CNC: Continuidade do veranico, das altas temperaturas e do déficit hídrico deverá diminuir a safra atual e já preocupa para 2016
BALANÇO SEMANAL – 19 a 23/01/2015
CLIMA REDUZIRÁ SAFRA – O passar dos dias e a continuidade da falta de chuvas, das elevadas temperaturas e do déficit hídrico no cinturão cafeeiro do Brasil vem tornando ainda mais preocupante a situação das lavouras e transparecendo que colheremos um volume aquém do intervalo de 44,1 milhões a 46,6 milhões de sacas projetadas pelo Governo Federal no primeiro levantamento oficial da safra 2015.
A Fundação Procafé, contratada pelo Conselho Nacional do Café, está em campo apurando as perdas que o veranico atual deverá ocasionar na colheita deste ano. O intuito é contribuir com o Governo para seus levantamentos futuros e, principalmente, tornarmos públicos dados mais atuais e condizentes à realidade de nossa safra, de maneira que se evitem ainda mais especulações no mercado cafeeiro e, consequentemente, preços aviltados aos produtores e/ou sobrepreços aos consumidores.
O veranico do ano passado afetou especialmente os cafezais de Minas Gerais, São Paulo e Paraná, ocasionando quebra e interrompendo o ciclo bienal de nossas lavouras. Esses Estados, em 2015, permanecem em situação alarmante, haja vista que as condições climáticas estão parecidas com as de 2014.
Além disso, este ano, as lavouras de café robusta no Espírito Santo também preocupam. Relatos de institutos de pesquisa apontam que há mais de um mês não chove nas principais regiões produtoras de conilon do Estado e já se registra falta de água para irrigar os cafezais devido aos baixos níveis nos reservatórios.
O CNC reitera que a combinação de altas temperaturas, déficits hídricos e seca é extremamente prejudicial às lavouras de café nesta época, que é o período do enchimento e desenvolvimento dos grãos. E, com a adversidade climática que se repete este ano, certamente presenciaremos cafés menores, mal granados e mais leves, sendo necessário um maior volume de grãos para a composição de uma saca.
Dessa forma, o Conselho Nacional do Café repudia quaisquer previsões de especuladores que emerjam, como ocorrido novamente nesta semana, com o intuito único de tirar proveito do mercado, pressionando cotações e deixando os produtores em cenário financeiro ainda pior do que o atual.
Destarte, o CNC alerta que a safra 2016 também começa a ser comprometida com o baixo índice de vegetação dos cafezais no País. Temos recebido informações que o número de internódios – gemas de crescimento do caule para a formação dos grãos da colheita futura – encontra-se de cinco a seis, ao passo que deveriam ter se desenvolvido entre oito e 10. Normalmente, a previsão é que, ao final de março, os internódios cheguem a 15, mas isso será impossível no atual cenário, o que, certamente, impactará negativamente na safra do ano que vem.
AMÉRICA CENTRAL – A colheita de café na América Central começou em novembro passado e, também neste continente, registram-se prejuízos devido à seca, em especial na Nicarágua, na Guatemala e em Honduras. A falta de precipitações, relacionada ao fenômeno climático El Niño, é um agravante para os produtores latinos que há duas safras também já enfrentam problemas relacionadas ao fungoroya, causador da ferrugem. Dessa maneira, o CNC alerta que é, no mínimo, precipitado dizer que as duas quebras de safra consecutivas do Brasil serão supridas por outras nações, principalmente quando se entende o cenário vivido nos países latinos.
MERCADO – As cotações futuras do café acumularam queda nesta semana, refletindo o movimento dos investidores que anteciparam a chegada das chuvas sobre o cinturão produtor.
Segundo a Somar Meteorologia, na quarta-feira, uma frente fria rompeu o bloqueio atmosférico que impedia a formação de chuvas sobre a região Sudeste do Brasil. Em consequência, até domingo, espera-se um acumulado médio de 30 milímetros de precipitações sobre São Paulo, Rio de Janeiro, centro, oeste e sul de Minas Gerais, leste de Mato Grosso do Sul, Distrito Federal e no leste e sudoeste de Goiás.
Mesmo com a previsão de aumento da umidade no cinturão produtor nos próximos dias, o mês de janeiro encerrará com volume acumulado de chuvas abaixo da média histórica, associado a elevadas temperaturas, justamente na fase crítica de enchimento dos grãos de café.
O vencimento março do Contrato C, negociado na bolsa de Nova York, foi cotado, na quinta-feira, a US$ 1,5995 por libra-peso, acumulando queda de 1.105 pontos em relação ao final da semana passada. A ICE Futures Europe seguiu a mesma tendência, com o vencimento março/2015 dos futuros do café robusta encerrando a sessão de ontem a US$ 1.940 por tonelada, com perdas de US$ 30 desde a última sexta-feira.
No mercado físico brasileiro, a queda dos preços limitou ainda mais a realização de negócios, que já seguiam em ritmo lento. Ontem, os indicadores calculados pelo Cepea para as variedades arábica e conilon foram cotados a R$ 440,45/saca e a R$ 280,51/saca, respectivamente, com quedas de 7,7% e 1,9% no acumulado da semana. A tendência de recuo das cotações do dólar acentua o impacto da desvalorização internacional na formação dos preços domésticos.
Também na quinta-feira, o dólar comercial encerrou a sessão a R$ 2,575, com perda de 1,8% desde a sexta da semana antecedente. As medidas de maior rigor fiscal anunciadas pelo governo brasileiro e o lançamento do programa de estímulo à economia da zona do euro, pelo Banco Central Europeu, foram as principais motivações para a apreciação do real.