Importação de café robusta coloca em risco lavouras do país com pelo menos oito pragas, aponta Incaper
Entidades do Espírito Santo, maior estado produtor da variedade robusta no Brasil, seguem se movimentando com o objetivo de barrar a importação cada vez mais provável da variedade no país. Um estudo realizado pela Seag (Secretaria de Estado da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca), do Incaper (Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural), concluiu que em caso de liberação da entrada do café estrangeiro no país, as lavouras seriam afetadas por pelo menos oito pragas. Algumas, inclusive, com potencial para impactar outras culturas.
"Em caso de autorização de importação de café robusta de países da Ásia ou África, por exemplo, pragas que nunca foram registradas no Brasil e que não possuem formas de manejo adequadas para controle, podem chegar ao país em embalagens e sacarias. Essa medida colocaria em situação vulnerável e extremamente crítica o país, com potencial de afetar outras culturas além do café arábica e robusta, como a banana e o milho", afirma o diretor-presidente do Incaper, Marcelo Suzart. Ele acredita que seria necessária uma Análise de Riscos de Pragas (ARP), que ainda não foi solicitada, para avaliar os efeitos em caso da aprovação de importação ser efetivada.
Suzart afirma que o Brasil já vivenciou outros casos em que doenças do exterior afetaram suas lavouras. "Nos anos 1980 e 1990, foram registradas pragas que acabaram com a produção do país, é o caso da vassoura de bruxa no cacau, por exemplo", ressalta. O diretor-presidente do Incaper da reunião desta terça-feira (7) do setor produtivo capixaba com o ministro da agricultura, Blairo Maggi. Ele apresentou os dados desse estudo, que foi encabeçado pelos pesquisadores do Instituto, Romário Gava Ferrão e José Aires Ventura. Os capixabas também mostraram dados de que a importação poderia ficar até mais cara para as indústrias.
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Após a reunião de ontem, o ministro decidiu adiar a importação de café até que o mercado brasileiro apresente estoque suficiente para atender a demanda das indústrias. Segundo um participante do encontro, Maggi vai pedir uma nova avaliação dos estoques, desta vez mais completa, município a município, e se for confirmado o volume superior a 4 milhões de sacas, não libera a importação.
"O ministro reconsiderou nosso pedido de reavaliação dos estoques, iremos reapresentar nosso relatório que protocolamos no Mapa, em 4 de janeiro, em que afirmávamos um estoque de 4,3 milhões de sacas, contestando a Conab portanto. Esse nosso relatório será auditado, se confirmado, o assunto será encerrado", disse o deputado federal Evair Vieira de Melo (PV-ES), que também participou da reunião.
Levando em conta o pedido do setor produtivo e a demanda da indústria, a proposta do governo é liberar a importação de um milhão de sacas, com distribuição mensal de 250 mil sacas de fevereiro a maio. Para isso, o café seria incluído na lista de exceção da TEC (Tarifa Externa Comum), até o limite de um milhão de sacas, com alíquota de 2%. Acima desse limite, a alíquota de exportação, que hoje é de 10%, sobe para 35%.
Principais pragas que poderiam entrar no Brasil com importação:
1) Coffee Berry Disease
Causada pelo fungo Colletotrichum kahawae J. M. Waller & P. D. Bridge, é endêmica na África, onde causa consideráveis perdas na produtividade superiores a 75%, quando não adequadamente manejada.
2) Coffee Wilt Disease
Também conhecida por traqueomicose ou murcha-de-Fusarium do cafeeiro, afeta as espécies Coffea arabica e Coffea canephora, bem como outras espécies do gênero Coffea na África. Nas plantações de Camarões, Guiné, Costa do Marfim e República Democrática do Congo mais de 40% das plantações foram infectadas, causando a morte das plantas.
3) Brocas dos Ramos e Tronco do Cafeeiro
Várias espécies de besouros dos gêneros Monochamus, Xylosandrus e Xylotrechus têm sido relatadas em vários países da África e Ásia causando elevadas perdas nas plantas e consequente redução da produtividade que pode atingir, em média, de 20% a 30%, quando não existem estratégias de manejo ou o uso de fungicidas.
4) Cochonilhas
São insetos pequenos (Coccoidea) considerados como pragas importantes para o cafeeiro na África e Ásia, conhecidas como scales and mealybugs, que sugam a seiva. As perdas econômicas dessas pragas incluem os custos do controle que globalmente são estimados ser de aproximadamente US$ 5 bilhões por ano.
5) Striga
São plantas pertencentes à família Orobanchaceae, que apresentam várias espécies, das quais se destaca a Striga gesnerioides, planta exclusivamente parasita, que produz folhas amareladas ou verde-pálidas.
6) Monilíase do cacaueiro
É uma doença causada pelo fungo Moniliophthora roreri, que pode reduzir em até 80% a produção de cacau. Para especialistas, a monilíase é ainda mais agressiva do que a vassoura-de-bruxa, que quase devastou as lavouras brasileiras.
7) Mal-do-Panamá
Em muitos países, o cultivo da bananeira é consorciado com o café e patógenos exóticos poderão vir aderidos aos produtos de importação, como a sacaria.
8) Xanthomonas da Bananaeira
É uma nova e altamente devastadora doença da bananeira de ocorrência em alguns países da África, causada pela bactéria Xanthomonas campestris pv.musacearum. A bactéria infecta todas as cultivares, chegando a 100% de perdas nas plantações.