Cafeicultor enfrenta os preços mais baixos desde 2013, mas produto ao consumidor final continua caro

Publicado em 13/05/2019 16:18
Preços no mercado físico recuam acompanhando oferta e devem seguir pressionados

O cafeicultor brasileiro enfrenta os menores patamares de preço desde 2013, segundo o Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada, da Esalq/USP). Esse recuo ocorre por conta de uma safra recorde em 2018/19 e expectativas otimistas com a colheita deste ano. Para o consumidor, no entanto, o produto continua caro.

"Percebemos que tanto no Brasil quanto fora o consumidor não tem sido beneficiado. Sabemos que o preço final é composto por vários fatores, como impostos e energia, mas os repasses têm sido limitados", disse Haroldo Bonfá, diretor da Pharos Consultoria. "O mercado está deixando uma gordura para momentos difíceis", complementa.

O indicador da ABIC (Associação Brasileira de Indústria de Café) com o preço médio do café torrado e moído, aquele que é mais consumido no dia a dia pela população, registrou em fevereiro R$ 19,16 o quilo. Esse patamar de R$ 19 tem sido mantido no índice desde o início de 2018, quando em fevereiro atingiu R$ 24,77.

De acordo com a ABIC, os preços do café no varejo são levantados mensalmente em 15 supermercados da capital paulista em um trabalho feito por amostragem. Ou seja, pelo Brasil, esses valores podem ser ainda mais altos. Além disso, o cafezinho comprado em estabelecimento comercial, por exemplo, atinge níveis maiores.

"Os preços do café no varejo são sempre um reflexo da matéria prima. Ano passado, por exemplo, tivemos seca no conilon e alta nos preços, que depois regrediu", afirma Nathan Herszkowicz, diretor-executivo da ABIC. O executivo destaca ainda que a abastecimento não está de todo perfeito nas indústrias menores.

Em contrapartida, os preços do café arábica tipo 6 duro no mercado físico brasileiro amargam quedas seguidas desde 2013, atingindo R$ 382,45 a saca de 60 kg na última sexta-feira (10). Analistas afirmam que a safra recorde no Brasil na temporada 2018/19 e as perspectivas ainda positivas com a colheita neste ano pressionam os preços.

"Em abril, o Indicador CEPEA/ESALQ do arábica, tipo 6 bebida dura para melhor, posto na capital paulista, teve média de R$ 384,21/saca e o Indicador CEPEA/ESALQ do robusta tipo 6 peneira 13, de R$ 288,40/saca de 60 kg, os menores patamares desde setembro/13 e novembro/13, respectivamente, em termos reais (os valores foram deflacionados pelo IGP-DI mar/19)", disse em nota o Cepea.

Com as quedas de preço nos últimos anos, o cafeicultor brasileiro tem enfrentado preços abaixo dos custos de produção em algumas praças. "Registramos que as margens estão muito estreitas para o produtor de café, em diversas praças. Os custos chegam a oscilar entre R$ 347,00 a até R$ 510,00 por saca, dependendo da tecnologia", explica Maciel Silva, assessor técnico da Comissão Nacional de Café da CNA.

O centro de economia agrícola ressalta que com o avanço da colheita no Brasil, maior produtor e exportador do grão no mundo, as cotações internas podem seguir pressionadas. Em 2018, o Brasil colheu 61,7 milhões de sacas de 60 kg e a expectativa para este ano é de até 54,48 milhões de sacas, segundo a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento).

Haroldo Bonfá não acredita em mudanças de preço no curto prazo. "Os estoques lá fora não tem variado porque a perspectiva é que os preços ainda continuem baixos. Temos uma colheita neste momento e as perspectivas para o próximo ano é de mais uma safra cheia", destaca o analista de mercado.

Os futuros do café arábica na Bolsa de Nova York (ICE Futures US) encerraram a sessão desta segunda-feira (13) com queda de 120 pontos, a 89,60 cents/lb no julho/19, acompanhando um dia de valorização do dólar ante o real. Esses são os menores patamares em mais de 10 anos, de acordo com o site de cotações Investing.

Por: Jhonatas Simião
Fonte: Notícias Agrícolas

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