Café: Repercutindo o câmbio e safra do Brasil, Bolsa de NY tem semana tranquila e perdas de pouco mais de 2,5%
A semana no mercado do café arábica foi de certa forma tranquila, com as cotações futuras na Bolsa de Nova York (ICE Futures US) fechando praticamente estáveis nos últimos dias. No entanto, apesar das curtas oscilações, o campo negativo prevaleceu em quase todas as sessões. O vencimento julho/16, referência de mercado, teve perda acumulada de 2,73% nesta semana, saindo de 124,70 cents/lb para 121,30 cents/lb nesta sexta-feira (27).
O mercado repercute as oscilações no câmbio, diante das novidades na cena política no Brasil e as divulgações do Fed (Federal Reserve), Banco Central dos Estados Unidos, que impactam diretamente as exportações da commodity. Além disso, o avanço da colheita nas principais áreas brasileiras também dá o tom negativo para os preços externos, com operadores acreditando em um cenário tranquilo de oferta nesta temporada.
No pregão desta sexta, o contrato julho/16 encerrou a sessão cotado a 121,30 cents/lb com queda de 20 pontos, o setembro/16 teve 123,25 cents/lb com recuo de 15 pontos. Já o vencimento dezembro/16, mais distante, fechou o dia com 126,00 cents/lb e o março/17 registrou 128,70 cents/lb, ambos com 20 pontos de desvalorização.
Para o analista da Maros Corretora, Marcus Magalhães, o dia para o café foi tranquilo com investidores apenas administrando suas posições em aberto no mercado. Na próxima segunda-feira (30), a Bolsa de Nova York não funciona por conta do feriado nacional "Memorial Day", nos Estados Unidos. "As Bolsas de Nova York e Londres estão indicando um certo cansaço nas baixas, já que existe um grau elevado de posições vendidas em aberto no mercado e desta forma, os níveis ficam passíveis de correção sem dar aviso prévio", afirma.
Na terça-feira (24), a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) divulgou que a produção brasileira de café arábica e conillon em 2016 deve ser de 49,67 milhões de sacas de 60 kg do produto beneficiado, com um aumento de 14,9% em relação as 43,24 milhões de sacas alcançadas em 2015, ano em que as lavouras foram afetadas pela seca nas principais áreas produtoras do Sudeste.
De acordo com a consultoria Safras & Mercado, a colheita brasileira do grão evoluiu para 17% até 24 de maio. Levando em conta a estimativa de 56,4 milhões de sacas de 60 kg da Safras para o Brasil, já foram colhidas 9,81 milhões de sacas. O trabalho com o arábica está antecipado e segue em bom ritmo, enquanto que no conillon está atrasado e lento.
"No caso do arábica, a maturação adiantada permitiu o produtor ir mais cedo às lavouras, especialmente em Minas Gerais e São Paulo. No conillon, a maturação irregular e o clima adverso prejudicam o desenvolvimento da colheita, o que potencializa perdas maiores que o esperado, especialmente no Espírito Santo", explica o analista da Safras & Mercado, Gil Carlos Barabach.
Diante desses números, os operadores na Bolsa de Nova York acreditam que o cenário de oferta no Brasil, que é o maior produtor e exportador da commodity no mundo, está tranquilo. No entanto, para o analista do Escritório Carvalhaes, Eduardo Carvalhaes, o cenário não é tão favorável assim. "Teremos uma produção que será suficiente apenas para o consumo interno e exportação, uma vez que tudo indica estoques brasileiros estão baixos", explicou na quarta-feira o analista ao Notícias Agrícolas.
O câmbio também impactou o mercado nesta semana diante de novos desdobramentos no cenário político do Brasil e de divulgações do Fed. Nesta sexta-feira, o dólar comercial fechou cotado R$ 3,6110 na venda com alta de 0,38%. O avanço da divisa estrangeira acentuou durante a tarde, após declarações da chair do Fed, Banco Central norte-americano, Janet Yellen, indicar que a alta dos juros deve ser apropriada nos próximos meses. O dólar mais alto em relação ao real dá maior competitividade às exportações da commodity, mas tende a derrubar os preços externos.
Até a terceira semana de maio (15 dias úteis), as exportações brasileiras de café registraram 1,53 milhões de sacas de 60 kg, com receita de US$ 223,4 milhões. Foram embarcadas uma média de 102,6 mil sacas por dia, ante uma média de 111,6 mil por dia em abril. "Os estoques do país foram reduzidos nos últimos meses após exportações fortes – impulsionadas pelo câmbio – e como consequência de duas safras prejudicadas por secas", reportou a Reuters na segunda-feira (23).
Mercado interno
Assim como no cenário externo, a semana também foi tranquila no mercado físico brasileiro, ainda mais em meio ao feriado prolongado de "Corpus Christi" na quinta-feira. Os cafeicultores do Brasil continuam atentos à colheita nas principais regiões produtoras e aguardam melhores patamares para voltar às praças de comercialização. Em alguns casos, os preços ofertados não cobrem nem os custos de produção.
Além disso, poucos cafeicultores ainda têm lotes da safra passada disponível e, os que ainda tem, não os entregam pelos atuais patamares de mercado. "Se o produtor segurou o café até agora, ele não vai vender justamente neste pico de baixa", ponderou o analista Eduardo Carvalhaes.
O tipo cereja descascado teve maior valor de negociação hoje em Espírito Santo do Pinhal (SP) com R$ 530,00 a saca – estável. A maior oscilação no dia ocorreu em Guaxupé (MG) com alta de 0,58% e saca cotada a R$ 523,00.
Da sexta-feira passada para hoje, a cidade que registrou maior variação para o tipo foi Varginha (MG) com queda de R$ 20,00 (-3,85%), saindo de R$ 520,00 para R$ 500,00 a saca.
O tipo 4/5 teve maior valor de negociação em Guaxupé (MG) com R$ 521,00 a saca e avanço de 0,19%. A maior oscilação dentre as praças no dia ocorreu em Poços de Caldas (MG) com alta de 0,42% e saca a R$ 476,00.
Para o tipo, conforme o gráfico, a maior oscilação na semana foi registrada em Varginha (MG), que tinha saca cotada a R$ 495,00, mas recuou R$ 10,00 (-2,02%) e agora vale R$ 485,00.
O tipo 6 duro registrou maior valor de negociação em Araguari (MG) com R$ 500,00 a saca – estável. A maior variação no dia dentre as praças foi em Espírito Santo do Pinhal (SP) com baixa de 6,00% e saca a R$ 470,00.
A variação mais expressiva de preço na semana para o tipo 6 duro foi registrada no Oeste da Bahia, por lá a saca estava cotada a R$ 480,00 na sexta-feira passada, mas teve desvalorização de R$ 17,50 (-3,65%) e agora está em R$ 462,50.
Na quarta-feira (25), o Indicador CEPEA/ESALQ do arábica tipo 6, bebida dura para melhor, teve a saca de 60 kg cotada a R$ 452,57 com queda de 0,37%.
Bolsa de Londres
A Bolsa de Londres (ICE Futures Europe), antiga Liffe, fechou com leve alta nesta sexta-feira. O contrato maio/16 anotou US$ 1628,00 por tonelada com avanço de US$ 9, o julho/16 teve US$ 1642,00 por tonelada e alta de US$ 3 e o setembro/16 anotou US$ 1661,00 por tonelada com valorização de US$ 3.
Na sexta-feira (20), o Indicador CEPEA/ESALQ do café conillon tipo 6, peneira 13 acima, teve a saca de 60 kg cotada a R$ 387,70 com avanço de 0,56%.