Café: Bolsa de Nova York encerra semana com alta de quase 3% repercutindo incertezas com próxima safra do Brasil
Mais uma semana de alta acumulada para as cotações futuras do café arábica na Bolsa de Nova York (ICE Futures US). Da sexta-feira passada para hoje, os principais vencimentos da variedade no terminal externo tiveram valorização de quase 3% e voltaram a ficar mais próximos do patamar de US$ 1,50 por libra-peso. Os operadores estiveram atentos nos últimos dias às intempéries climáticas no cinturão produtivo do Brasil, que podem afetar a safra 2017/18, e também ao câmbio.
Nesta sexta-feira (26), os lotes de café arábica com vencimento para setembro/16 encerraram a sessão a 143,90 cents/lb, o dezembro/16 teve 144,85 cents/lb, o março/17 fechou o dia cotado a 148,00 cents/lb e o maio/17, mais distante, registrou 149,90 cents/lb. Todos os vencimentos tiveram ganhos de 40 pontos, mas no meio do dia chegaram a esboçar alta de mais de 200 pontos.
Em seu informativo semanal, o diretor de commodities do Banco Société Générale, Rodrigo Costa, reportou que os operadores na Bolsa de Nova York monitoram as chuvas no Brasil e as floradas. "Aparentemente são esses os fatores que poderão tirar o mercado de arábica do intervalo entre 125 cents e 155 cents", disse o analista.
De fato, durante toda a semana, o terminal externo repercutiu consideravelmente as incertezas climáticas no cinturão produtivo do Brasil. As chuvas chegaram no final da semana passada e favoreceram a abertura de floradas em algumas localidades. No entanto, segundo mapas climáticos, essas precipitações podem diminuir nos próximos dias e os cafeicultores temem que possa ocorrer o abortamento das flores. Com isso, a safra 2017/18 perderia seu potencial produtivo que já promete ser menor devido a bienalidade baixa na maioria das regiões.
Além disso, o frio voltou com força no início da semana em algumas áreas produtoras do grão, principalmente Paraná, e alguns operadores também estavam bastante atentos a isso, pois também poderia impactar a próxima safra de café do Brasil, que o maior produtor e exportador do grão no mundo. No entanto, as fazendas produtoras não foram afetadas.
Já para o engenheiro agrônomo da Fundação Procafé, José Braz Matiello, o grande problema da safra neste momento é a desfolha acentuada das plantas. Ele estima que o cinturão produtivo tenha perdas de 30% em relação à produção desse ano. "Se fosse arriscar, eu daria de 5 a 10 milhões de sacas a menos no arábica. As plantas estressaram muito com a condição climática. Alguns produtores já estão antecipando a poda", conta o especialista.
Para os próximos dias, mapas climáticos dos principais institutos meteorológicos apontam que as chuvas devem voltar às áreas produtoras de café com uma frente fria que avança pelo Centro e Sul do Brasil. No entanto, os acumulados devem oscilar entre 10 e 20 milímetros.
A colheita da safra 2016/17 não foi impactada pelas recentes chuvas ou pelo frio do início da semana e já está próxima da finalização. Segundo estimativa da Safras & Mercado, divulgada na quinta-feira (25), a colheita brasileira estava em 91% até dia 23 de agosto. Com a previsão de produção de 54,9 milhões de sacas de 60 kg no Brasil da consultoria nesta temporada, é apontado que já foram colhidas 50,06 milhões de sacas. Os trabalhos evoluíram 5% em relação à semana anterior.
Já na Cooxupé (Cooperativa Regional dos Cafeicultores em Guaxupé), a maior do mundo, a colheita da safra 2016/17 atingiu 87,24% da área até o dia 19 de agosto. O levantamento foi divulgado pela cooperativa na terça-feira (23). O número também representa um avanço de quase 5% de uma semana para a outra.
Além das incertezas em relação à próxima temporada, as cotações do arábica na semana também acompanharam as oscilações do dólar diante das expectativas com o discurso da presidente do Fed (Federal Reserve), Banco Central dos Estados Unidos, Janet Yellen, que afirmou hoje que o aumento dos juros no país norte-americano tem ganhado força nos últimos meses.
Apesar de cair durante a sessão, o dólar comercial fechou o dia com alta 1,25%, cotado a R$ 3,2719 na venda. Na semana, a moeda norte-americana acumulou valorização de 2,02% frente ao real. As variações do dólar tendem a encorajar ou desencorajar as exportações da commodity e isso impacta diretamente nos preços do grão.
"A maioria dos envolvidos preferiu adotar postura conservadora em suas apostas no mercado, até que a novela mexicana que se transformou o assunto [juros americanos], ganhem um novo capítulo. Dentro deste cenário duvidoso os mercados de uma forma macro, não tiveram forças para romper as atuais amarras", explicou o analista de mercado da Maros Corretora, Marcus Magalhães.
Com o mercado mais valorizado, diante de todas essas questões, já começam a surgir informações do lado comprador. Segundo informação reportada pela Reuters na terça-feira (23), um executivo da J. M. Smucker, maior torrefadora de café dos Estados Unidos, afirmou que "há um monte de café" nas áreas produtoras do Brasil.
Leilões de café da Conab
A Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) realizou na última quinta-feira (25) mais um leilão de venda de café arábica. No total, foram arrematadas 97,17% das 70,02 mil sacas de 60 kg do grão ensacado das safras 2002/2003 e 2009/2010, que estava em armazéns da autarquia nos estados de Minas Gerais e São Paulo.
Desde janeiro, o governo já comercializou 320 mil sacas de café, de um total de 1,25 milhão dos estoques públicos, informou o Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) nesta sexta. O valor arrecadado nas vendas até agora foi de R$ 128,5 milhões. O Paraná já vendeu todo seu estoque. São Paulo e Minas Gerais são os estados que ainda possuem o grão.
Mercado interno
Com a alta considerável nas cotações externas do arábica, os preços no mercado físico nacional também esboçaram reação na maioria das praças verificadas pelo Notícias Agrícolas no acumulado da semana. No entanto, os produtores realizam apenas vendas isoladas. "Poucos negócios, preços com uma tênue sustentação e ansiedade elevada dão a tônica, já que o setor produtivo não espera um mercado tão fraco e sem convencimento, igual ao que está sendo presenciado", afirma Marcus Magalhães.
Segundo projeção da Safras & Mercado divulgada na semana passada, a comercialização da safra 2016/17 está em 37% da produção total estimada, relativa ao final de julho. Foram comercializadas pelos produtores 20,42 milhões de sacas de café. Para o analista da consultoria, Gil Carlos Barabach, embora as vendas tenham sido mais cadenciadas, a comercialização andou bem no último mês de julho. "O produtor aproveitou o repique de preço, quando em meados de julho o preço do café duro girou entre R$ 530,00 a R$ 540,00 a saca em Minas, para acelerar um pouco as vendas, o que repercutiu sobre o resultado comercial", afirmou.
O tipo cereja descascado fechou o dia com maior valor de negociação em Espírito Santo do Pinhal (SP) com R$ 590,00 a saca – estável. A maior oscilação no dia dentre as praças ocorreu em Franca (SP) com alta de 3,00% e saca a R$ 515,00.
Da sexta-feira passada para hoje, a cidade que registrou maior variação para o tipo foi Guaxupé (MG) com avanço de R$ 21,00 (3,93%), saindo de R$ 535,00 para R$ 556,00 a saca.
O tipo 4/5 teve maior valor de negociação em Guaxupé (MG) com R$ 559,00 a saca e avanço de 0,36%. A maior oscilação no dia dentre as praças ocorreu em Varginha (MG) com avanço de 1,00% e saca a R$ 505,00.
Para o tipo, conforme o gráfico, a maior oscilação na semana foi registrada em Guaxupé (MG), que tinha saca cotada a R$ 541,00, mas subiu R$ 18,00 (3,33%) e agora vale R$ 559,00.
O tipo 6 duro registrou maior valor de negociação na cidade de Araguari (MG) com R$ 520,00 a saca – estável. A maior oscilação no dia dentre as praças ocorreu no Oeste da Bahia (AIBA) com R$ 490,00 a saca e alta de 1,03%.
A variação mais expressiva de preço na semana para o tipo 6 duro foi registrada em Guaxupé (MG). A saca estava cotada a R$ 484,00 na sexta-feira passada, mas teve valorização de R$ 21,00 (4,35%) e agora está em R$ 504,00.
Na quinta-feira (25), o Indicador CEPEA/ESALQ do arábica tipo 6, bebida dura para melhor, teve a saca de 60 kg cotada a R$ 481,09 com alta de 1,95%.
Bolsa de Londres
A Bolsa de Londres (ICE Futures Europe), antiga Liffe, para o café robusta fechou o pregão desta sexta-feira com alta expressiva. O contrato setembro/16 anotou US$ 1783,00 por tonelada com alta de US$ 22, o novembro/16 teve US$ 1819,00 por tonelada com avanço de US$ 22 e o janeiro/17 anotou US$ 1838,00 por tonelada com valorização de US$ 17.
Na quinta-feira (25), o Indicador CEPEA/ESALQ do arábica tipo 6, bebida dura para melhor, teve a saca de 60 kg cotada a R$ 426,15 com alta de 0,75%.