Café: Exportadora Stockler analisa situação de cafezais, mas se abstém de divulgar estimativa para o tamanho da safra brasileira
Depois de enfrentar calor excessivo e estiagem prolongada, que não são comuns para o início do ano, as lavouras de café de todo o país registram perdas em maior ou menor quantidade. Alguns produtores e sindicatos rurais estimam perdas grandes em sua produção, enquanto órgãos do setor se abstêm de emitir estimativas para o tamanho da safra brasileira antes do início das colheitas.
A Stockler, uma das maiores exportadoras de café do Brasil, e membro da do grupo Neumann Kafee, divulgou um relatório em que analisa a situação dos cafezais nas principais regiões produtoras do país, mas também não divulga uma previsão para o tamanho da safra.
O estudo foi realizado entre os dias 27 de janeiro e 28 de fevereiro deste ano, e foi concluído no dia 7 de março. O Notícias Agrícolas teve acesso ao documento e reproduz seu conteúdo, traduzido para o português e resumido, abaixo:
Relatório da Exportadora Stockler - Estimativa para safra 2014
Viajamos ao longo do Cerrado, Mogiana, Sul de Minas, Zoa da Mata e Espírito Santo, totalizando mais de 4.000 Km. A viagem teve de ser estendida por mais alguns dias para cobrir melhor toda a extensão de regiões produtoras. Fizemos algumas mudanças nos métodos de contagem para aumentar o número de observações de 216, feitas no ano passado, para 410 este ano.
As diferentes estimativas de safra publicadas pelo mercado variam entre 46 até 57 milhões de sacas no momento, mesmo diante da atual seca. A área total de café por região, percentual de área em produção e “outras áreas” de produção, que totalizam alguns milhões de sacas, são fatores de grande influência no resultado de qualquer estimativa.
É por isso que nos abstemos de publicar um número com base em nossas observações. Apesar disso, estimamos um volume abaixo das 50 milhões de sacas, com o volume de arábica acima das 30 milhões de sacas.
Os efeitos da seca e do calor
Com base em nossas observações, notamos que:
- a seca teve seus piores efeitos em plantações novas (com até cinco anos) devido a suas raízes menos arraigadas. Plantações mais velhas tiveram um efeito bem menor.
- o efeito mais aparente da seca é o aumento de grãos mal desenvolvidos e “bóias”, além da parcela de grãos que já mostram sinais de que se tornarão “bóias” se as chuvas continuarem deficientes, mas que ainda podem se recuperar se a semente não se soltar do pergaminho.
- as regiões de baixa elevação também sofreram piores danos nas plantas. Principalmente abaixo dos 900 metros, as plantas mostraram sinais de estresse nas folhas e nos grãos com maturação bem antes do tempo.
- em regiões de elevação mais baixa, o efeito mais aparente foi de um crescimento vegetal menor, como a distância menor entre os internódios mais jovens, o que indica um crescimento lento.
- os rumores de um crescimento lento dos galhos, levando a uma falta de três internódios, ainda não podem ser confirmados. Em conversas com produtores, concluímos que um número maior deles podaram suas árvores depois defloradas pouco promissoras e em um período de preços baixos para o café no segundo semestre de 2013, para diminuir seus custos de produção. Como um internódio leva de 25 a 40 dias para crescer, a situação se encaixa no padrão de três internódios faltando.
- Encontramos o “coração negro” muito raramente. No entanto, os riscos de ocorrência do coração negro por conta das sementes secando dentro dos grãos, que ficam pretos, devem ser grandes se não tivermos chuvas suficientes, principalmente em partes do Sul de Minas.
Observações por região visitada:
Sul de Minas
- Três Pontas e Nepomuceno, assim como de Machado a Campestre, são as regiões com produtividade mais baixa e com os efeitos mais visíveis da seca e do calor, com a falta de folhas, folhas amareladas, diminuição do crescimento vegetal e baixas produtividades. Juntas, essas áreas representam 25% do Sul de Minas.
- Campos Gerais e Boa Esperança estão em uma situação melhor que a região já mencionada, além da área entre Varginha e Alfenas. Ambas as regiões enfrentam uma fase de ciclo baixo depois de uma safra cheia em 2013.
- O pior cenário: tememos a possibilidade de mais diminuição de produtividade, principalmente para as plantas mais jovens. Para as 17% de plantas jovens, nós consideramos uma redução de rendimento de 40% para este ano em relação às estimativas iniciais, e para as outras árvores a redução de produtividade pode ultrapassar os 10%.
Cerrado
- Nossas observações não confirmam um aumento na produção de café no Cerrado, ao contrário do que foi divulgado por outras fontes em janeiro. Nós divergimos das informações de um aumento de 20% na produção, pois observamos uma diminuição na produção em relação aos resultados do ano passado.
- Os rendimentos na região estão surpreendentemente baixos. Nós concluímos que as árvores estão cansadas depois de uma safra cheia e devido à diminuição da fertilização em alguns casos.
- A Serra do Salitre, especialmente a microrregião chamada “Abacaxi”, foi a única que apresentou produtividade nos “padrões do Cerrado”, com uma média acima das 40 sacas por hectare. A produtividade em Araguari e Monte Carmelo já estão bem abaixo desses níveis, enquanto Patrocínio, Patos de Minas e Alto Paranaíba tiveram resultados frustrantes, com produtividade abaixo das 24 sacas por hectare.
- Devido a um alto nível de irrigação e uma seca um pouco menos severa (em relação às outras regiões) nosso pior cenário para o Cerrado é de uma redução de 5% na produção, principalmente nas áreas ao norte de patrocínio até Coromandel, onde os solos são mais arenosos e a umidade parece ser mais baixa que em outras áreas.
Mogiana
- A produção na região de Mogiana, como um todo, parece promissora e Alta Mogiana tem uma situação especialmente melhor, com uma produtividade média de 27 sacas por hectare, com os maiores rendimentos ao norte de Franca (Pedregulho, etc).
-A produtividade em Baixa Mogiana é mais promissora em Caconde e próximo de Poços de Caldas, enquanto São Sebastião da Gama teve maior ocorrência de seca e registra menor produtividade.
Arábica - Zona da Mata e Espírito Santo
- A queda na produção é mais nítida na Zona da Mata, depois de uma colheita cheia em 2013. Embora as atividades de poda, diferente do Sul de Minas, não foram significativamente maiores do que em outros anos, as árvores estão dando poucas cerejas.
- A produção de arábica no outro lado da Serra do Caparaó, no Espírito Santo, também está diferente. O rendimento está baixo em relação aos patamares brasileiros, mas as chuvas retornaram mais seco para a região, por isso a seca terá um impacto limitado.
- Em áreas ao sul da Zona da Mata - Divino, Pedra Bonita… - o crescimento vegetal está fraco e os efeitos da seca são aparentes. Nas regiões central e norte – Manhuaçu e Caratinga – nós encontrados um forte padrão de ciclo baixo.
Conilon - Espírito Santo
- Observamos uma redução de produtividade em áreas onde a produção não é tão intensa, como em Linhares, Sooretama ou na região montanhosa próxima ao Rio Bananal e Vila Valerio. Ao norte, a produtividade foi reduzida para 31 sacas por hectare, sendo que a média é de 43 sacas por hectare para Linhares e região do Rio Bananal. No sul, a produtividade poderá ficar até abaixo das 30 sacas por hectare.
- Nós também estimamos boa produtividade na Bahia e no Espírito Santo. Também estimamos que há mais Conillon plantado na Bahia do que foi divulgado pela Conab, enquanto em Rondônia, a produtividade se mantém baixa, com uma área plantada menor.
* As estimativas foram baseadas em observações feitas entre 27/01 e 28/02/2014. Para reporte e estimativa, confiamos e contamos com resultados e os cálculos da Unidade Estatística NKG, que deverão ser publicados este mês.
Santos, Março, 7 2014