"Cafeicultura brasileira sofrerá migração de áreas nos próximos anos", diz Andrea Illy
Nos próximos 50 anos, o mundo perderá, em média, cerca de 130 milhões de hectares de terras adequadas ao cultivo de café devido ao aumento da temperatura. Apenas 30 milhões seão adicionadas. Segundo levantamento da torrefadora italiana illycaffè, o Brasil será o País produtor do grão que mais enfrentará perdas de terras adequadas ao cultivo, em compensação, também será o que ganhará maior número de novas áreas para a atividade. Atualmente, o café é colhido em cerca de 10 milhões de hectares globalmente.
"A cafeicultura brasileira sofrerá uma forte migração de áreas nos próximos anos, como já aconteceu no passado com o Paraná, por exemplo, que perdeu a representatividade que tinha há alguns anos", afirma o CEO da illycaffè, Andrea Illy.
As mudanças climáticas impactam toda a agricultura, mas, principalmente, o café arábica, que é menos suscetível que a variedade robusta, por exemplo. "A cada vez que a temperatura fica acima de 35º Celsius há uma queda de produtividade e de qualidade para o café", pondera Illy. Para ele, todos os países produtores do grão enfrentarão queda de áreas aptas ao cultivo até 2050, com exceção da Flórida, África do Sul, Etiópia, Norte da Índia, Mianmar, China, e no Brasil, Sul da Bahia.
Apesar de a cafeicultura brasileira ser a que perderá maior número de áreas nos próximos anos, o País sai na frente de outras origens produtoras, pois também ganhará maior número de novas áreas adequadas ao plantio, principalmente no Sul e em regiões com maior altitude. "O Brasil será um dos países mais favorecidos com o crescimento da demanda mundial. Verificamos que nos últimos 20 anos a produção brasileira aumentou acima da média de consumo mundial", ressalta Illy.
O consumo mundial de café em 2015 é estimado pela OIC (Organização Internacional do Café) em 152,1 milhões de sacas, um aumento de 1,2% em relação as 150,2 milhões de sacas registradas em 2014. Nos últimos quatro anos, o crescimento anual foi em média de 2%. Na safra 2014/15 foi produzido globalmente 141,3 milhões de sacas.
Nesta temporada, alguns países produtores da Ásia e África tiveram perdas severas em decorrência do fenômeno climático El Niño, o que não aconteceu com o Brasil. "Acredito que a produção brasileira na safra 2016/17 seja de cerca de 50 milhões de sacas. Com isso, os preços devem se manter estáveis", explica Illy.