá que um conjunto de bens essenciais colocados no mercado da UE deixará de contribuir para o desmatamento e a degradação florestal na UE e em outras partes do mundo.
Vale lembrar que as novas regras de importação podem afetar as compras de soja, café, carne bovina, cacau, madeira e óleo de palma. Produtos derivados e manufaturados como chocolate, papel impresso e móveis também deverão ser incluídos.
Novas regras de due diligence para empresas
O novo regulamento estabelece fortes regras obrigatórias de due diligence para empresas que desejam colocar produtos relevantes no mercado da UE ou exportá-los. Operadores e comerciantes terão que provar que os produtos são livres de desmatamento (produzidos em terras que não foram sujeitas a desmatamento após 31 de dezembro de 2020) e legais (em conformidade com todas as leis relevantes aplicáveis em vigor no país de produção).
As novas regras pedem que as empresas coletem informações precisas sobre as áreas de produção agrícolas. O não cumprimento pode resultar em multas e até mesmo no impedimento de vendas para União Europeia.
"O acordo político de hoje sobre a lei de desmatamento da UE marca um importante ponto de virada na luta global contra o desmatamento. Ao fazermos a transição verde na União Europeia, também queremos garantir que nossas cadeias de valor também se tornem mais sustentáveis. Combater o desmatamento é uma tarefa urgente para esta geração e um grande legado a ser deixado para a próxima", afirma Frans Timmermans, Vice-Presidente Executivo do European Green Deal à publicação da Comissão Europeia na época.