Das geadas no Paraná ao café de 90 pontos e mais caro do Cerrado Mineiro: Conheça a história da família Naimeg

Publicado em 12/02/2023 10:39 e atualizado em 27/02/2023 13:24
Há mais de 40 anos produzindo café, safra 22 se destacou pela qualidade e pelo recorde de R$ 62.017,00 no leilão do prêmio, sendo o café mais caro do ciclo

Você acompanhou aqui no Notícias Agrícolas que o ano de 2022 foi marcado pelo 50 anos de café no Cerrado Mineiro. Conhecemos algumas histórias que fizeram a região se tornar a potência que é na produção de cafés de qualidade, mas ainda há muito o que desbravar com quem, lá trás, desbravou terra desconhecida, ainda com potencial duvidoso e que meio século depois se tornou uma das principais áreas de produção de arábica do mundo. 

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O Entrelinhas do Cafezal de hoje volta ao coração do Cerrado Mineiro, na cidade de Patrocínio, para conhecer a história da família Naimeg, que além de fazer parte de uma trajetória de sucesso, também se consagrou como café mais valioso da safra 22, batendo recorde de valores de todos esses anos de café na região. 

Mas, para entender como a família chegou aos patamares atuais, como sempre é preciso voltar no tempo. Assim como parte das histórias do Cerrado, tudo começou no Paraná. Foi no ano de 62 que a família comprou a primeira área destinada ao agronegócio. Mas foi em 65 que o primeiro pé de café foi plantado no norte do Paraná. 

O primeiro susto com geada foi em 75, depois em 78 e na sequência em 81. Jorge Naimeg, um dos filhos a frente dos negócios da família hoje, relembra que após seis anos de frio intenso, seu pai decidiu por procurar novas áreas para seguir com a cafeicultura. 

Naquela época, os primeiros produtores começavam a chegar para desbravar o Cerrado Mineiro. Foi uma terra na micro região do Pântano que seu pai se apaixonou e deu início a uma cafeicultura que desde seu primeiro plantio já foi de qualidade, característica intrínseca do Cerrado. 

 

"Buscando outras fronteiras para plantar café, meu pai conheceu a região do Pântano e ficou apaixonado pela área, aos poucos deu início ao plantio de café", conta. Nos primeiros anos, a família ficou dividida entre Paraná e Minas Gerais. 

A partir de 1988 todos se mudaram para Minas e até meados de 1992 a produção era focada apenas em quantidade, até que a primeira participação no concurso de qualidade da illy "virou a chave" para o café de qualidade - que já era produzido pela família, mas com potencial ainda desconhecido por eles. 

Foi também em 1992 que a primeira amostra de café da família Naimeg foi enviado para análise da illy - desde então, um dos principais responsáveis por levar o café brasileiro mundo afora. Reconhecendo o potencial de qualidade na xícara e oportunidades do mercado, a família passou a investir mais pesado também em infraestrutura. 

Em 1999 começou a trabalhar na produção de cereja descascado, em 2002 investiu no terreiro suspenso e em 2011 apostou na estrutura de classificação e prova no próprio negócio. Em 2017, foi a vez dos testes com leveduras. "Nós sempre estamos buscando inovar, sempre procurando melhorar os processos e há 30 anos, sem pausa, somos fornecedores de café para illy", conta. 

 

O mapeamento de qualidade da safra também passou a ser parte crucial do planejamento da safra da família Naimeg. A partir desses dados, todo o processo é planejado, focando sempre na qualidade. "O que é importante deixar claro é que não paramos a fazenda para fazer "lote de concurso". Todo o processo envolve muita pesquisa, muito conhecimento e os prêmios acabam sendo um reconhecimento desse trabalho que fazemos diariamente", afirma Jorge. 

Atualmente quatro irmãos tocam o agronegócio café da família. Mas a curiosidade por sempre inovar é uma herança do pai. Segundo Jorge, muito simples, mas sempre muito curioso, é uma característica da família essa busca por inovação constante. 

"É nosso jeito de trabalho: sempre ir atrás de melhoria, sempre estudando, antenados, saber como está indo o mercado, entender o que o consumidor quer. Hoje o consumidor quer provar tudo o que tem diferente, ele tem perfil sensorial, temos que continuar estudando as alternativas. Ainda mais que um café da mesma variedade, dependendo o processo, apresenta características diferentes na xícara", comenta. 


Café mais valioso do Cerrado Mineiro na safra 2022/23

Os resultados foram ainda mais surpreendentes na safra de 2022, depois de dois anos de muito impasse climático com seca prolongada e até geada atingindo a região no período. 

De variedade natural, com as notas sensoriais que remetem às frutas vermelhas, cana de açúcar, floral, açúcar mascavo, o café de Jorge Fernando recebeu uma pontuação de 90.75 na escala da SCA (Specialty Coffee Association). Além disso, atingiu valor recorde de negociação, com R$ 62.017,00 no leilão do prêmio, sendo o café mais caro da safra 2022/2023.

“Uma curiosidade desse café é que o quilo torrado valorizou ainda a excepcionalidade, que custou R$ 1.240,34. Isso é o que chamamos de recompensa pela qualidade e complexidade de aromas e sabor da bebida”, destaca Maurício Maciel, Gerente e Barista da Cafeteria Dulcerrado.

10° Prêmio da Região do Cerrado Mineiro

Para Juliano Tarabal - Superintendente da Federação dos Cafeicultores do Cerrado Mineiro, o resultado da família Naimeg é motivo de orgulho para todos envolvidos na cadeia cafeeira na região.

“A família Naimeg tem uma trajetória brilhante no Cerrado Mineiro. Como imigrantes e Pioneiros que são, liderados pelo patriarca Gerson Naimeg, se estabelecerão na microrregião do Pântano, no município de Coromandel, conseguirão “domar” este terroir belíssimo e hoje elaboram ali alguns dos melhoras cafés não só do cerrado mineiro mas do brasil, com um saber fazer muito particular, fruto da dedicação se todos os filhos de seu Gerson que hoje estão envolvidos no negócio. Sempre foram muito atuantes junto as associações e cooperativas do sistema RCM, portanto seus resultados e consistência não é por acaso e nos da muito orgulho", afirma. 

Para Jorge, os desafios continuam e já é hora de pensar nas próximas safras. "Hoje todo mundo faz café. A régua da qualidade subiu muito, para você surpreender é preciso se dedicar e continuar tentando. O prêmio de 2022 é resultado de um trabalho duradouro, de fazer o processo correto e saber que cada ano é diferente. O que temos certeza é de não deixar o café, está no sangue, o café sempre esteve na nossa família e agora vamos trabalhar para tornar esse negócio ainda mais atraente para os nossos filhos. O trabalho continua", finaliza. 

 

Por: Virgínia Alves
Fonte: Notícias Agrícolas

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