Exportação de café solúvel do Brasil em 2017 pode cair a nível de 2010
Por José Roberto Gomes
SÃO PAULO (Reuters) - As exportações brasileiras de café solúvel devem registrar queda em 2017, interrompendo um ciclo de crescimento anual que vem desde 2014, com os embarques sofrendo agora os efeitos da quebra acentuada de safra do robusta (conilon) no ano passado, disse o diretor de Relações Institucionais da associação que representa a indústria (Abics), Aguinaldo José de Lima.
Caso a redução no ritmo de embarques observada no primeiro semestre do ano, de aproximadamente 12 por cento, se mantenha, as vendas do maior exportador mundial de solúvel poderiam cair em 2017 para os menores níveis desde 2010, abrindo espaço para concorrentes como o Vietnã, admitiu Lima, em entrevista à Reuters.
De acordo com ele, a queda em potencial refletiria o menor número de contratos fechados para venda ao exterior após a quebra de produção no Espírito Santo por causa da estiagem. Em 2015 e 2016, a seca no principal Estado produtor de conilon do país comprometeu a oferta nacional da variedade que responde por 80 por cento da matéria-prima usada na fabricação de café solúvel.
"Vínhamos em uma situação animadora, batemos o recorde (de exportações) no ano passado, com contratos feitos antes da crise do conilon. Mas esse problema da quebra de safra do Espírito Santo acabou machucando muito nosso desempenho e podemos perder clientes para indústrias baseadas na Ásia", afirmou.
A partir de dados do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) compilados pela Abics, Lima lembrou que o país embarcou 3,828 milhões de sacas de café solúvel em 2016.
Assim, se a redução de cerca de 12 por cento registrada de janeiro a junho deste ano ante igual período do ano passado se mantiver, 2017 pode terminar com embarques de 3,37 milhões de sacas do produto, menor volume desde as 3,36 milhões de sacas de 2010, disse o diretor.
Lima acrescentou que, em 2015, a Abics também projetava exportações de 3,981 milhões de sacas de café solúvel para este ano, o que não se concretizará.
"Se eu comparar esse número com 2014, a queda é de 522 mil sacas", disse ele, que também é diretor de Relações Institucionais do Sindicato Nacional das Indústrias de Café Solúvel (Sincs).
"A indústria de solúvel não trabalha no curto prazo. Nesse primeiro semestre estivemos com comercializações muito travadas, na expectativa sobre o que o Brasil colheria", comentou Lima, referindo-se aos negócios fechados para exportações futuras.
Conforme o levantamento mais recente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), de maio, o Brasil deverá colher neste ano 45,56 milhões de sacas de café, abaixo dos 51,36 milhões de sacas do ano passado. A safra vigente é de bienalidade negativa de produção.
Especificamente para o conilon, a produção deverá aumentar em 26,9 por cento, para 10,13 milhões de sacas, recuperando-se ante a quebra de safra.
Ainda que seja líder na produção e exportação de café solúvel, o Brasil não se destaca quanto ao consumo desse produto.
De acordo com Lima, o solúvel representa apenas 5 por cento do consumo nacional de café.
"No final do ano que vem devemos lançar um plano de estímulo ao consumo de café solúvel", adiantou Lima, sem dar mais detalhes.