Café precisa de pelo menos 40 mm para iniciar recuperação da planta; Matiello destaca orientações diante de cenário crítico

Publicado em 13/11/2020 14:40 e atualizado em 14/11/2020 07:19

Sem a regularização efetiva das chuvas, a cada dia que passa a condição dos cafezais brasileiros é ainda mais preocupante. Sem registrar chuvas expressivas desde março e com temperaturas elevadas, o déficit hídrico na principal região produtora do país é intenso e já gera impacto para a safra 2021 do Brasil. Segundo dados da Fundação Procafé, a queda para o ano que vem deve ser de pelo menos 25%, considerado o impacto da seca e o ano de bienalidade baixa. 

José Braz Matiello - Engenheiro Agrônomo Fundação Procafé, reforça que o estresse hídrico da planta neste momento ainda é muito grande, mesmo considerando que algumas regiões começam a registrar o retorno irregular das chuvas. É importante ressaltar que três floradas já foram registradas, mas que o pegamento não foi efetivo devido à falta de água. 

Além da falta de água, as altas temperaturas castigam a planta. Segundo Matiello, a falta de água já gerou uma desidatração generalizada, resultando em queda de folha, que é justamente o que deve impactar na próxima safra, já que o processo de energia da planta é cortado.

"Então mesmo que chova, ela acumulou esse estresse e não tem como retomar a perda de carboidrato que é energia da planta. E no caso do café, ele armaneza tudo na folha. Caiu a folha, perdeu a energia e só no outro ano para ela ir se recuperando gradativamente", explica. 

Veja fotos registradas no sul de Minas Gerais nos últimos dias: 

Matiello destaca mais uma vez que as perdas para a próxima produção já existem, apesar de ainda não ser possível quantificar as baixas para a produção. Mesmo com o retorno das chuvas, ele destaca que o produtor precisa ter paciência para ver como a planta deve se desenvolver, destacando que a recuperação do café é lenta. "A planta precisa primeiro sobreviver antes de produzir", complementa.

A planta precisa, em média, de 5 milímetros de água por dia, sendo necessário pelo menos um acumulado 150 milímetros no mês. Para o caso começar a ser revertido, segundo Matiello, é preciso que chova pelo menos 40 mm, destacando que a chuva deve ser constante, para que não haja uma nova abertura de florada com risco de não pegamento. "40 mm dá para os primeiros 10 dias, a planta consome e se depois não chover mais ela entra em déficit hídrico de novo", complementa. 

Matiello explica ainda que dentro de um cenário normal, o pegamento da florada acontece em pelo menos 50% da florada. "A cada 100 flores no final temos cerca de 50 frutos, mas com essa desfolha que estamos vendo, devemos ter entre 20 e 30 frutos. A planta que tem pouca folha não adianta florescer porque depois ela joga esse frutinho no chão", comenta o especialista. 

Diante do cenário, o engenheiro destaca que o produtor precisa avaliar de maneira pessoal a real condição da lavoura e adequar os tratos culturais com a realidade atual. "O produtor precisa adaptar de acordo com sua realidade os tratos de nutrição e nível de adubação. É preciso adaptar o orçamento e o produtor que vai ficar sem produção, que perdeu tudo, precisa fazer aplicação pela metade", comenta o especialista. 

É cedo para saber impacto da estiagem nos cafezais do Brasil, diz CNC

Presidente do CNC sugere atenção a produtores para não se deixarem levar por informações sem fundamentos ou que consideram parte pelo todo

Como usualmente, esta época do ano é marcada pela intensificação de especulações a respeito da safra de café do Brasil, com agentes internacionais supervalorizando a estimativa e, internamente, líderes emergindo com discursos e cálculos cabalísticos, equivocadamente pensando que trarão alguma influência ao mercado. Assim analisa o presente cenário do mercado o presidente do Conselho Nacional do Café (CNC), Silas Brasileiro.
 
Para ele, a multiplicidade de informações só tende a atrapalhar o setor, principalmente o produtor, que é o elo mais sensível da cadeia produtiva e pode ser influenciado, deixando de realizar negócios em momentos interessantes e rentáveis do mercado.
 
“É importante que os produtores se atentem a números oficiais e críveis e quem apresenta esses dados da produção são as reais entidades representantes de classe, como o CNC e a Comissão Nacional do Café da CNA, além dos nossos órgãos parceiros estaduais e, principalmente, a Conab”, explica Brasileiro.
 
O presidente do CNC enfatiza que é muito cedo para se prever o tamanho da próxima safra, principalmente porque não houve tempo hábil para analisar todo o impacto que a seca e as altas temperaturas recentes tiveram sobre as lavouras em todo o país.
 
“Precisamos, também, ver qual será o comportamento do clima até janeiro, pois esse é um fato decisivo para observarmos recuperação ou a depauperação de fato de lavouras que foram muito afetadas”, analisa.
 
Ele anota que as entidades de pesquisa e extensão vêm realizando essa apuração em seus respectivos Estados e que, por isso, não se deve dar atenção às inúmeras especulações que são lançadas nas redes sociais e na imprensa, sem fundamentos ou que levam em conta uma parte pelo todo.
 
“Diante dessa necessidade de tempo para apurar os reais impactos da estiagem e do calor, atendendo a um pleito do CNC, a Conab confirmou que só apresentará seu primeiro levantamento à safra 2021 de café do Brasil na segunda quinzena de janeiro, após avaliação que considerará os impactos climáticos até o fechamento de 2020”, conclui.
 

Presidente do CNC sugere atenção a produtores para não se deixarem levar por informações sem fundamentos ou que consideram parte pelo todo

 

Por: Virgínia Alves
Fonte: Notícias Agrícolas/CNC

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