CNC: Condições meteorológicas atípicas para o mês de janeiro no Brasil voltam a gerar preocupações quanto à oferta de café

Publicado em 16/01/2015 10:26

BALANÇO SEMANAL — 12 a 16/01/2015

SAFRA 2015 — Na segunda-feira, dia 12, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) divulgou seu primeiro levantamento para a safra 2015 de café, no qual apontou a produção total de 44,11 milhões a 46,61 milhões de sacas de 60 kg. Os volumes apresentados no intervalo representam uma redução de 2,7% em relação a 2014, caso seja atingida a menor estimativa, ou uma alta de 2,8%, se alcançar o montante superior, e são condizentes com o volume anunciado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na semana antecedente, de 45,5 milhões de sacas.

Ao tempo em que o Conselho Nacional do Café congratula ambas as estatais pela aproximação dos números referentes à mesma safra, a entidade também salienta que os volumes projetados foram apurados com trabalhos de campo em dezembro, não considerando, portanto, esse novo veranico que vem se estabelecendo sobre o cinturão cafeeiro do Brasil.

Dessa forma, destacamos que a safra 2015 de café do País poderá se situar em patamares inferiores aos anunciados, haja vista que janeiro e fevereiro são meses fundamentais para o desenvolvimento dos grãos e, semelhante ao ocorrido em 2014, temos vivenciado temperaturas muito elevadas, escassez de chuvas e déficits hídricos no solo, condições que, certamente, trarão novo prejuízo para a produção.

O CNC reitera, ainda, que, com o intuito de contribuir com o Governo Federal na apuração do tamanho da colheita cafeeira, contratou a conceituada Fundação Procafé para realizar trabalhos de campo, agora em janeiro, para apurar as perdas iniciais que o novo veranico trará à safra deste ano.

Por ser realizado neste mês, o levantamento deverá trazer informações mais atualizadas e já condizentes com a realidade da falta de água e das altas temperaturas, sinalizando, de fato e até o momento, qual deverá ser a quebra ocasionada por essa nova anomalia climática.

MERCADO — As condições meteorológicas atípicas para o mês de janeiro no Brasil, com elevadas temperaturas e precipitações aquém das médias históricas, voltam a gerar preocupações quanto à oferta de café na safra 2015/16, aumentando a volatilidade do mercado. No acumulado da semana, as cotações do arábica acumularam perdas, principalmente devido às realizações de lucros que predominaram no final da sessão de ontem em Nova York.

Nos últimos 30 dias, a disponibilidade de água no solo em Minas Gerais esteve cerca de 70% abaixo da média, conforme dados disponibilizados pelo MDA Weather Services. Já o Reuters Weather Dashboard informou que um bloqueio atmosférico continua impedindo o avanço de frentes frias sobre a região Sudeste do Brasil, que deverá receber, até 27 de janeiro, metade do volume normal de chuvas para esta época do ano. A restrição de umidade é crítica nessa fase de granação do café que será colhido nos próximos meses.

O Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) realizou um levantamento para avaliar a percepção dos agentes de mercado sobre o desenvolvimento regional da safra brasileira 2015/16, cujos resultados encontram-se resumidos no quadro abaixo. A instituição reforçou que ainda é precoce qualquer estimativa dos danos causados pelo clima recente, porém há indicativos que a produção poderá ser menor que a estimada pela Conab, caso a seca e o calor persistam.


Fonte: Cepea

O cenário climático no Brasil preocupa bastante, principalmente porque a oferta global do grão já sofreu retração na temporada 2014/15, conforme estimativas iniciais da Organização Internacional do Café (OIC). Segundo a entidade, a produção mundial em 2014/15 aproximou-se de 141,4 milhões de sacas, com queda de 3,6% ante as 146,8 milhões de sacas registradas em 2013/14. Houve queda tanto nos volumes colhidos de arábica, em 3,7%, como de robusta (3,6%), resultantes das condições climáticas adversas no Brasil e na Indonésia, além do surto de ferrugem na América Central, embora seus efeitos tenham sido menores em relação ao ciclo 2013. Apenas os suaves colombianos apresentaram recuperação, dadas as perspectivas de crescimento da produção de café naquele país.

A queda dos volumes produzidos vem acompanhada de significativa retração de estoques nos países produtores, principalmente no Brasil, devido ao aumento dos fluxos de exportação. De acordo com o último informe estatístico do Ministério da Agricultura, as exportações brasileiras totais de café (verde e industrializado) atingiram 36,74 milhões de sacas em 2014, volume 14,8% superior ao de 2013. A receita cambial também apresentou expressivo crescimento, de 26,3%, resultando em US$ 6,66 bilhões no ano. Com isso, o café consolidou-se como o quinto principal produto da pauta de exportações do agronegócio do Brasil, sendo responsável por aproximadamente 7% das divisas geradas por esse setor.

No tocante ao câmbio brasileiro, não houve variação significativa no acumulado da semana. Até a quarta-feira predominava a tendência de valorização do real, mas ontem o dólar fechou em alta, praticamente zerando as perdas, a R$ 2,6422.

O vencimento março do Contrato C, negociado na bolsa de Nova York, foi cotado, na quinta-feira, a US$ 1,7665 por libra-peso, acumulando queda de 340 pontos em relação ao final da semana passada. Na ICE Futures Europe, o vencimento março/2015 dos futuros do café robusta encerrou a sessão de ontem a US$ 1.998 por tonelada, com ganhos de US$ 35 desde a última sexta-feira.

As perspectivas de menor produção de robusta no Vietnã nesta temporada e a tendência de seus cafeicultores retraírem as vendas, auxiliados pela oferta de crédito mais barato para a estocagem, têm sustentado as cotações da bolsa londrina. Segundo a Agência Safras, a colheita da temporada 2014/15 está quase finalizada no país asiático e os produtores venderam apenas 15% da safra até o final de dezembro, em comparação a 22% no ano anterior.

Quanto ao mercado físico brasileiro, os negócios apresentaram baixa liquidez, já que os produtores seguraram as vendas aguardando novas valorizações nos preços do café. Ressaltamos que, dadas a elevada volatilidade e a incerteza resultante do mercado climático, é importante que os produtores acompanhem seus custos e tenham em mente as margens de comercialização almejadas para garantirem boas vendas. Ontem, os indicadores calculados pelo Cepea para as variedades arábica e conilon foram cotados a R$ 490,22/saca e a R$ 287,13/saca, respectivamente, com variação de -0,7% e 1%.

Nesta semana, o Mapa também divulgou o fechamento do Valor Bruto da Produção do café de 2014. Segundo as estatísticas divulgadas, o VBP da atividade apresentou aumento de 17%, para R$ 16,96 bilhões ante os R$ 14,5 bilhões alcançados em 2013. Como esse é um indicador da geração de renda de uma atividade, concluímos que a alta dos preços no ano passado não foi suficiente para a recuperação das condições financeiras dos produtores, já que, em 2011 e 2012, o VBP do café superou os R$ 20 bilhões. Esse fato, aliado ao aumento dos custos, reforça a necessidade do planejamento e da implementação de uma política cafeeira de longo prazo, que garanta renda à produção e a posição do Brasil como o principal fornecedor do produto no mundo.

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Fonte: CNC

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