Produção X indústria: Após atingir preços acima de R$ 800,00/saca, café conilon recua e gera impasse entre os setores

Publicado em 20/10/2021 16:54 e atualizado em 20/10/2021 18:55
No último ano conilon teve expressiva valorização: Reflexo da redução de oferta do arábica e demanda mais aquecida

Após atingir preços acima de R$ 800,00 no início do mês, o mercado de café tipo conilon recuou nos últimos dias, voltando aos patamares de R$ 750 e nas redes sociais, produtores do Espírito Santo e da Bahia, afirmam que a partir do dia 25 não participarão do mercado por 15 dias. 

"Nós produtores de café conilon do Espírito Santo e da Bahia sairemos das vendas na próxima semana. Assim como as indústrias saíram da compra em 5 dias e derrubaram os preços, saíremos do mercado e só retornaremos no dia 8 de novembro", afirma a mensagem que circula nos grupos de Whatsapp. 

Os preços do café tipo conilon começaram a subir conforme a oferta de arábica passou a ficar mais restrita ao mercado. Colecionando problemas climáticos e com as exportações em alta, o mercado interno passou a demandar mais de café tipo conilon, o que aliado à valorização do arábica, favoreceu na elevação dos preços. 

De acordo com o indicador Cepea, no dia 1º de outubro a saca de café atingiu o valor de R$ 830,32 e na última terça-feira (19) o valor chegou a R$ 774,87, o que representa um recuo de 6,68%. Já quando a comparação é feita com base no último ano, a valorização é ainda mais expressiva. No dia 1º de outubro de 2020, o café era negociado a R$ 392,00, o que representa uma valorização de mais de 100% no período. 

O Notícias Agrícolas conversou com Marcio Cândido Ferreira - presidente do Centro do comércio de café de Vitória, que comenta a baixa nos preços nas principais praças de comercialização do estado. "O mercado deu uma esticada muito grande nos preços há algumas semanas e agora começou a recuar um pouco. A indústria chegou a pagar R$ 830,00, mas esse já é um custo muito elevado para produzir matéria-prima", comenta o presidente. 

Em relação ao movimento dos produtores, Márcio acredita que a adesão deve ser pontual, reforçando que os negócios devem continuar acontecendo sem grandes problemas. De acordo com dados da CCCV, no pregão de ontem, apesar da baixa, pelo menos 150 mil sacas de café foram negociadas com preço médio de R$ 750,00. A compra, no entanto, tem sido feita pelo mercado internacional. 

"A indústria nacional está abastecida até janeiro. Esse café não está sendo vendido aqui dentro, mas sim para alguma exportadora. A indústria deu esse suporte nos preços, mas neste momento cortou a necessidade de compra e não podemos esquecer que a indústria também sente dificuldade para repassar esse valor ao consumidor final", acrescenta Márcio. 

Nathan Herskowicz - Presidente da Sindicafé-SP, afirma que o cenário ainda é de incerteza para os próximos meses. Ressalta ainda que o setor segue precisando fazer um grande esforço para suprir a falta de grão verde no mercado. "Efetivamente esse tipo de sugestão, mesmo que sejam apenas alguns produtores de saírem fora do mercado, é uma solução que não traz resultado e benefício nenhum. Nesse momento precisamos fazer um esforço para suprir falta de café verde, que é exatamente o que está fazendo o mercado descer ou subir", comenta. 

O presidente também reforça que é importante que as lideranças das principais áreas de produção de café se unam para estabelecer um plano para sanar os problemas da cadeia. "Estabelecendo um plano para que esse café venha ao mercado de forma ordenada, suprindo o mercado não com as quantidades normais, mas com quantidades que o mercado pode assimilar, remunerando os produtores e não deixando os preços ficarem subindo ou descendo", comenta. 

Nathan comenta ainda a evolução da qualidade de café conilon no Brasil. "Dentro de pouco tempo, um ano ou dois anos, nós vamos ver uma melhora ainda maior do café conilon e provavelmente os industriais de café vão suprir a falta de café arábica que já está prevista para ano que vem e 2023 em uma quantidadde ainda maior de café conilon", comenta. 

Em relação aos estoques de café das indústrias, o porta-voz acrescenta que a situação neste momento é de estoque baixo não só para o conilon, mas também para o café tipo arábica. "Os estoques baixos são gerais, válido para todo tipo de café que as indústrias comercializam. A situação de estoques maiores não é típica do momento atual, o setor como um todo, falando de todas as indústrias tem estoques muito pequenos ou não têm", finaliza. 

VIETNÃ MAIS COMPETITIVO NESTE MOMENTO 

A colheita do conilon no Vietnã - maior produtor do grão, tem como característica começar nas próximas semanas, o que naturalmente deve pressionar de alguma forma os preços na Bolsa de Londres. Márcio Cândido comenta que, neste momento, o café brasileiro é menos competitivo no mercado e pode perder demanda no exterior. 

Quando se fala em preços nos últimos 12 meses, assim como no mercado interno, o contrato referência em Londres avançou de  66,40% no período. Além dos problemas climáticos e suporte do arábica, o mercadod de conilon segue atento aos problemas logísticos enfrentados pelo Vietnã desde o início do ano, que vem impactando os embarques e limitando a oferta de café para Europa. 

De acordo com a análise do porta-voz, o Brasil começou a perder competitividade conforme os preços foram subindo neste período. "Hoje o café brasileiro está US$ 300 acima de Londres, enquanto o do Vietnã está US$ 200 abaixo", acrescenta. 

De acordo com informações do analista de mercado Fernando Maximiliano, da Stonex Brasil, o ciclo 21/22 está na reta final de enchimento dos grãos no Vietnã, com a colheita prevista para iniciar em novembro, mas as previsões mais recentes indicam a possibilidade de excesso de chuva na região justamente neste período, o que pode atrasar os trabalhos no campo e com risco potencial de afetar a qualidade do café. 

"Até agora o clima tem sido favorável, em alguns momentos com excesso de chuva, mas o que chama atenção é que a previsão mostra que a estação chuvosa pode se estender até a colheita. Além disso, já sabemos que com a confirmação do La Niña uma das características do fenômeno é o volume de chuva mais expressivo na Ásia", comenta. 

COOABRIEL: Nota sobre a paralisação do mercado de café conilon 

O mercado de café está parado. Depois de atingir cotações históricas, chegando ao preço de R$810,00 a saca paga ao produtor, os negócios no mercado interno estão praticamente paralisados desde o dia 11/10, em função das principais empresas compradoras terem saído do mercado e não fecharem negócios desde então.

Diante da realidade, a Cooabriel entende que é preciso se precaver de possíveis variações e buscar alternativas no mercado de café.

A Cooabriel mantém seu modelo de trabalho em disponibilizar somente para o mercado o volume de café que o seu cooperado comercializa com ela.

O Presidente da Cooabriel, Luiz Carlos Bastianello esclarece aos cooperados que a cooperativa não especula nas operações de café. “Nossa forma de trabalhar com o café é: Vender o que compra ou comprar o que vende com pouquíssima margem em saca, para mais ou para menos. Se o mercado não compra o café como tem acontecido nos últimos dias, não temos também como comprar o café do cooperado.

Essa é uma forma tradicional, mas é segura, porque mantém o café que não foi vendido dentro dos armazéns da cooperativa. Hoje temos mais de 1 milhão de sacas de café armazenadas, que o cooperado vem aguardando oportunidade de preços melhores e isto é perfeitamente compreensível”.

O presidente fala que a expectativa é que no decorrer dessa semana o mercado volte às operações de compra de café. “Pedimos a todos que tenham serenidade e tão logo o mercado se regularize possamos escolher o melhor momento para vender o café”, concluiu.

Por: Virgínia Alves
Fonte: Notícias Agrícolas

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