"Valorização do real faz da carne brasileira a mais cara do mundo", mostra Estadão

Publicado em 13/12/2009 05:21 e atualizado em 13/12/2009 08:28
Arroba sobe de US$ 25 para US$ 44 e faturamento do setor cai 22%, por José Maria Tomazela, em O Estado de S. Paulo (edição deste domingo)


A carne bovina brasileira passou a ser a mais cara do mundo, mas isso não impede que o setor enfrente uma de suas crises mais graves. A valorização do real em relação ao dólar elevou o preço da arroba brasileira, historicamente cotada em US$ 25, para US$ 44. Com isso, o País perdeu competitividade ante outros exportadores, como Austrália, Argentina e Uruguai. 


A redução nas exportações, sobretudo de cortes mais valorizados, por causa da crise internacional, provocou uma queda de 22% no faturamento do setor e teve influência na redução do Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio, segundo a Federação de Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato). "Perdemos o mercado europeu, que era o que mais remunerava, pois levava só filé mignon e carne de primeira", disse o pecuarista e consultor da Famato, Luiz Carlos Meister.

Os efeitos ainda são sentidos no campo. Somente em Mato Grosso, seis unidades frigoríficas estão paradas. Outras nove que também suspenderam os abates voltaram a operar depois de serem absorvidas por outros grupos. Em Mato Grosso do Sul, 11 unidades frigoríficas continuam com o abate suspenso ou reduzido. 

No Estado de São Paulo, pecuaristas tradicionais veem com preocupação a forte redução na renda. De acordo com o criador de gado de elite José Fernandez Lopez Netto, vice-presidente do Sindicato Rural de Itapeva, o preço da arroba do boi recuou de mais de R$ 90 para a faixa de R$ 75. "Os preços de insumos, minerais e medicamentos não caíram na mesma proporção."

Segundo ele, o pecuarista pagou caro pelo bezerro e a relação de troca, na venda, não é boa. "O produtor vê o mercado frouxo e investe menos em genética." Muitas empresas de genética bovina do sudoeste paulista estão paradas. "A renda da pecuária caiu tanto que, para o criador conseguir salário igual ao de um soldado, precisa manter 300 vacas." Ex-presidente da Associação Paulista de Criadores de Gado Pardo-Suíço, Lopez Netto vê a atividade encolher no Estado.

"Muitos criadores arrendaram o pasto para usina de cana." No setor de frangos e suínos o faturamento diminuiu, respectivamente, 18% e 14% este ano. Segundo a Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs), a queda nas exportações de janeiro a outubro deste ano foi de 29%. Os volumes embarcados tiveram pequeno crescimento em relação a 2008, mas os preços ficaram muito abaixo. 

Para o presidente da Abipecs, Pedro de Camargo Neto, o real valorizado é um dos principais fatores da perda de rentabilidade dos produtores. Ele defende intervenção do governo no câmbio.

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Fonte: O Estado de S. Paulo

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