Pecuaristas se preparam para o início da entressafra do boi em Goiás
A pecuária de corte se mantém como uma das protagonistas da economia do país no cenário do agronegócio. Dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA) apontam que a comercialização da carne bovina representa 9,1% do total das vendas externas do agronegócio brasileiro neste bimestre. E a expectativa para 2021 é que a demanda internacional continue aquecida.
Em Goiás, no primeiro bimestre do ano, os resultados mostram uma expansão das exportações de carne bovina, puxada pela demanda chinesa, como aponta o mais recente levantamento do Agro em Dados, da Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa). Segundo a Seapa, de janeiro a março de 2021, a agropecuária contribuiu com 74,5% das exportações totais em Goiás, com mais de 1,3 bilhão de dólares.
Para o estado continuar se destacando na atividade, já que ocupa a quarta posição do ranking de exportação nacional, a atenção do produtor rural deve estar redobrada nas próximas semanas, período em que inicia a entressafra do boi. Nesta época a chuva diminuiu e pode causar alguns entraves na produção, como avalia o veterinário João Bosco Bittencourt.
Segundo ele, o que mais atrapalha o produtor rural na seca é, em sua maior parte, a disponibilidade de pastagem. “A qualidade desta pastagem pode, em alguns casos, comprometer até o fornecimento de água que, muitas vezes, é feito em cacimbas e aguadas naturais”, diz.
De acordo com João Bosco, para que isso possa ser evitado o produtor rural deve fornecer água de qualidade e em quantidade suficiente para os animais o ano todo e melhorar o manejo de pastagem. Mas, apenas isso não basta, um outro fator determinante para garantir que a produtividade do gado continue alta nos próximos meses é o planejamento.
Quem se planeja sai na frente
O produtor rural e estudante de agronomia Thiago de Freitas, de Bela Vista de Goiás, é daqueles que se preparam com antecedência, pois para ele o planejamento entra como estratégia para fugir das oscilações de preço e assim realizar boas compras.
Ele acredita que a atividade da pecuária é baseada na relação de compra e venda. “Se conseguirmos fazer uma boa compra, consequentemente teremos um custo de produção menor, e para isso acontecer é preciso ter planejado. Se compramos antes da maioria das pessoas, normalmente teremos um preço mais reduzido”, acredita Thiago.
Outro ponto importante para o produtor é ter um estoque de forragem e balancear a nutrição animal. Em sua propriedade, ele conta que a nutrição é diferenciada porque nessa época do ano o capim já perdeu a qualidade. “Então temos que suplementar a falta de nutrientes para o animal. No sistema de cria, para a nossa vacada fornecemos um sal mineral proteinado com ureia, já para bezerrada de recria é oferecido um proteinado de baixo consumo de 0,1%”, conta.
O veterinário João Bosco avalia que ter em mente esse planejamento antes da entressafra é de extrema importância para a eficácia de uma boa gestão. Planejar, segundo o especialista, significa traçar metas e objetivos para a atividade desempenhada pelo produtor, seja ela de cria, recria ou engorda dentro da fazenda.
João Bosco pontua que é com base no planejamento que o pecuarista consegue avaliar as tomadas de decisões importantes que podem levar ao sucesso ou fracasso da atividade. “O que a pecuária, de modo geral, nos mostra é que os produtores que não estão de fato preparados e não fazem um planejamento mínimo estão fadados a permanecer por pouco tempo na atividade, pois se não venderem a propriedade, serão arrendados” alerta o especialista.
Mas quando começar a planejar?
O engenheiro agrônomo e mestre em zootecnia, Luiz Antônio Monteiro, atua na atividade há mais de 30 anos. Ele avalia que nunca é tarde para ter um bom planejamento, pois é por meio dessa estratégia que serão sanados os erros do passado. “Mas, pensando na época mais desafiadora para os animais de produção, no caso os bovinos, já estamos atrasados. Pois o período das águas também é a época que temos para nos preparar para as adversidades que a seca nos proporciona”, alerta o especialista.
O planejamento deve ser sempre feito buscando as melhores oportunidades de minimizar os gastos e aumentar os lucros. Monteiro ainda dá algumas dicas para quem quer garantir o bom desempenho da atividade também na entressafra. “O que sempre deve ser levado em consideração é o fluxo de caixa da fazenda, pois ali está a saúde do negócio”, orienta o mestre em zootecnia.
Ele acrescenta ainda que é preciso também ter boas ferramentas tecnológicas à disposição, pois assim o produtor consegue criar uma previsibilidade e reduzir os riscos produtivos. “Já em relação à pastagem, devem ser observados a vedação, controle de pragas e lotação adequada. E é claro, a nutrição ideal para cada categoria animal”, finaliza Monteiro.