Campo, espresso e legado: Em região vulcânica, família se destaca com produção de café que começou há mais de 100 anos

Publicado em 16/12/2022 18:39 e atualizado em 18/12/2022 12:11
Quando a onda do espresso chegou no Brasil, família encontrou uma nova boa oportunidade para fazer negócio

É inevitável: todas as vezes que vemos um tucano por aí ficamos admirados. A ave que se destaca pelo bico grande e colorido, chama atenção das crianças pequenas e também de quem já está na melhor idade. Mas, em uma fazenda na região da Mogiana Paulista, o tucano representa muito mais: história, família, aconchego, saudades e café. 

A história da Fazenda Floresta já está na segunda geração de produção de café arábica. Em uma região privilegiada, com microclima e terroir diferenciados, em uma localização com mais de 1.100 metros de altitude e solo vulcânico a família Meirelles vem construindo um legado de cafés de qualidade, cuidado com o meio ambiente, muita conexão com a natureza e que, principalmente, de olhar para o agronegócio café além do tradicional, criando um universo de oportunidades com a cafeicultura. 

São Sebastião da Grama, em São Paulo

Mas para explicar a referência do tucano no início do texto, é preciso voltar no tempo. Acontece que ali naquela região o tucano está sempre presente sobrevoando o cafezal. Exatamente no mesmo lugar em que Jairo Meirelles deu sequência aos trabalhos que começaram a mais 100 anos.

Jairo é pai de Camila, Carolina e Cristina Meirelles, faleceu em 2016 com 68 anos, mas deixou nas filhas a paixão pela cafeicultura e práticas que são utilizadas até os dias atuais na fazenda. Hoje, a marca do café carrega a imagem de um tucano que, segundo as irmãs, representa que o pai - seja na fazenda, na cafeteria e até no supermercado, continue participando de cada nova conquista família. 

 

Há 35 anos, quando o Brasil começava a pensar em cafés especiais, para seu Jairo isso já era uma realidade. "Ele brincava que ele não era bom suficiente para fazer café ruim. Ele sempre, ele tinha dificuldade com o café especial. Quando ele levava esse café puro, estamos falando de 35 anos atrás, as pessoas falavam que parecia água de batata. Foi sofrido esse começo das pessoas experimentarem esse café que era diferente para a época", conta a filha Carolina ao Entrelinhas do Cafezal

Mesmo com certa resistência do consumidor final em conhecer os cafés de qualidade, seu Jairo continuou na empreitada e manteve os bons cuidados na linha de produção. Foi quando, há mais ou menos 25 anos, começou no Brasil o movimento de máquina de café espresso, ali ele encontrou uma nova oportunidade de negócio. 

Qualidade do campo à xícara: a história começou assim 

As irmãs contam que o café especial nessas máquinas começou a agradar o paladar do consumidor. "Esse café ficava uma delícia porque os cafés de mercado eram cafés muito torrados, fortes e o espresso intensifica tudo. Foi quando meu pai encontrou um nicho muito bom para crescer porque nosso café espresso era muito bem e a gente cresceu muito por muitos anos", afirmam. 

Durante 20 anos a maior propaganda e marketing da família foi a recomendação de uma empresa para outra. A família avançou com esse modelo de negócio, atendendo principalmente empresas privadas com aluguel de máquinas e vendas dos cafés produzidos no estado de São Paulo. 

"Com o tempo, mais ou menos em 2001, nós começamos com as primeiras máquinas multibebidas, incluindo chá, leite e então, passamos a ter a solução completa de todos itens que se precisava para uma empresa. Fomos nos especializando cada vez mais nesse mercado corporativo, sempre com bebidas boas, cafés de qualidade, leite de verdade, realmente com um nível de bebida de alto padrão", explica Camila Mereilles. 

Vendo a paixão do pai pela cafeicultura e empreendedorismo, as três irmãs que tinham profissões distintas (advocacia, relações públicas e engenharia de alimentos) fora da fazenda, aos poucos, uma por uma, foi voltando para os negócios da família, trabalhando todos juntos. 

"Nós três viemos para o café por vontade própria. As três estavam no mercado, pedimos demissão e viemos trabalhar aqui. Estava tudo muito bom, até que meu pai faleceu. Nós três já estávamos com ele e de repente perdemos o chão porque ele era o nosso herói, nosso ídolo e parece que a gente pegou uma missão de honrar tudo o que ele tinha feito e deixado pra gente. Nos reorganizamos na empresa, cada uma ficou com uma área", relembra emocionada. 

Com o passar dos anos, as três passaram então a cada uma a assumir uma atividade nos negócios. Juntas passaram a tocar as atividades do campo ao atendimento aos clientes, dando continuidade nos trabalhos. Foi em 2020, com a pandemia da Covid-19, quem um novo período de desafios começou. 

Com as restrições de combate ao vírus, o público alvo da Fazenda Floresta precisou ir para casa, deixando assim uma lacuna nos negócios principalmente porque, naquele período, não haviam expectativas de uma retomada com o mundo inteiro ainda tentando entender o impacto que a Covid-19 traria no pequeno, médio e longo prazo. 

"Não vendemos café. Ficamos um tempão sem vender café. Sobrevivemos e agora está tudo bem. Mas, a gente já tinha, no final de 2019 comprado todo o material para reformar a torrefação. Os cinco meses que ficamos fechados, reformamos tudo, fizemos uma torrefação novinha. Fomos nos reorganizamos em todos esses anos sem o nosso pai e as coisas foram se encaixando, começamos a ganhar alguns prêmios", conta. 

Além das mudanças administrativas, as irmãs decidiram fazer o plantio de uma área nova fazenda. E é com cultivar Arara, que elas começaram a escrever um novo capítulo nessa história, mas sem deixar de lado todo o aprendizado repassado pelo pai. No plantio, utilizaram a base de conhecimento adquirida com o pai: seguindo as recomendações que são principalmente pautadas em sustentabilidade. 

"E tudo isso sempre com a missão de honrar e seguir com o legado que ele nos deixou. E isso deu uma força que a gente acabou mexendo demais na empresa e revolucionando muita coisa", complementa.  As mudanças também foram realizadas em um reposionamento da marca. As dificuldades da pandemia também abriram os horizontes, foi ali que elas viram outras oportunidades: o varejo. 

Os cafés da Família Meirelles atendem todos os gostos, para conhecer mais, acesse aqui

"A gente recriou a nossa marca. É o mesmo nome, mas uma nova cara, mas totalmente diferente. Mudou essa cara, no logo da empresa a gente tem uma história muito bonita com os tucanos e sempre que a gente está em momentos importantes e especiais para nossa família, a gente sempre vê os tucanos. Então, de alguma forma, esse tucano é uma homenagem ao nosso pai. A gente mudou toda a cara, mas agora ele faz parte do logo", comenta Camila Meirelles. 

A primeira embalagem do Café Fazenda 

Comercializando o café por todo o Brasil, elas comentam que o objetivo é seguir produzindo cafés cada vez mais especiais, mas, além disso, propagar o consumo de bons cafés em todas as regiões. "É para ele que tudo isso foi feito. Porque a gente tem muita coisa nova que estamos fazendo, mas temos um respeito muito grande por tudo que nos trouxe até aqui. Erámos completamente enlouquecidas por ele, então a gente tem um respeito muito grande com isso. O sonho que era dele, virou nosso e a gente continuar o que ele começou. Ele está em tudo, sempre esteve. Tudo sempre foi dele", comenta Camila. 

Nova era do café: Modernidade e atendendo vários públicos

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Daqui para frente o céu é o limite. Após ganharem alguns concursos, inclusive conquistando o título de terceiro melhor café do estado de São Paulo recentemente, elas esperam mais e avançar com os negócios. 

As mulheres da família Meirelles

Como sempre, encontrar com as famílias produtoras de café no Entrelinhas do Cafezal é também conhecer e reconhecer as boas histórias que fazem a cafeicultura brasileira ser a potência que é. Conversar com as irmãs, mais do que nunca, coloca em pauta o que sempre falamos: As atuais práticas aliadas ao conhecimento e a paixão de produzir continuam sendo ingredientes perfeitos para a produção de café especial. 

E, quanto ao seu Jairo que conhecemos através das filhas, temos a certeza de que a importância e paixão pela cafeicultura foram repassadas, de forma natural, mas com muito sucesso para as três. Nas embalagens de café, nas fotos e recordações, em uma bate-papo é possível notar: Jairo Meirelles continua envolvido em tudo o que essa família faz: 

"Ele ensinou a gente acreditar demais nos nossos sonhos. Ensinou a gente a ter coragem porque ele era muito otimista. Era do tipo: sem saber que era impossível, ele foi lá e fez. Ele criou tudo isso. Ensinou a gente acreditar na gente mesmo, no nosso produto. Ele acreditava que o café dele era o melhor do mundo. É isso que a gente leva dele, essa vontade de levar e enfrentar o mundo com essa coragem", comenta Carolina sobre o legado deixado pelo pai. 

"Você não tem medo de sonhar, você vai ter o quiser, do jeito que quiser, ele era assim. Uma pessoa de bem com a vida, uma pessoa muito simples, valorizava as coisas mais simples que a vida tem. Para ele, os momentos juntos não precisava de nada para ser feliz", comenta Camila. 

"Eu acho que o legado que nosso pai deixou, em primeiro lugar, foi a união da nossa família, o valor do nosso trabalho e a perseverança. Nos ensinou a empreender, a ter coragem, ter alegria nas pequenas coisas e a sonhar, ele sempre foi um sonhador", finaliza Cristina. 

 

Por: Virgínia Alves
Fonte: Notícias Agrícolas

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