Atraso na colheita do conilon ainda não traz preocupação; mercado tem preços firmes, mas pede produtor atento às negociações

Publicado em 26/05/2022 17:07

A colheita do café tipo conilon  no estado do Espírito Santo está mais lenta este ano. Produtores têm relatado nas redes sociais a dificuldade em encontrar mão de obra para avançar com os trabalhos no campo, condição reconhecida pelo Centro do Comércio de Café de Vitória, que via Márcio Cândido - presidente do CCCV, afirma que a colheita deste ano até esta quinta-feira (26), tem 5% de atraso em relação ao ciclo anterior e uma média entre 20% e 22% de área colhida no estado. 

"Sim, é uma realidade no estado, estamos observando essa falta de mão de obra, mas o grau de maturação do fruto ainda aguenta mais um tempo na planta, por isso não vemos como nada que atrapalhe a safra neste momento", afirma. 

O mercado trabalha com a expectativa de uma boa produção para o café conilon neste ano, e de acordo com o presidente este número é de, no mínimo, 22 milhões de sacas para o ciclo atual. O volume excede a capacidade de armazém existente atualmente hoje no Espírito Santo, que por muitas vezes acaba construindo armazéns temporários para manter esse café até sua comercialização. 

"Então além de não prejudicar a qualidade deste café, o produtor do conilon tem ainda esse "armazém" na própria planta, ainda dá para esperar mais um pouco e o produtor também não tem pressa para vender esse café", acrescenta. 

O número de 22 milhões de sacas é significativo, já que em 2021 só no consumo interno Brasil totalizou 21.5 milhões de sacas, de acordo com o último levantamento da Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC). Neste sentido, Márcio destaca que o volume na produção capixaba não representa excedente na oferta. 

"O mercado não trabalha com menos de 22 milhões de sacas, mas isso não representa um excedente de café. A safra de arábica está mais lenta e fica muito em cima", acrescenta. Márcio acrescenta que o mercado normalmente opera com base nas duas últimas safras, sendo assim, o cenário neste ano deve ser ainda mais apertado com o conilon mais demandado. 

Problema climático e preço 

Vale lembrar que ainda em 2020 os problemas climáticos começaram a impactar severamente a safra de cafe arábica. Seca prolongada e três geadas reduziram a capacidade de produção, e desde então o conilon tem sido fortemente demandado pela indústria no mercado interno, refletindo inclusive nas exportações do grão. Para o produtor brasileiro, com a entrada da safra do Vietnã com o café mais competitivo no exterior, tem sido mais vantajoso deixar o produto em território nacional. 

"Nós tívemos uma situação favorável para o produtor, que era alta nas bolsas e alta do dólar, e o efeito disso no café era muito relevante. Há de se lembrar que a safra 21 sofreu prejuízo na produção e a safra 22 também no arábica foi afetada pela estiagem e pela geada", comenta. 

Depois de tanta irregularidade climática, a tendência é que a recuperação na safra do Brasil aconteça só em 2023, ainda a depender das condições climáticas daqui pra frente. "Ainda no mês de maio, na semana passada, enfrentamos o mesmo período de frio e as bolsas subiram na ordem de 5%, o que mostra a sensibilidade do mercado para o frio", comenta em relação aos preços da semana passada. 

Comenta ainda que o produtor precisa estar atento aos custos do café brasileiro e o café do Vietnã. "A análise de exportação é correta, mas não se pode abandonar a relação entre preço conilon brasileiro e preço do Vietnã, já tem muito tempo que o Vietnã vem muito mais competitivo. Com a quebra substancial do arábica a indústria precisa muito do conilon, ao mesmo tempo a mesma indústria não pode se dar ao luxo de esperar o conilon vir muito abaixo. Existe a possibilidade do mercado ceder um pouco mais, estamos no início da safra", comenta. 

Márcio reforça mais uma vez a importância do produtor conhecer de ponta a ponta os custos de produção e estar atento ao preço do café em real e em dólar, e a partir disso encontrar sua margem para garantir lucratividade. "Quando os preços sobem relativamente ele deve acelerar a venda, mas quando cede reter um pouco a venda, isso é natural. O que ele tem que evitar são os pontos fora da curva que acham que os preços vão permanecer", comenta. 

O mercado, neste momento, segundo Márcio realiza ajustes natural nos preços com a entrada da safra brasileira, mas ainda assim o produtor segue observando muita volatilidade nas bolsas, sobretudo pelos fatores externos como por exemplo a guerra entre Rússia e Ucrânia, além da logística que voltou ao radar com os novos casos de Covid-19 na China.  "Não existe um excesso de produção de conilon, a safra é boa, mas o consumo interno somado à exportação, é quantidade suficiente para garantir a safra. Lembrando que hoje o conilon representa mais de 60% do blend dos cafés consumidos no Brasil", finaliza. 

Por: Virgínia Alves
Fonte: Notícias Agrícolas

NOTÍCIAS RELACIONADAS

Preço do café sobe 4% nesta terça-feira e Bolsa de NY renova máximas para cotações do arábica
Mercado cafeeiro segue em sua tendência de alta no início da tarde desta 3ª feira (26)
Chuvas regulares trazem expectativa de uma boa safra de café em Minas Gerais, diz presidente da Faemg
Mapa divulga marcas e lotes de café torrado desclassificados para consumo
Após fortes altas, mercado cafeeiro inicia 3ª feira (26) com ganhos moderados e realização de lucros
Café em alta: novo recorde em exportação sinaliza que mundo abraça cada vez mais os grãos de Minas
undefined