Família no ES foca em "Agricultura Biodinâmica" com foco não só na sustentabilidade, mas também em mostrar a qualidade do conilon no mercado internacional
O Entrelinhas do Cafezal deste domingo (9) vai mais longe. Desta vez, nossa parada será no estado do Espírito Santo, o coração da produção de café tipo conilon no Brasil e que nos últimos anos vem se destacando não só com a produtividade, mas também com qualidade da bebida produzida no estado.
Na quarta geração de produção, a história do café Giori começou a mudar em 2014, quando Conceição Giori, visando uma produção mais sustentável implementou novas práticas agrícolas na fazenda que conta com 75 hectares, antes destinados para o arábica, mas agora que produzem conilon com qualidade, sustentabilidade e importantes certificações internacionais.
Conceição, que além de cafeicultora também exerce a profissão de advogada criminalista, conta que encontrou na produção uma nova ideologia. "Nosso café não é só café, é uma filosofia de vida. É feito com muito amor, trabalhamos com foco de trazer benefícios além daquilo que poderia ser percebido superficialmente pelo consumidor final", conta ao Entrelinhas.
"Somos uma família de cafeicultores unida pela crença de que é possível curar o mundo através da cafeicultura consciente e que é possível superar o preconceito infundado em relação aos robustas, provando que o sabor e a qualidade mais se relacionam às boas práticas e ao conhecimento do que se faz, do que simplesmente a uma espécie! Café especial é café saudável, café saudável é café que faz bem!", conta.
O manejo aplicado na fazenda é chamado de "Agricultura Biodinâmica", que tem como foco o sistema de base ecológica. Segundo uma publicação da Embrapa, a Agricultura Biodinâmica possui suas características próprias. Fazer agricultura biodinâmica é fazer agricultura ecológica e orgânica, mas os alimentos são ainda mais diferenciados e valorizados pela sua qualidade excepcional.
Com cafés que alcançam a marca de 84 pontos, a produtora explica que o canephora entrou para a história da família com o propósito de mostrar que é possível entregar um café de qualidade sem ser da cultivar do café arábica, destacando assim o desafio de quebrar os paradigmas existentes no mercado.
"Vimos aqui que o café uma boa bebida é o manejo, atitudes e ações colaborativas e isso também nos faz crescer como humanidade. Mostrar que não tem porquê ter essa competição entre arábica ou outros tipos de café. Não há competição, mas sim colaboração para todos", comenta.
Apesar do manejo biodinâmico ter começado há alguns anos, o processo de implementação na fazenda ainda está acontecendo. Parte da área está passando por processo de renovação. "Neste período foi observado a planta que melhor se adaptou ao clima, à seca. Estamos renovando justamente para colocar em toda fazenda a cultivar que melhor se adaptou ao manejo", comenta. A família também implementou sistemas para favorecer a preservação das águas.
O primeiro passo para mudar o cultivo foi entender a base de como a produção funcionava na prática. "A base foi aprender a entender o ciclo, compreender as plantas, a natureza. Trazer toda a sabedoria dos mais antigos na recuperação nessa área. Acreditamos piamente sobre o impacto e a influência de cada ser no conjunto", comenta.
"A gente tem que descobrir, experimentar e desenvolver muita coisa por nós mesmos porque é escassa a assistência técnica com mais experiência em orgânicos (nem se diga com relação à biodinâmica, que é mais complexa e avançada). Então, se por um lado temos visto essa demanda maior e uma valorização maior dos alimentos orgânicos, por outro
há imensos desafios no acerto das técnicas produtivas com vistas a manter
produtividade e qualidade", explica.
Afirma ainda que, na outra ponta, com relação a consumidor final, há outros gargalos que acreditamos que vão diminuir com o tempo. Um deles é a pouca compreensão do que seja um alimento verdadeiramente orgânico e biodinâmico, o que não se restringe a apenas deixar de usar pesticidas e adubos químicos, mas que requer controle e registro de processos, atenção à rastreabilidade, cumprimento de exigências ambientais, submeter a fazenda, seus documentos e registros a auditorias anuais, dentre outros.
"Além disso, o público ainda está aprendendo a conferir as certificações e os mecanismos de controle que dão credibilidade ao processo e muita gente ainda deixa de observar se o produto dito orgânico tem realmente o selo “Orgânicos do Brasil”, afirma.
A cafeicultora se orgulha em contar que o café produzido no município de Cachoeiro de Itapemirim, cumpre com as principais regras da agricultura orgânica. "Além da certificação brasileira para produtos orgânicos (o selo “Orgânicos do Brasil”), também temos a certificação orgânica para a União Europeia, a certificação USDA (NOP), para o mercado norte-americano, IFOAM que garante equivalência para mais de 137 países, e de modo muito especial para nós, nossas práticas de agricultura biodinâmica nos dão a certificação Demeter, reconhecida no mundo todo como a mais exigente de todas as certificações", afirma.