Café: Chuvas impactam trabalhos de colheita da safra 2019/20; acumulados superam média histórica em MG
A colheita do café começou e ganhou maior ritmo neste início de maio sobre as principais regiões produtoras do Brasil. No entanto, nos últimos dias, chuvas passaram a ser registradas em importantes cidades produtoras e cafeicultores já temem os reflexos dessa condição.
"As chuvas continuam caindo em diversas regiões produtoras, em abril foram duzentos milímetros na região de Guaxupé, e a qualidade dos primeiros cafés da nova safra pode ser prejudicada. Levará ainda algum tempo para termos um panorama mais claro da qualidade média da safra 2019/2020", disse em boletim o Escritório Carvalhaes.
As precipitações neste momento impedem que as máquinas e os trabalhadores consigam ir até as lavouras para realizar a colheita. Além disso, as chuvas também podem causar danos aos grãos já colhidos em terreiro e que está em secagem, pois favorecem microrganismos.
Lavouras de café em Nova Resende (MG). Enviado por Pedro Paulo
Sérgio Dadona é produtor de café em Coromandel (MG) e diz que em 33 anos de cafeicultura não tinha visto tanta chuva como neste ano. "Estamos começando os trabalhos de forma manual, porque não tem como colocar as máquinas no campo. Ainda assim, a preocupação com a secagem é grande. É muita umidade", afirma.
O cafeicultor conta que a região de Coromandel (MG), no Cerrado Mineiro, recebeu boas chuvas em março, mas que isso estava dentro da normalidade. Em abril, a chuva seguiu com mais de 200 mm em sua propriedade e até o momento em maio já são mais de 150 mm, quando a média seria de 10 mm.
"Estamos tendo um ano ruim de preço, custo muito alto e agora a qualidade pode ser afetada", ressalta o Dadona. A Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) divulgou nesta quinta-feira (16) que a produção brasileira neste ano pode atingir 50,92 milhões de sacas, com uma redução de 17,4% ante 2018.
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Acumulados de chuva até o dia 16 em cidades de Minas Gerais e média mensal - Fonte: Sismet/Cooxupé
Segundo dados meteorológicos levantados pela Cooxupé (Cooperativa Regional dos Cafeicultores em Guaxupé), três das 15 estações meteorológicas em cidades do Sul, Triângulo e Cerrado Mineiro estão com acumulados de chuva em maio acima da média histórica mensal.
Em Serra do Salitre (MG), no Triângulo Mineiro, as chuvas acumuladas até esta quinta-feira (16) estavam em 152,8 mm, quando a média histórica para o mês é de 45,7 mm. Em Rio Paranaíba (MG) são 96,4 mm e média de 40,3 mm e Monte Carmelo (MG) totaliza 72,4 e a média é 40,3 mm.
No Sul de Minas, em Guaxupé (MG), as precipitações até o momento totalizam 11,44 e a média para o mês é de 51,5 mm e no Cerrado, em Coromandel, as chuvas já se aproximam da média histórica, com acumulado até o momento em 31,0 mm e média de 34,1 mm.
Em Nova Resende (MG), as chuvas ainda não tiveram tantos impactos na colheita do café, mas produtores estão atentos com a previsão para os próximos dias. A colheita na região está em cerca de 10%, bem no início, mas só ganharão ritmo se as chuvas não chegarem.
"A colheita está bem no início ainda, não chega a 10%. A expectativa é de que na semana que vem mais produtores avancem nos trabalhos, mas já tem previsão de chuva para o final de semana", diz Pedro Paulo, proprietário da Cafeeira Novo Grão.
O mapa com a previsão de chuvas do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) para os próximos sete dias aponta que chuvas de moderada a forte intensidade devem seguir pelos próximos dias sobre o Leste e Sul de Minas Gerais, maior produtor da variedade arábica. Áreas de conilon no Espírito Santo também devem ter precipitações.
Mapa com a previsão de precipitação acumulada para os próximos 7 dias em todo o Brasil - Fonte: Inmet
O Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada, da Esalq/USP) destacou em boletim nesta semana que os negócios são pontuais no mercado brasileiro e que o início da colheita no país tem favorecido maiores volumes de negócios com a necessidade de caixa.
"Os preços, por sua vez, reagiram nos últimos dias – vale lembrar que os atuais patamares são os mais baixos desde 2013 –, influenciados por altas nos valores externos do arábica e do robusta", destacou o centro de pesquisa.