Chuvas favorecem florada precoce em áreas de café do Brasil
Por Reese Ewing
ESPÍRITO SANTO DO PINHAL (Reuters) - Chuvas generalizadas em toda a metade sul da principal região produtora de café arábica do Brasil estão despertando floradas precoces nos cafezais, as quais poderão formar os primeiros frutos a amadurecerem para a colheita de 2017.
A primeira onda de chuvas, que quebrou um período de seca que começou em junho, desencadeou uma floração moderada vista pela Reuters durante uma viagem por áreas de café na quarta-feira.
As flores adiantadas são potencialmente um bom sinal para o próximo ano, mas é muito cedo para dizer com certeza o resultado disso para a safra. A questão se essas flores vão produzir o café que chegará ao mercado é fator fundamental para os comerciantes, torrefadores locais e compradores internacionais da commodity.
O mundo está entrando em seu segundo ano de um déficit global de café, estimado por analistas do Rabobank em 2,2 milhões de sacas em 2016/2017.
Esse déficit eventualmente pode aumentar se houver pouca chuva nos próximos meses para sustentar o desenvolvimento do café, disse o engenheiro agrônomo Ezelino Tessarini, na cooperativa Coopinhal, que movimenta mais de 125.000 sacas de grãos de arábica por ano.
"Eu não sei se o volume de café dessas flores será grande. É muito cedo", disse Tessarini, em um armazém onde ele ajuda a aconselhar os produtores que circulam pela pelas ladeiras de Espírito Santo do Pinhal, agora que a maior parte da safra atual já foi colhida.
Da flor à cereja madura de café demora pouco mais de seis meses, disse Tessarini, acrescentando que os grãos formados a partir destas flores estariam prontos em março, "o que ainda é dois meses antes do início tradicional da colheita aqui".
O grupo de pesquisa de café Procafé disse na quarta-feira que árvores em Varginha, no coração da região produtora de arábica do Sul de Minas Gerais, que a floração ocorreu pelo menos duas semanas mais cedo do que o normal, o que tem levantado preocupações sobre a viabilidade das primeiras flores.
"Também estamos entrando em período de La Niña, o que significa que um período de seca é provável antes das chuvas de dezembro começarem para valer, então eu não contaria muito com esta florada", acrescentou Tessarini.
PRÓXIMOS MESES CRUCIAIS
A principal florescimento da cultura do café arábica do Brasil normalmente ocorre em algumas ondas do final de setembro a novembro. E se essas flores, que são vulneráveis a períodos de seca, abortarem na próximos meses, o potencial de produzir estará em risco.
A analista Judith Ganes, da J Ganes Consulting, disse depois de ver fotos de floradas feitas pela Reuters que elas não eram robustas e poderiam ser perdidas antes da colheita.
A colheita do próximo ano, por várias estimativas, já será menor do que a enorme colheita de arábica deste ano, estimada entre 40 milhões e 50 milhões de saca, com os pés de café em sua maioria em seu período de baixa do ciclo bianual.
Enquanto isso, torrefadores locais dizem que estão lutando para encontrar grandes suprimentos de café no mercado, especialmente de robusta, mesmo com colheita perto de terminar no Brasil.
Exportações recordes em 2015, combinadas com três anos de seca em várias partes do cinturão do café, têm consumido os estoques de produtores.
Isto levou o governo a retomar nas últimas semanas leilões de estoques de arábica para ajudar torrefadores em dificuldade.
As chuvas, que atingiram a metade inferior da principal região produtora de café do Brasil ao longo da divisa entre São Paulo e Minas Gerais até o anoitecer de quarta-feira, suspenderam a colheita do fim da safra.
O diretor comercial da Coopinhal, Carlos Eduardo Jeremias, disse que cerca de 10 por cento dos cafezais da região ainda estavam para ser colhidos.
"Somente as maiores altitudes foram deixadas por fazer", disse ele. "Alguns dos melhores cafés são provenientes dessas altitudes."