Safra de café do Brasil 2015 cairá para 40,3-43,25 mi sacas, prevê Procafé

Publicado em 12/03/2015 15:05

Por Anthony Boadle

BRASÍLIA (Reuters) - A safra brasileira de café deste ano deverá atingir algo entre 40,3 milhões e 43,25 milhões de sacas de 60 kg, podendo ter um recuo expressivo na comparação com 2014 devido principalmente a problemas climáticos, segundo pesquisa da Fundação Procafé encomendada pelo Conselho Nacional do Café (CNC), entidade que representa os produtores.

A colheita do maior produtor e exportador global cairia entre 4,6 por cento e 11,1 por cento na comparação com a produção de 2014, oficialmente estimada em 45,3 milhões de sacas.

A instituição de pesquisa Procafé disse nesta quinta-feira que a safra de arábica do Brasil foi estimada em um intervalo de 30 milhões a 32,15 milhões de sacas (queda de até 7,4 por cento ante 2014), enquanto a de café robusta ficará entre 10,3 milhões e 11,1 milhões de sacas (recuou de até 21 por cento).

"O principal motivador para a redução do volume a ser colhido foram as adversidades climáticas registradas de 2014 até o início de fevereiro de 2015, além do ciclo produtivo das plantas de arábica, que estão em ano de bienalidade negativa...", afirmou o CNC em nota.

A safra passada, que foi fortemente impactada pela seca atípica no verão e por altas temperaturas, era um ano de alta na bienalidade do arábica, que tradicionalmente registra maiores e menores colheitas, de forma intercalada.

O CNC afirmou ainda que a queda na safra deste ano se deve também a uma redução dos tratos culturais por parte dos produtores, "motivados pelos baixos preços do café, que incentivaram podas nos cafezais e até mesmo a erradicação das plantas devido à incompatibilidade das cotações de mercado com os custos de produção".

Se a previsão da Procafé ficar no ponto mais baixo da estimativa, de 40,3 milhões de sacas, o Brasil teria este ano a menor safra desde 2009, quando a produção somou 39,47 milhões de sacas.

"A seca de 2014 afetou a colheita de 2015 mais do que a safra 2014", disse o engenheiro agrônomo José Braz Matiello, da Procafé. "2016 deve ter uma pequena recuperação. Poderemos ver um aumento de 4 a 5 milhões para 46-47 milhões."

Por conta da quebra de safra no Brasil, a Organização Internacional do Café (OIC) estima que o mercado mundial de café enfrentará um déficit de 8 milhões de sacas na temporada 2015/2016.

"Eu acho que nós temos um déficit de 8 milhões de sacas, com uma produção de 142 milhões de sacas", disse o diretor-executivo da OIC, Robério Silva, nesta quinta-feira à Reuters. "O déficit está se tornando cada vez maior", devido às condições climáticas, como a seca no Brasil, disse ele.

ESTADOS

O Estado de Minas Gerais, com uma produção total estimada entre 21,5 milhões e 22,95 milhões de sacas, colherá um volume muito próximo ao de 2014 (-5 a +1,3 por cento), "graças à recuperação ocorrida na Zona da Mata Mineira".

O Estado do Espírito Santo, diferentemente de 2014, foi impactado fortemente pelo clima adverso na safra atual. Com isso, a produção capixaba apresentará recuos entre 15,66 por cento e 21,9 por cento ante 2014, atingindo no máximo 10,8 milhões de sacas.

O levantamento foi feito em campo, da segunda quinzena de janeiro até a segunda quinzena de fevereiro de 2015. Foram visitadas 2.700 propriedades cafeeiras do Brasil, por técnicos especializados em cafeicultura dos quadros da Fundação Procafé e de outras instituições ligadas a cooperativas e órgãos de assistência ao produtor.

Na temporada passada, pesquisa semelhante da Procafé ficou abaixo do número oficial da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab.).

A Conab, em sua primeira estimativa para a nova safra de café divulgada em janeiro, projetou uma colheita de 44,11 milhões a 46,61 milhões sacas em 2015, números que não captaram os efeitos da seca do primeiro mês do ano.

Safra de café do Brasil terá quebra entre 5% e 11% em 2015

CNC e Procafé

— Em levantamento de campo contratado pelo CNC, a Fundação Procafé projetou uma colheita de 40,30 milhões a 43,25 milhões de sacas de 60 kg.

A safra 2015 de café do Brasil está prevista entre 40,300 milhões e 43,250 milhões de sacas de 60 kg, implicando quebra de 4,61% a 11,12% na comparação com as 45,342 milhões de sacas colhidas em 2014. Os números fazem parte do levantamento de campo contratado pelo Conselho Nacional do Café (CNC) junto à Fundação Procafé.

Do total estimado, entre 30 milhões e 32,150 milhões de sacas se referem à variedade arábica, o que representa recuo de 0,48% a 7,14% na comparação com as 32,306 milhões de sacas de 2014. A produção brasileira de café conilon (robusta) foi prevista entre 10,3 milhões e 11,1 milhões de sacas, intervalo que implicará queda de 14,85% a 20,99% em relação às 13,036 milhões de sacas cultivadas no ano passado.

PRODUÇÃO POR UF

O Estado de Minas Gerais, com uma produção total entre 21,500 e 22,950 milhões de sacas, colherá um volume muito próximo ao de 2014 (-5% a +1,3%) – graças à recuperação ocorrida na Zona da Mata Mineira –, que foi de 22,644 milhões de sacas, mantendo-se na liderança do ranking nacional. Na sequência vem o Espírito Santo, Estado que, diferente de 2014, foi impactado fortemente pelo clima na safra atual. Com isso, a produção capixaba apresentará recuos entre 15,66% e 21,91% frente ao ano passado e deverá somar entre 10 milhões e 10,8 milhões de sacas.

São Paulo e Bahia também apresentarão perdas na colheita 2015. Com previsão para produzirem volumes de 3,7 milhões a 3,9 milhões e de 1,9 milhão a 2,1 milhões de sacas, paulistas e baianos registrarão, respectivamente, diminuições de 15% a 19,37% e de 11,43% a 19,87%.

Paraná é a exceção. O Estado produzirá entre 1,0 milhão e 1,1 milhão de sacas de café, registrando substancial crescimento de 78,89% a 96,78% na comparação com 2014. Esse fato se justifica porque a produção paranaense do ano passado foi severamente afetada pela geada de 2013.

CLIMA E QUEBRA DE SAFRA

O principal motivador para a redução do volume a ser colhido foram as adversidades climáticas registradas de 2014 até o início de fevereiro de 2015, além do ciclo produtivo das plantas de arábica, que estão em ano de bienalidade negativa, e a redução dos tratos culturais por parte dos produtores, motivados pelos baixos preços do café, que incentivaram podas nos cafezais e até mesmo a erradicação das plantas devido à incompatibilidade das cotações de mercado com os custos de produção.

Para os cafeeiros nacionais, a influência climática tem sido extremamente prejudicial nos últimos dois anos, quando foram registrados déficits hídricos severos na maioria das regiões produtoras do Brasil. No caso do arábica, esse cenário teve início no começo de 2014 e perdura até atualmente, ao passo que, para o conilon, a falta de água no solo é mais recente, sendo observada no ciclo 2015.

A deficiência hídrica foi gerada pelo índice de chuvas aquém das médias históricas desde janeiro de 2014 e agravada pelas altas temperaturas registradas no cinturão produtor de café, em especial nos meses de crescimento das plantas, florescimento, “pegamento” das floradas e desenvolvimento dos grãos, impactando diretamente no tamanho e no rendimento dos cafés e, consequentemente, na geração de receita aos produtores, que necessitam de um maior número de grãos para encher uma saca.

Em relação à cafeicultura de arábica, a falta de precipitações no início do ano passado prejudicou as adubações e os tratos culturais como um todo. O déficit hídrico, que continuou durante 2014, agravou a fragilidade das plantas, fazendo com que os cafeeiros chegassem à pré-florada mal nutridos e estressados pela carga, com menor crescimento dos ramos (nós mais curtos) e do número de internódios, queda pronunciada de folhas, ramos secos, especialmente nas suas pontas, e com indução de gemas vegetativas no lugar das florais, portanto, com menor potencial produtivo.

Já nas principais regiões de café robusta do País, como o norte do Espírito Santo e o Sul da Bahia, as condições climáticas transcorreram normalmente, diferente do cenário observado nas áreas de arábica. No entanto, a partir de meados de dezembro de 2014, principalmente em janeiro e parte de fevereiro de 2015, verificou-se um forte veranico nessas localidades, com 50 dias sem chuva e temperaturas muito elevadas, o que conduziu os cafeeiros à seca da folhagem e ao “chochamento” dos frutos, com efeito prejudicial na safra esperada.

É oportuno destacar, embora seja do conhecimento da maioria dos profissionais ligados ao setor cafeeiro, que a retomada das chuvas na segunda quinzena de fevereiro de 2015 — não beneficiando as regiões produtoras de café de forma homogênea — não garantem a reversão da tendência de perdas de safra aqui estimadas, pois, especialmente para as áreas de café arábica, os fatores mais influentes na produtividade e na produção deste ano foram os vigentes desde o início de 2014. Ao contrário, fica o alerta que podem até haver perdas adicionais, pois as últimas floradas ainda resultam frutos não granados e a sequência das chuvas se faz necessária.

Por fim, pode-se confirmar que os efeitos negativos desse clima adverso também reduzirão o potencial produtivo dos cafezais na temporada 2016, haja vista que o crescimento dos internódios está de dois a quatro números atrasados em relação à normalidade, o que reduz a área para o surgimento dos frutos a serem colhidos no próximo ano.

SOBRE O LEVANTAMENTO

O levantamento foi feito em campo, da segunda quinzena de janeiro até a segunda quinzena de fevereiro de 2015. As propriedades foram visitadas por técnicos especializados em cafeicultura dos quadros da Fundação Procafé e de outras instituições ligadas a cooperativas e órgãos de assistência ao produtor, sempre com a coordenação da Procafé, os quais avaliaram in loco o estado vegetativo das plantas e a capacidade produtiva para a safra deste ano.

Foram visitadas 2.700 propriedades cafeeiras do Brasil, nas quais se aplicou um questionário contendo indagações sobre a área cafeeira total, a área com cafeeiros jovens, a área podada e as produções obtidas em 2013, 2014 e a previsão para 2015. Para a apuração dos dados, os questionários foram tabulados em planilha Excel e foram feitos os cálculos das médias e razões de produtividade, chegando-se aos resultados da safra estimada.

Em função da ocorrência de forte veranico nas regiões de café robusta do Espírito Santo e do extremo Sul da Bahia, considerou-se, também, uma quebra adicional sobre os números levantados, conforme o índice de “chochamento” previsto nos frutos.

A íntegra do material está disponível no site do CNC: https://www.cncafe.com.br/site/interna.php?id=14.

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Fonte: Reuters + CNC

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