Diante de preços mais altos, aumentam roubos de café nas principais regiões produtoras do Brasil
"Os tempos são outros", assim define o comandante da Polícia Militar de São João da Boa Vista (SP), capitão Alexandre Bergamasco, em referência a recente onda de crimes em fazendas produtoras de café no interior de São Paulo e Sul de Minas Gerais. A tranquilidade não existe mais na zona rural. Desde o início do ano, foram registrados quase 20 casos de furto ou roubo nessas áreas. Os prejuízos dos cafeicultores já estão próximos de R$ 1,5 milhão.
Após realizaram a colheita do café, que ocorre neste momento, os produtores paulistas e mineiros costumam deixar os grãos armazenados nas propriedades antes da comercialização, o que sempre acaba chamando a atenção dos criminosos, segundo a Polícia Militar. No entanto, neste ano, o número de casos tem surpreendido as autoridades e assustado os produtores. Em alguns casos, as quadrilhas fizeram as famílias refém.
De acordo com o produtor de café de São Pedro da União (MG) e presidente do Conselho da Associação dos municípios da Microrregião da Baixa Mogiana (AMOG), Fernando Barbosa, a crise no Brasil e a valorização nos preços do café nesta safra contribuíram bastante para a insegurança nas fazendas. "Os produtores estão deixando o café armazenado nas propriedades depois do beneficiamento e isso tem atraído muito os criminosos. Além disso, o preço do grão está razoável neste ano e isso também contribui para o aumento dos casos".
Diante das incertezas climáticas e das dúvidas em relação ao potencial produtivo do Brasil nesta temporada, o Indicador CEPEA/ESALQ do arábica tipo 6, bebida dura para melhor, subiu quase R$ 100,00 de um ano para o outro. Saindo de R$ 415,93 a saca em 13 de julho do ano passado, para R$ 507,58 a saca na quarta-feira (13). No entanto, o valor de comercialização da saca no mercado paralelo é bem menor.
"Os criminosos chegam a vender o café que custa R$ 500,00 no mercado por menos de R$ 200,00 a saca", pondera capitão Bergamasco. O valor é atraente, mas o policial pondera que quem comprar essas cargas roubadas pode ser enquadrado como receptador. "O crime de receptação está claro no artigo 180 do Código Penal, inclusive com pena de prisão", afirma.
Desde o início do ano, ao menos 18 casos de roubo ou furto de café foram registrados em cidades produtoras de São Paulo e Sul de Minas Gerais. (Veja o infográfico abaixo). Levando em conta que o café está sendo comercializado nesta época do ano em cerca de R$ 450,00 a saca, em média, os produtores já tiveram prejuízo de mais de R$ 1,5 milhão.
Um dos casos mais recentes aconteceu na última segunda-feira (11), em São João da Boa Vista (SP), quando seis assaltantes invadiram uma fazenda e renderam a família. No local, a quadrilha roubou 114 sacas de café, R$ 2,4 mil e quatro veículos. Dois dias depois, o grupo foi preso na zona rural da cidade. A Polícia Civil investiga agora se os cinco homens e uma mulher, que foram detidos, também são os responsáveis por outros casos no cinturão produtivo.
"Pela forma como agiam, acreditamos que eles podem ter praticado outros delitos na região de São João da Boa Vista (SP) e também no Sul de Minas Gerais", diz capitão Bergamasco, que acredita que ainda há outras quadrilhas agindo da mesma forma nessas regiões. A Polícia Militar de São João da Boa Vista (SP), inclusive, reativou a patrulha rural neste ano.
Segundo capitão Bergamasco, é inevitável que neste período de colheita as fazendas tenham maior fluxo de pessoas. No entanto, os produtores devem ser mais restritivos. "As quadrilhas podem receber informações das pessoas que visitam as fazendas", diz. "Temos orientado os cafeicultores para que não deixem o café por muito tempo armazenado nas propriedades, que mandem para a cooperativa o mais rápido possível, já que elas costumam ter seguro", pondera Bergamasco.
De acordo com o coordenador da assessoria jurídica da FAEMG (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais), Francisco Simões, de 2014 para 2015, o número de crimes violentos envolvendo patrimônio na área urbana e rural de Minas Gerais teve um aumento de 25%. Diante desses números, a Federação tem solicitado constantemente ao poder público medidas para minimizar a situação. "Pedimos aumento de efetivo, mais viaturas na área rural, recursos e, principalmente, um setor de inteligência na Polícia voltado para os crimes no campo para que esses casos tenham um tratamento diferencial", explica Simões.
Para o deputado e vice-presidente da Comissão de Agricultura de Minas Gerais, Emídio Madeira Júnior, a união dos cafeicultores é fundamental para se criar políticas mais eficazes de segurança nas áreas rurais. "Gostaria de criar um projeto de lei ouvindo os cafeicultores, pois precisamos fortalecer essa classe", diz. Nesta sexta-feira (15), em Alfenas (MG), acontece uma Assembleia do Concafé (Consórcio Público para o Desenvolvimento do Café) e uma das pautas abordadas pelas lideranças do setor será a segurança no campo.