Apontado como alternativa para driblar impasses logísticos, embarque aéreo não seria solução para o café, diz Cecafé

Publicado em 07/10/2021 15:50 e atualizado em 07/10/2021 16:28

Tentando driblar os entraves logísticos que atingem toda a cadeia produtiva do país, o grupo Labareda Agropecuária exportou, via transporte aéreo, 9 mil toneladas de café especial com destino final em Londres. Flávia Lancha, vice-presidente do Café Labareda e do Grupo Agropecuário Labareda, diz que essa foi a forma que o importador encontrou para não ficar sem a mercadoria. 

De acordo com Flávia, a carga especial deixou o Aeroporto de Guarulhos na noite de quarta-feira (6). "Santos está em colapso tanto em questão de contêineres, quanto de navio. O cliente estava precisando muito desse café e optou em fazer o frete dessa maneira com a garantia de que essa carga chegaria rápido", afirma a porta-voz. O custo do envio ficou em torno de US$ 11 mil, e saiu do bolso do próprio importador. 

"Antes o frete marítimo ficava em torno de US$ 2 mil por contêiner. Agora, com essa alta, chega a US$ 12 mil. O importador não tem muita opção: ou ele paga esse valor e espera sem saber quando terá a mercadoria ou começa a buscar outras alternativas", acrescenta. 

Os impasses logísticos vêm impactando os embarques de café há meses. Com a retomada das economias e o aumento da demanda de navios, a cada mês que se passa o problema fica mais evidente. A preocupação do setor, no entanto, é justamente porque o problema parece estar longe de ser resolvido. Alguns analistas apontam em um cenário mais próximo da realidade apenas no primeiro semestre de 2022. 

Carga saiu de Guarulhos na última quarta-feira (6)
Fonte: DUX Logistics

Segundo Flávia, os embarques continuam sendo adiados e a empresa possui mais de 1000 sacas de cafés de qualidade paradas no Porto de Santos. "Nós sabemos que só em um armazém em Santos há 200 mil sacas paradas. Quanto que isso impacta? Produtor precisa pagar a conta, tudo isso é dinheiro que deixa de rodar. É realmente um prejuízo muito grande para toda cadeia do café", comenta. 

Em relação aos custos, para manter a carga em Santos, Flávia afirma que paga US$ 750 por contêiner a cada 15 dias, elevando ainda mais o custo. Sem saber quando o cenário voltará à normalidade, outra alternativa da empresa tem sido buscar espaço no mercado interno. "O caminho nesse momento é vender esse café, de tipo 6 bebida dura bica corrida, por exemplo, para tentar arcar com os custos", finaliza. 

Leia mais:

+ Gargalos logísticos no café: Tentando driblar problemas, setor precisa unir forças para atender mercado externo

CECAFÉ CONSIDERA CASO PONTUAL E INVIÁVEL PARA EMBARQUES DE CAFÉ VERDE

A possibilidade de embarque aéreo chamou atenção dos produtores do país nos últimos dias, mas o Conselho de Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) afirma se tratar de um caso pontual, e que com o Brasil abastecendo cerca de 120 países, a prática não é viável para todo setor. 

Os dados do Cecafé mostram que em 2020 o Brasil exportou pouco mais de 125 mil contêineres, abastecendo mais de 120 países. Já quando se fala em exportação via aérea os embarques não chegam a 0,1% nos últimos três anos. Em 2019, a exportação via aérea ficou em 0,05%, em 2020 em 0,03% e no período entre janeiro e agosto de 2021, em 0,07%. 

"No caso do transporte aéreo ele é pontual. Especificamente para os produtos de maior valor agregado, como os produtos já industrializados. Não é um raciocínio que valeria para os cafés verdes que nós trabalhamos, com grandes volumes e milhões de sacas", afirma Marcos Matos, diretor geral do Cecafé. 

O porta-voz afirma que ainda que o setor logístico segue tentando driblar os impasses atuais. "Nós temos sempre que buscar o melhoramento, diversificação de modais e competitividade, mas sempre olhando os nossos grandes mercados. A questão aérea fica então como pontual para esse mercado", finaliza. 

O relatório referente ao mês de setembro será divulgado nos próximos dias, mas analistas já esperam números com reflexo da pane logística, além da entrada da safra 2021 - expressivamente menor quando comparada com o ciclo anterior. 

 

 

Por: Virgínia Alves
Fonte: Notícias Agrícolas

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