Café: Custos de produção no Brasil sobem até 8,4% entre 2016 e 2017 na colheita manual, mas margem fica positiva
Os custos operacionais na produção de café arábica entre abril de 2016 e maio de 2017, parte da safra 2016/17 que compreende o período de julho de 2016 a junho de 2017, tiveram aumento de até 8,43% no Brasil, totalizando mais de R$ 400,00 a saca, ainda assim a margem líquida ficou positiva aos produtores. É o que aponta um levantamento do Projeto Campo Futuro divulgado na última semana. No Sul de Minas Gerais, principal região produtora do grão no país, o aumento dos custos chegou a quase R$ 40,00 a saca, ou cerca de 9% de um ano para o outro, e a margem em alguns municípios ficou negativa.
O Brasil produziu na safra 2016/17, segundo a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), 43,38 milhões sacas de 60 kg de café arábica.
Comparativo dos custos por tipos de produção de café no Brasil entre abril de 2016 e maio de 2017 - Fonte: Campo Futuro
Na média brasileira, o custo operacional efetivo (COE) teve aumento nas áreas onde a produção é manual, com 8,43% em relação ao período anterior, de abril de 2015 e maio de 2016, mais de R$ 400,00 a saca conforme mostra o gráfico acima, e de 6,83% no custo operacional total (COT). O COT leva em conta todos os custos da safra abrangidos pelo COE mais depreciações e pró-labore. Segundo o levantamento, os grupos de custos que contribuíram para esse cenário foram: mão de obra (+5,46%), fertilizantes (+0,88%), produtos fitossanitários (+22,58%), manutenções de máquinas, implementos e benfeitorias (+0,31%), gastos gerais (+22,90%), colheita e pós-colheita (+15,01%) e depreciações (+1,04%).
Já em locais onde a colheita é feita de forma mecanizada, verificou-se redução no COE e no COT de 8,20% e 5,23%, respectivamente, segundo o projeto. Foram observadas reduções nos seguintes grupos de custos: mecanização (-3,91%), fertilizantes (-18,87%), produtos fitossanitários (-11,35%), gastos gerais (- 9,54%), juros de custeio (-15,97%) e pró-labore (-13,65%). Apesar da redução no COE e no COT, alguns grupos apresentaram aumento como: mão de obra (+2,78%), corretivos (+12,29%), manutenções (+5,09%), colheita e pós-colheita (+4,53%) e depreciações (+13,72%).
Com a produção semimecanizada, houve uma redução de 4,87% no custo operacional efetivo e de 4,29% no custo operacional total. Os grupos de custos que apresentaram redução em maio/17 foram: mão de obra (-6,67%), mecanização (-45,56%), corretivos (-34,68%), fertilizantes (-4,94%), manutenções (-19,19%), gastos gerais (-7,07%), juros de custeio (-42,49%) e depreciações (-0,53%).
Apesar da alta nos custos de produção da colheita manual, a margem líquida foi positiva para todas as formas de produção. "Em abril/16, os municípios com produção manual apresentaram um COT de R$ 402,18 a saca e Receita Bruta (RB) de R$ 452,75 a saca, resultando em uma Margem Líquida (RB – COT) positiva de R$ 50,57 a saca. Em maio/17, a ML também foi positiva (R$ 27,89 a saca), porém menor em 44,85%. Apesar de uma RB maior, isto ocorreu devido ao aumento no COT, que ficou em R$ 429,65 a saca", mostra um trecho do relatório do projeto.
Com produção semimecanizada, as ML também foram positivas, sendo que em maio/17 (R$ 60,06 a saca) ela foi 24,34% maior que a de abril de 16 (R$ 48,30 a saca). "Mesmo com uma redução de 1,21% na RB entre os meses analisados, observou-se que a redução no COT, de R$ 400,91 a saca para R$ 383,70 a saca, proporcionou o aumento na ML", reporta. Já a produção mecanizada demonstrou comportamento diferente das demais, pois mesmo sofrendo reduções no COT (- 5,23%), a ML foi 10,24% menor em maio/17. "Isto ocorreu devido à Receita Bruta menor. O COT foi de R$ 417,20 a saca em abril de 16 para R$ 395,36/saca em maio de 17. A RB que era de R$ 463,68 a saca em abril de 2016 foi para R$ 437,09 a saca em maio de 17. Assim a ML que era de R$ 46,48 a saca foi para R$ 41,72 a saca, mantendo-se positiva".
Especificamente no Sul de Minas Gerais, principal região produtora de café do Brasil, os aumentos nos custos de produção foram próximos de R$ 40 a saca de um ano para o outro. Em Santa Rita do Sapucaí (MG), o COT que era de R$ 440,00 a saca em 2016 foi para R$ 462,93 a saca em 2017, resultando em um aumento de 5%. Já em Guaxupé (MG), o custo que era de R$ 421,03 a saca em 2016 foi calculado em R$ 459,17 a saca neste ano, com um aumento de 9% entre os dois períodos analisados.
"Nosso levantamento trabalha com índices. Podemos verificar que na maioria das cidades verificadas as mudanças nos custos de produção não foram tão drásticas em relação ao ano anterior, mas ocorreram", diz o assessor técnico da Comissão Nacional do Café, da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Maciel Silva.
Em Santa Rita do Sapucaí (MG), o aumento dos custos sofreu influência, principalmente, do aumento dos custos com Fertilizantes (+13,5%), Produtos Fitossanitários (+18,7%) e Mão de Obra para condução da lavoura (+22,0%). Em Guaxupé (MG), o aumento do custo foi impulsionado, principalmente, pelos aumentos de custo com Fertilizantes (+3,6%), Produtos Fitossanitários (+31,4%), Mão de Obra para Condução da Lavoura (10,3%) e Mão de Obra para Colheita (8%).
Em relação a margem líquida, foi verificado redução nos dois municípios do Sul de Minas Gerais. Em 2016, a margem líquida era positiva em R$ 7,55 a saca em Guaxupé (MG) e passou a ser negativa em R$ 22,96, no levantamento de 2017. Em Santa Rita do Sapucaí (MG), a margem líquida que era de R$17,97 a saca passou a ser de – R$10,17 a saca. "Além do efeito do aumento no custo de produção, a redução da margem líquida em Guaxupé (MG) foi resultado da redução em 1,8% na receita bruta obtida pelos produtores da região".
O Campo Futuro, que é um Projeto da UFLA (Universidade Federal de Lavras) e CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), é realizado mensalmente em fazendas 'modais' de 12 cidades produtoras de café dos estados da Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais, Rondônia, Roraima e São Paulo. A consulta completa do levantamento pode ser feita pelo site Canal do Produtor, da CNA: https://www.canaldoprodutor.com.br