Café robusta é destaque em 2016; preço supera o do arábica pela 1ª vez na história
A forte alta nos preços do café robusta, tanto no mercado interno quanto no externo, marcou o ano de 2016, segundo pesquisas do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP. Os aumentos foram tão intensos que, pela primeira vez na história, a cotação média desta variedade superou a do arábica. Na segunda quinzena de outubro, o Indicador CEPEA/ESALQ do robusta tipo 6 peneira 13 acima, a retirar no Espírito Santo, chegou a ficar 13,17 reais/saca acima do Indicador CEPEA/ESALQ do arábica tipo 6, bebida dura para melhor, posto na capital paulista.
O movimento de alta nos preços do robusta foi observado entre março e novembro de 2016 e esteve atrelado à baixa oferta da variedade no mercado nacional. Em meados de agosto, o Indicador ultrapassou os R$ 500,00/sc de 60 kg e começou a registrar recordes reais praticamente diários da série do Cepea, iniciada em 2001 – a máxima foi atingida em 14 de novembro, de R$ 552,28/sc. A safra 2016/17 de robusta foi fortemente prejudicada pelo clima seco tanto no Espírito Santo quanto em Rondônia, com recuo de 25% na produção frente à temporada anterior, segundo a Conab (Companhia Brasileira de Abastecimento).
Diante da oferta restrita de robusta, indústrias brasileiras tiveram que pagar valores maiores na compra do grão e também buscaram outras alternativas na elaboração dos blends, como substituir a variedade pelo arábica mais fraco, como o bebida rio ou aqueles de qualidade inferior. Com isso, os preços destes tipos de arábica também subiram com força, atingindo a casa dos R$ 500/sc.
Em dezembro, o Indicador CEPEA/ESALQ do robusta, tipo 6 peneira 13 acima, à vista, a retirar no Espírito Santo, registra média de R$ 487,60/sc, 28,6% superior à de dezembro/15, em termos nominais. Na safra 2016/17 (de julho a dezembro), a média do Indicador foi de R$ 461,88/sc, alta de 32,9% em relação ao mesmo período da temporada 2015/16.
Segundo colaboradores do Cepea, com o clima desfavorável, a qualidade do robusta foi inferior à da temporada 2015/16. Boa parte dos grãos da safra 2016/17 foi classificada como miúdos, prejudicando também o rendimento da variedade. A menor produção brasileira em 2016/17 e as estimativas de que o cenário possa se repetir na próxima temporada geraram temores quanto à disponibilidade global de robusta.
No mercado externo, as preocupações se voltaram à produção do Vietnã. Segundo estimativas do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos), na atual temporada 2016/17, a queda no volume produzido neste país deve ser de 8%, totalizando 26,6 milhões de sacas de café.
ARÁBICA – Os preços do arábica oscilaram no correr de 2016, mas a liquidez da variedade foi maior se comparada à do robusta, dada a quantidade superior disponível para negociação. Ao longo do ano, o Indicador CEPEA/ESALQ do arábica tipo 6 bebida dura para melhor, posto em São Paulo, variou de R$ 450,15/sc a R$ 577,74/sc, ou seja, quase 130 reais/saca.
Os valores do arábica iniciaram 2016 próximos dos R$ 500,00, mas recuaram a partir de março, registrando o menor patamar de 2016 no final de abril, quando a colheita da variedade estava prestes a ser iniciada no Brasil. Nos meses seguintes, os preços oscilaram e, em setembro/16, voltaram a fechar acima dos R$ 500/sc, diante de preocupações com a temporada 2017/18, que será de bienalidade negativa. Até o início de novembro, a irregularidade das chuvas e a ausência de floradas deixavam o setor em alerta quanto à produção da próxima safra.
Entre o final de novembro e início de dezembro, produtores permaneceram retraídos, cenário que limitou a liquidez. Por outro lado, o dólar voltou a se valorizar e as chuvas retornaram na maioria das regiões produtoras do Brasil, gerando expectativas de boa safra 2017/18, cenário que pressionou as cotações em dezembro.
De julho a dezembro/16, a média do Indicador CEPEA/ESALQ do arábica tipo 6 bebida dura para melhor, posto em São Paulo, foi de R$ 507,48/sc, 11,89% superior à do mesmo período da temporada anterior.
EXPORTAÇÕES – Na parcial da safra (de julho a novembro/16), os embarques de café verde somam 12,81 milhões de sacas, 11,6% abaixo do volume exportado no mesmo período da temporada anterior (2015/16), segundo dados do Cecafé (Conselho de Exportadores de Café). A receita com os embarques é de US$ 2,145 bilhões, 4,45% abaixo da recebida no mesmo período da safra passada. Ao considerar somente o volume de arábica, na parcial desta temporada, houve redução de apenas 0,24% em relação a igual intervalo da safra anterior. Já para o robusta, a queda é mais expressiva, passando de 1,4 milhão de sacas em 2015 para apenas 148 mil sacas em 2016.