Estoques certificados da ICE seguem em elevação: Menor oferta nos cafés de qualidade do BR antecipa compras

Publicado em 26/04/2021 14:11 e atualizado em 26/04/2021 14:53
Analista destaca que mercado está se protegendo de altas expressivas, que podem acontecer devido a menor oferta tanto do Brasil como de Honduras

Sabendo da severa quebra de safra que o Brasil terá em 2021 para o café, o mercado internacional segue se preparando para uma oferta mais restrita do principal produtor de café do mundo e abastece, cada vez mais, os estoques certificados na ICE. 

De janeiro até a terceira semana de abril, os estoques certificados na ICE tiveram um aumento de aproximadamente 19%, com 1,901 milhões de sacas, segundo mostra o relatório da Pharos Consultoria, liderada pelo analista de mercado Haroldo Bonfá. "Os preços estão subindo e os estoques também. O mercado já está se adiantando, antes que os preços subam ainda mais com a produção mais baixa do Brasil e com isso trabalhando para recompor os estoques de café de qualidade", comenta.

Veja o gráfico com dados dos estoques certificados no último ano: 


Pharos Consultoria 

 


A antecipação em recompor os estoques, depois de atingir nos níveis mais baixos dos últimos 20 em setembro/20, é observada pelo setor desde o último trimestre do ano ano passado.

Porém, com os problemas climáticos cada vez mais evidentes, as preocupações aumentaram significativamente desde o início do ano quando as precipitações continuaram sendo abaixo do ideal para o bom desenvolvimento da lavoura.

Desde março não há registro de chuvas expressivas na maior região cafeeira do Brasil, e na reta final de granação dos grãos, as preocupações se voltam tanto para qualidade da safra 21, mas principalmente quanto ao rendimento da safra.  

Os últimos dados também chamam atenção pelo avanço da participação brasileira nos estoques. Há um ano, a maior parte dos estoques na Bolsa era composta por café proveniente de Honduras e atualmente o Brasil corresponde por 50% do total estocado.

Segundo o analista, o produtor brasileiro conseguiu ganhar espaço na ICE a partir do momento em que Honduras passou a enfrentar severos problemas econômicos - com parte da população fazendo movimentação migratória para outros países, além de uma incidência maior de pragas nas lavouras. 

Com problemas na produção de café hondurenho e oferta mais restrita do Brasil, o mercado encontrou mais motivos para garantir o abastecimento no longo prazo. "Nós tomamos não só o espaço de Honduras, mas também os cafés de outros países. E por saber desse problema na produção, por isso mesmo que estão construindo esses estoques e os números só avançam. Quem usa esse tipo de café já sabe o que pode estar por vir", comenta Haroldo.

Do lado da produção, o analista afirma que o Brasil tem feito a lição de casa e com o produtor cada vez mais capitalizado, investe em tecnologia e qualidade, sabendo aproveitar as oportunidades de avançar no Brasil. O cenário atual, em relação aos preços, também é positivo para o bolso do produtor brasileiro. "Os preços, de certa forma, estão bons em termos de remuneração considerando que o dólar a R$ 5,40 vem garantindo novos patamares de preço", comenta.

As cotações no mercado futuro vêm operando com valorização nas últimas semanas e o especialista afirma que em anos de clima dentro da normalidade, os preços não teriam avançado nessa proporção. "Nós tivemos um volume muito grande de produção no ano passado, teoricamente os preços não deveriam ter subido tanto, mas a seca na época da florada já antecipou que a quebra vai ser grande e antecipa as altas", acrescenta. 

O mesmo movimento foi observado nos estoques certificados de café conilon, na ICE Europe. Os dados da Pharos mostram que até a terceira de abril o estoque europeu contava com 2 milhões e 476 mil sacas. No caso do conilon, as explicações para "abastecimento precoce" vai além do Brasil, em um momento em que o mercado se preocupa também com o Vietnã, maior produtor de café conilon do mundo. 

O produtor vietnamita também sofreu com irregularidades climáticas, sobretudo com excesso de chuvas e levantou incertezas quanto à produção do páis no último ano. Além disso, quando as cotações estão abaixo de US$ 1400 por tonelada, o produtor tem como característica sair do mercado, esperando uma elevação nos preços. "O conilon do Brasil também ficou barato para o produtor e quando o Vientã está fora do mercado, aumenta nossas oportunidades", acrescenta. 

CONSUMO 

Em relação ao consumo de café, Haroldo afirma que o cenário ainda é de incerteza no mercado. Segundo o especialista, três casos precisam ser avaliados de forma indivual, sendo eles: Estados Unidos, Europa e Ásia + Índia. "O único lugar que fez uma vacinação muito efetiva foi os Estados Unidos, isso só aconteceu nos EUA, o que pode garantir um consumo dentro da normalidade com a vacina apresentando os resultados esperados", comenta. 

Na Europa, o segundo principal importador de café brasileiro ainda enfrenta severas restrições para tentar conter a contaminação da Covid-19. "A Alemanha vai entrar no mês de maio em lockdown. As preocupações com a falta de vacina em um importante polo consumidor, é claro que assusta o mercado e gera incerteza", acrescenta. 

Por último, Haroldo fala sobre Ásia e Índia, que também enfrentam cenário de grande incerteza. No caso da Ásia, o foco está no Japão que segue com um número elevado de contaminados. Antes da pandemia os países asiáticos começavam a sinalizar um avanço no consumo de café. Na Índia, a situação é ainda mais complexa. "A propagação do vírus por lá está muito forte, deixando todo mundo muito preocupado sobre quanto ao petróleo, que se derruba o preço também puxa outras commodities", finaliza. 

  

Por: Virgínia Alves
Fonte: Notícias Agrícolas

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