Brasil perde R$ 50 milhões por ano com a exportação de gado em pé, segundo economista (Atualizada)
O que é mais rentável para um país: exportar carne bovina congelada ou animais vivos? A resposta está no relatório intitulado "Desvantagens Econômicas da Exportação Brasileira de Gado em Pé", do economista Dr. Reinaldo Gonçalves*.
Devido à discordância entre produtores, de um lado, e frigoríficos, indústrias de processamento e organizações de proteção animal, de outro, surgiu a necessidade de se fazer um levantamento econômico para responder à pergunta acima. O estudo, que traz dados muito recentes, é claro:
"A exportação de gado para o abate é uma atividade retrógrada que traz inúmeros prejuízos para a economia brasileira. Assim como a exportação de qualquer matéria-prima, faz com que o país deixe de gerar empregos e renda, e arrecadar tributos. Por outro lado, o desenvolvimento da cadeia produtiva da carne e do couro, com a exportação de produtos industrializados, geraria maior entrada de divisas no Brasil." (página 14)
Além das perdas econômicas com a exportação de gado - da ordem de 14% a 27% quando comparada com a exportação de carne congelada/resfriada, couro e subprodutos -, existem diversos outros fatores que devem ser levados em conta, pois exportar gado em pé também causa sofrimento animal, alta taxa de mortalidade do gado, lesões, diminuição da oferta doméstica e redução da qualidade da carne, além da redução do valor agregado, da arrecadação tributária e dos empregos no Brasil.
Apesar disso, recentemente houve uma alta nas exportações de bovinos, o que retarda ainda mais a entrada do Brasil na categoria de país exportador sustentável.
"O desempenho no passado recente não implica necessariamente trajetória futura com tendência sustentável." (página 18) "A superação do subdesenvolvimento requer a ruptura com o modelo de economia primário-exportadora." (página 7)
No mercado internacional, o preço médio da carne congelada é duas vezes maior do que o preço médio do quilograma do bovino vivo. É hora de o país começar a pensar no que está perdendo e também na qualidade ética da carne. Não há justificativa para animais serem transportados por longas distâncias, por terra e por mar, em jornadas de três semanas ou mais e em situações precárias, que comprometem profundamente seu bem-estar.
Para Ingrid Eder, Gerente de Campanhas da WSPA - Sociedade Mundial de Proteção Animal, organização que solicitou o levantamento econômico em questão, as soluções são simples e viáveis:
- É preciso substituir a exportação de animais pela exportação de carne, couro e subprodutos; criar legislação que estabeleça o tempo máximo de transporte dos animais; e abater os animais o mais próximo possível do local onde eles foram criados. Todo esse processo pode ser feito num período de apenas 3 anos, evitando perdas econômicas e sofrimento animal, e gerando milhares de empregos.
*Professor titular de Economia Internacional do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro dese 1993, Doutor em Economia pela University of Reading (Inglaterra, 1986) e Mestre em Economia pela FGV (1976). Especialista em Economia Internacional, participou e participa como membro/colaborador de diversas organizações relacionadas ao assunto, como BNDES, Nações Unidas (UNCTAD), Conselho Regional de Economia, entre outras. Autor de mais de três centenas de trabalhos publicados em 21 países, escreveu 9 livros, é co-autor de 5, e tem capítulos em mais de 30 livros.
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