Produção estagnada na Colômbia abre nova janela de oportunidades para os cafés de qualidade do Brasil
Os números mais recentes do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) mostraram na semana passada que a produção de café na Colômbia não deve ter alterações expressivas, ficando em torno de 13 milhões de sacas. Os problemas climáticos enfrentados pelo país vizinho já são de conhecimento do mercado, mas os números ficando abaixo até mesmo das primeiras estimativas da Federação Nacional dos Cafeicultores (FNC) - de 13,5 milhões de sacas, abrem uma nova janela de oportunidades para o agronegócio café no Brasil.
Haroldo Bonfá, analista da Pharos Consultoria, destaca alguns pontos que precisam ser avaliados para entender a produção na Colômbia, segundo país maior produtor de café arábica do mundo e grande concorrente do Brasil quando se fala em cafés de qualidade, entre eles: tipo de produção, clima e café menos competitivo. Vale lembrar que no país vizinho, a produção é composta por aproximadamente 543 mil famílias e que deste montante, 95% tem áreas com menos de 10 hectares de produção.
Enquanto no Brasil a falta de chuva quebrou a produção de 2022 na Colômbia há alguns meses a FNC justifica o excesso de chuva como principal fator limitante para o país avançar. A região que naturalmente já recebe muita chuva, viu volumes ainda mais expressivos com dois anos seguidos de atuação do fenômeno climático La Niña. Além disso, as lavouras em alta altitude impede o avanço da colheita mecanizada. "Tudo isso faz com que a safra, e principalmente a colheita não seja uniforme. São duas colheitas no ano e é possível encontrar no mesmo ramo três condições, flor, fruto nascendo e fruto maduro", comenta.
Os números atualizados trazem um "banho de água fria" para o produtor da Colômbia, segundo Haroldo. "Eles estavam animados em chegar a 14 milhões de sacas. O produtor colombiano consequentemente sente a perda de competividade, que já é grande porque o café brasileiro já é muito mais competitivo atualmente no mercado internacional. Além disso, aqui no Brasil o produtor tem a escolha de trocar o café por outras culturas quando há problemas, mas por lá a altitude não permite que a troca seja tão efetiva e a quebra na produção afeta a cadeia toda", afirma.
A estratégia de marketing, aliada às práticas adotadas resultando em cafés de qualidade provenientes da Colômbia, também já são conhecidas pelo mercado, mas Haroldo destaca que além dos fatores climáticos, o Brasil pode aproveitar a produção estagnada no país vizinho para avançar no mercado com os cafés de qualidade.
"Atualmente no Brasil nós temos um cenário muito diferente, apesar dos problemas que nós também enfrentamos por aqui. Temos as mais diferentes variedades, tipo de solo que ajuda e o momento é de mostrar para indústria que nós temos esse café para cobrir essa falta que pode ter lá na frente", comenta.
Segundo Haroldo, dois caminhos precisam ser tomados para o Brasil ampliar esse espaço no mercado internacional. O primeiro deles precisa continuar partindo das lideranças do setor, sobretudo as ações de quem lida diretamente com os compradores, em mostrar para a indústria o verdadeiro potencial do Brasil e a qualidade que o café brasileiro vem apresentando ao mercado. Ressalta ainda os trabalhos de promoção de imagem que vêm sendo feitas pelas instituições brasileiras presencialmente no exterior.
"É um trabalho importantíssimo e que precisa continuar sendo feito. Não podemos esquecer que no ano passado a própria Colômbia importou um volume muito grande de café do Brasil. Nosso diferencial é brutal de preço é brutal, o café brasileiro é muito mais competitivo e em termos de qualidade também avançamos já que o Brasil vem mantendo o protagonismo também nos cafés certificados da ICE", acrescenta.
Vale lembrar que no ano passado o volume importado do Brasil à Colômbia realmente chamou atenção do setor no país. Os dados do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) mostraram que o país foi o sétimo principal destino das exportações brasileiras, com 1,158 milhões de sacas. + Comprando cada vez mais do Brasil, Colômbia prevê exportar 12,5 milhões de sacas em 2022
Já na outra ponta, Haroldo destaca a importância do produtor continuar investindo na produção de café de qualidade. "Para manter esse mercado o produtor precisa entender a necessidade de fornecer cafés de qualidade todos os anos. É também muito importante que o produtor brasileiro que já faz um bom trabalho na lavoura, entenda também a necessidade de continuar fazendo bom trabalho depois da colheita. Aproveitar essa oportunidade e o setor continuar mostrando ao produtor que ele tem essa condição, fazer do café de qualidade uma linha de trabalho cada vez mais efetiva daqui pra frente", comenta.