Itaú BBA avalia seca no café: Safra 21 deve ter baixas entre 14% e 21% no Brasil
Apesar do retorno das chuvas na maior parte das regiões cafeeiras desde o início de outubro, fundamentais para a fixação das floradas abertas anteriormente e também para amenização do déficit hídrico, comum no período mas especialmente forte neste ano, os volumes de chuvas têm desapontado.
A Fundação Procafé e a Confederação Nacional da Agricultura (CNA) já vêm alertando sobre efeitos irreversíveis dessa
condição adversa para o próximo ano, a despeito da previsão de aumento das chuvas a partir do dia 10/nov. Vale destacar que, apesar das previsões relativamente positivas desde o início de outubro, os volumes efetivostêm sido menores que os previstos além de mal distribuídos.
Chama atenção principalmente o Sul de Minas, onde se encontra a maior área de café entre as regiões (538 mil hectares), o equivalente a 35% da área de café arábica do Brasil. Na região de Varginha, por exemplo, choveu cerca de 20 mm em outubro enquanto que na Baixa Mogiana, choveu 35 mm, contra médias históricas acima de 100 mm nestas localidades. Já no Cerrado mineiro e Alta Mogiana a condição hídrica é menos crítica mas também apresenta anomalia
negativa. No ES, onde estão as maiores áreas de café conilon, ocorreu o contrário, com as chuvas de outubro superiores à média histórica.
Além da falta de água, o excesso de calor também prejudicou os cafezais. As temperaturas médias acima de 23°C já fogem das condições ideais para o café arábica, sendo que, no final de setembro e início de outubro, por exemplo, estas foram entre 5°C e 7°C superiores aonormal nas áreas de café em MG, SP e PR.
A safra brasileira 2021/22 e o que esperar no balanço global
Embora bastante resistente, o cafeeiro “cobra” a condição adversa na safra seguinte, que no caso brasileiro já seria de baixa carga em função da bienalidade no caso do arábica. A safra brasileira 2021/22 e o que esperar no balanço global
Apesar dos alertas de efeitos irreversíveis, é cedo para uma quantificação assertiva da produção brasileira na safra 2021/22. Porém, com essa questão em evidência, simulamos dois cenários de produção para Brasil no próximo ano, e seus efeitos no balanço global com o objetivode avaliar a ordem de grandeza do possível déficit entre a produção e o
consumo mundial.
Para tanto, partimos dos números do USDA da safra 2020/21 e mantivemos constante a produção brasileira de café robusta em 2021/22. Para o café arábica, consideramos um cenário com queda de 20% sobre a produção deste ano, que foi de 47,8 milhões de sacas, e outro mais forte com quebra de 30%, que acreditamos ser menos provável. Isso significará reduções da safra total (arábica + robusta)entre 14% (58,3 milhões de sacas) e 21% (53,6 milhões de sacas).
Para os demais países produtores adotamos um crescimento médio de 0,5%, em linha com a evolução no último ano,
enquanto que para o consumo mundial replicamos a visão do USDA, de aumento de 1,5% estimado para 2020/21. Apesar da dúvida com a dinâmica do consumo em função da pandemia, preocupaçãorealimentada agora pela segunda onda do vírus na Europa, ainda não há boa visibilidade do efeito agregado sobre o consumo anual, embora aparentemente exista um efeito negativo no segmento de especiais.
Os cenários desenhados sugerem um déficit global entre produção e consumo no próximo ano (2021/22) entre 1,7 e 6,5 milhões de sacas, ou seja, supondo que a safra brasileira cairá entre 14% e 21%, vindo de um superávit global de 9,8 milhões de sacas estimados para o ano safra 2020/21.
Outros pontos de atenção no cenário de café
Além da questão do consumo, outro ponto que tem permeado o mercado cafeeiro são as fortes chuvas no Vietnã neste período que precede a colheita, lembrando que em anos de La Niña a Ásia costuma receber chuvas em excesso, o que pode prejudicar a qualidade e o fluxo de exportações do país, com possível atraso da comercialização da safra. Já
na América Central, o deslocamento do furacão Eta nos próximos diascoloca em atenção as áreas de café em Honduras, Nicarágua, El Salvador e Guatemala.
Apesar dessas questões, que deveriam dar suporte às cotações em Nova Iorque, os preços do arábica e do robusta no mercado internacional têm se mantido pressionados, embora em Reais, o câmbiodesvalorizado tem oferecido suporte. Do ponto de vista das margens aos produtores brasileiros, o alto nível de fixações já ocorridas a bons preços até setembro ameniza a necessidade de vendas aos preços atuais um pouco mais baixos.
Além disso, com safra brasileira 2021/22 se desenhando menor que a esperada, um ponto de atenção será o cumprimento doscompromissos assumidos dado que alguns produtores podem eventualmente ter excedido nos volumes fixados para entrega em 2021 e serem surpreendidos com menor produtividade em relação ao esperado.