Produtores vêem uma pecuária mais curta em algumas regiões e que pode se estender para 2020
Nesta porta de entrada da safra de bois de 2019, a visão quase generalizada é a de que deverá haver um encurtamento de animais em todas as etapas da pecuária, com poucas exceções regionais. Ainda que não haja uma mensuração estatística organizada, a observação corrente – e não menos importante por tratar-se de empresários que vivem o negócio – sobre a menor disponibilidade aponta para uma tendência de firmeza da @, naturalmente balizada pelo alcance do consumo.
O ciclo que pode estar se iniciando vem carregado pelo excesso de abate de matrizes, vindo desde o segundo semestre de 2017 e acentuado no primeiro semestre de 2018, com a conseqüente menor oferta de bezerros. E nessas condições, até para 2020 poderá haver menos animais prontos.
No boi magro para a reposição também os pecuaristas ouvidos por Notícias Agrícolas vêem muita disputa. Igualmente este ano se caracterizou por muita matança agravada pela seca prolongada na maioria das regiões produtoras junto com comida cara para confinamento para a maioria dos produtores, o que deverá deixar um rebanho pronto menor nos próximos 2 a 3 meses, mesmo com os pastos já fartos pelas águas.
Goiás
Fábio Carneiro, invernista no Vale do Araguaia, confere também “uma inversão de ciclo”. Sai a oferta e entra em cena a menor quantidade de animais.
Com os pastos em boas condições, o pecuarista passou dezembro segurando dois lotes para vender em janeiro, ou até na virada de fevereiro, esperando uma melhora dos preços e pela dificuldade das indústrias encontrarem animais prontos em quantidade. O mês terminou na região dele a R$ 140/142. Mas conseguiu um negócio a R$ 147 em lote de 150 animais Europa nesta quinta (27) para embarcar logo dia 2.
Bezerro e boi magro são artigos caros observados por Renato Esperidião. “Realmente o que todos por aqui comentam é uma alta principalmente do bezerro, devido à redução de plantel pelo abate de matrizes”, diz este outro produtor goiano.
Mas ele acredita em maio segurança do viés de alta da @ somente no 3º bimestre, coincidindo com a chegada da entressafra.
Mato Grosso
Confirmando o que dissemos no início, Luciomar Machado, de Pontes e Lacerda, notou que “durante a entressafra os frigoríficos fizeram escalas com facilidade”. Ou seja, o abate de fêmeas e de bois para aqueles sem capital de giro vai ser sentido cada vez mais.
E também, segundo Machado, uma mudança de gestão dos grandes produtores, adiantando a safra com semi ou confinamento, e plantando soja neste período das águas.
Com alta também na reposição.
“Os frigoríficos estão ligando para travar boi até março, com primeira oferta a R$ 140”, completa o pecuarista.
No Norte do Estado, onde a cria ainda predomina, Carlos Dias, de Sinop e Alta Floresta, garante que a “reposição está difícil para quem compra”. E desmama farta só para março e abril.
Em Canarana, no Leste do Estado, Marcos Jacinto, diretor-regional da Acrimat, ainda não vê nenhuma mudança, acreditando, portanto, em perfil normal de oferta, regulada com a de 2018.
Neto Gouveia, de Cáceres, um dos maiores rebanhos do Mato Grosso, analisa a situação “ainda meio confusa”, depois das boas chuvas de novembro e o tempo mais seco de dezembro. Além disso espera ver o comportamento dos preços do milho mais na frente.
Mato Grosso do Sul
Neste outro importante plantel nacional, pelo menos em Três Lagoas “a seca foi mais intensa e houve casos de morte de animais e mortes de capim, mas nada foi estatisticamente mensurado”, explica Marcos Garcia.
Ex-presidente do Sindicato Rural da cidade, ele já vê a situação absorvida e com as chuvas normalizadas, qualquer alteração “virá mais pela mudança de ciclo”
Em parte do ano, o abate de fêmeas se deu pela desvalorização da reposição, de acordo com Garcia, mas as últimas que estariam saindo agora, “baratas”, são as últimas. “Mas o que irá confirmar a mudança de ciclo será o aumento do consumo interno 2019, que irá valorizar a @ e com isso começar a faltar bezerro para reposição”, finaliza ele.
Paraná
Na principal região pecuária do Paraná, o Noroeste, as indicações igualmente são de valorização, com algumas nuances mais particulares.
Os grãos não estavam tão presentes nas áreas próximas a Paranavaí, mas com o aumento do plantel de suínos e aves, houve uma disputa maior pela terra de pastagens. E nisso Lineu Gonçalves atribui parte da redução do plantel.
Naturalmente iterligando com o “desânimo de muitos pecuaristas com a baixa rentabilidade”.
Quem permaneceu no negócio, cortou melhoria das pastagens, reduziu reposição e abateu fêmeas, avalia o produtor, que está no ciclo completo.
A @ transitou em dezembro a R$ 158. Embora valores superiores a São Paulo, com propriedades menores e necessidade maior de complemento alimentar, os custos no Estado são elevados.
Pará
Com muita chuva, regular e iniciada mais cedo, o Pará vai entrar os primeiros meses do ano como a principal exceção: muita oferta.
De acordo com Maurício Fraga, presidente da Acripará, entidade que reúne os produtores, “tem muito gado e vem pressão nos preços”.
O rebanho local é de 21 milhões de cabeças, aproximadamente, e ainda há muita procura por fêmeas para reprodução, inclusive devido à melhora do plantel.
“Mas esta é uma questão importante, pois se essa tendência aumentar pode faltar fêmea para abate. Aí os preços podem subir”, informa Fraga.